Adeus plástico? Se calhar não é bem assim…

Adeus plástico? Se calhar não é bem assim…


A guerra ao plástico tem percorrido o mundo e já fez correr muita tinta. Há muito tempo que a luta para que se acabe ou se reduza drasticamente este material tem sido cerrada. Mas será que o fim do plástico está à vista? Dificilmente.


Quem o diz é a Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP), que considera que “o uso de materiais como o papel, ou outros, em alternativa ao plástico tem sido marginal”. “No nosso entender, tratam-se de ‘modas’ que tentam alavancar algumas perceções infundadas ‘anti-plástico’ em negócios de nicho”. 

Até porque, garantem, “a indústria dos plásticos tem vindo a crescer significativamente e tem já uma dimensão considerável na realidade nacional, representando uma fatia importante da economia portuguesa. O setor gera um volume de negócios de 5 mil milhões de euros, correspondendo a 2,4% do PIB [Produto Interno Bruto] português”.

Segundo dados de 2018, a APIP avança que o setor do plástico em Portugal é composto por cerca de mil empresas, empregando perto de 23 mil trabalhadores. 

E apesar do ‘cerco apertado’ ao plástico e de várias medidas já adotadas pelo Governo, supermercados ou outras empresas, a associação ainda não tem conhecimento de empresas afetadas. Mas não coloca essa hipótese de parte. “Uma parte do setor poderá ser afetado por algumas medidas que têm sido tomadas. Considerando que 99% do tecido empresarial é composto por pequenas e microempresas que, tipicamente, reagem com mais dificuldade a alterações legislativas prejudiciais à sua atividade”.

Produção deve quintuplicar até 2050 A APIP garante ainda não ter “informação relevante relativamente a quebras”. “Na verdade, segundo a organização PlasticsEurope, prevê-se que a produção mundial de plástico quintuplique até 2050”, avança ainda a APIP, que garante também que “as aplicações em plástico têm acompanhado as crescentes exigências do mundo atual, considerando que o plástico é o material por excelência (devido às suas características intrínsecas) usado em praticamente todas as áreas como a saúde, construção, alimentação, mobilidade, etc”.

Outro fator que a APIP considera importante é o facto de o futuro da indústria do plástico já estar a ser construído na base da economia circular, “onde a reciclagem e a reutilização são palavras de ordem. Os players da indústria em Portugal querem ser parte da solução no combate aos resíduos de plástico, que são ainda fruto de uma sociedade que necessita de desenvolver a sua consciência ambiental, promovendo o uso responsável do plástico”.

Para a associação é ainda importante contornar toda esta situação através da desmistificação, informação e formação à sociedade “não só sobre os méritos económicos e ambientais do plástico, mas também sobre a importância de saber dar um fim de vida correto aos plásticos”.

E é neste sentido que a associação considera que a substituição do plástico por outros materiais alternativos tem que ser “cuidadosamente analisada caso a caso”. “São raras as aplicações em que uma alternativa ao plástico é mais eficiente dos pontos de vista económico e ambiental. Acrescentamos que o setor está empenhado em demonstrar que a pegada ambiental do plástico é de facto menor do que a de outros materiais. Nesse sentido, podemos afirmar com segurança que a indústria do plástico continuará a ser uma indústria cimeira no futuro desenvolvimento dos países, mesmo que por vezes um tipo de debate público desinformado e demagógico coloque em causa o seu papel”.

Projeto aprovado não surpreende O projeto de lei do Partido Os Verdes aprovado recentemente por unanimidade e, que diz que a partir de junho do próximo ano vão ser proibidos os sacos de plástico, que embalam as frutas e legumes, não surpreende a APIP “considerando o populismo com que é tratado este tema”. Ainda assim, contesta a decisão porque, no seu entender “ficaram de fora os factos que comprovam que os sacos de plástico têm menos pegada ambiental que sacos de outros materiais”, dando como exemplo o estudo da Agência de Proteção Ambiental da Dinamarca e o estudo do Governo do Quebeque, no Canadá.

Para contornar esta situação, a APIP pretende agora colaborar na discussão da especialidade que ainda vai decorrer. “Trabalharemos no sentido de esclarecer os senhores deputados da Assembleia da República com estudos e dados científicos que comprovam os méritos ambientais do material plástico face às alternativas existentes”, prometem. 

Mas a proibição definitiva de todo o material de plástico descartável – como as palhinhas, cotonetes, pratos e talheres, etc – obrigará a indústria a procurar outros mercados onde tais proibições não existam e já se fala que África e a América Latina serão as alternativas mais viáveis.