A expressão original é anglo-saxónica e talvez em inglês seja realmente mais engraçada, mas vamos tentar dar-lhe esse cunho também em português: época após época, Vítor Oliveira vai fazendo parecer que subir equipas à i Liga, para ele, é realmente apenas mais um dia no escritório. É verdade que o Paços de Ferreira ainda não tem a subida garantida – uma questão de mera aritmética, ainda assim: falta apenas uma vitória (ou três empates) nas últimas cinco jornadas para o conseguir. Alguém tem alguma dúvida que acabará por acontecer? Pois.
Será a 11.a subida ao escalão maior do futebol nacional para o técnico nascido há 65 anos em Matosinhos. Só nos últimos sete anos foram seis – e não foram todas de seguida porque, na época passada, resolveu fazer um pequeno desvio na sua rotina e aceitou o convite do Portimonense para liderar a equipa na i Liga, conseguindo um tranquilo décimo lugar. Arouca, Moreirense, União da Madeira, Chaves, Portimonense e, agora, o Paços juntam-se ao Leixões, em 2006/07, e a Belenenses, União de Leiria, Académica e outra vez Paços de Ferreira nos anos 90. Isto, a juntar à subida do Maia da iii para a ii divisão em 1988/89…
Uma questão de estatuto Mas, afinal, onde estará o segredo de Vítor Oliveira? Foi esta a pergunta que o i decidiu fazer a um atleta que viveu por dentro uma dessas épocas gloriosas: no caso, a do Portimonense em 2016/17. “Em primeiro lugar, é preciso dizer que o míster Vítor Oliveira ganhou já um estatuto na ii Liga que lhe permite escolher os jogadores com quem quer trabalhar. O clube tem de os ir buscar, senão ele não aceita o convite. E só aí já está um degrau acima dos outros todos – mas os clubes só fazem isso pelo estatuto que tem e que ganhou ao longo da carreira”, realça Luís Zambujo, extremo formado no Benfica e que com Vítor Oliveira passou a fazer toda a ala direita nessa campanha vitoriosa dos homens de Portimão.
Há mais, porém, ressalva o atual jogador do Louletano – também ele com larga experiência de subidas de divisão: antes do Portimonense, já tinha subido também à i Liga pelo Belenenses, em 2012/13, e voltou a estar presente no regresso do histórico Farense à ii Liga na última temporada. “É um treinador especial. Conhece todos os jogadores: ii Liga, i, distrital, conhece toda a gente! Sabe os pormenores, como o jogador se vira, o defender à esquerda, à direita, se é mais forte em bolas bombeadas, em bolas em profundidade, se ataca melhor a bola ao primeiro poste por cima ou por baixo… Porque já apanhou, se calhar, 80% dos jogadores destas divisões e conhece os seus segredos, as virtudes e os pontos fracos. E depois, em termos de treino, é muito exigente: enquanto o exercício não for como ele quer, não saímos do campo!”, graceja o extremo/lateral de 32 anos.
Para Luís Zambujo, o grande segredo de Vítor Oliveira… é ser Vítor Oliveira. “É uma raposa velha, conhece toda a gente – os próprios árbitros têm respeito por ele. Nos estádios, os adeptos adversários ou têm um respeito enorme ou massacram-no com insultos, porque a estrela da equipa é ele. É sinónimo de subida: quem o vai buscar tem logo à partida 90% de hipóteses de subir de divisão”, frisa Zambujo, lembrando também o adjunto Mário Nunes: “É um dos segredos do míster Vítor Oliveira. No trabalho de campo, na preparação física, na ligação ao atleta, nos conselhos que pode dar, nos trabalhos de casa que dá aos jogadores – por exemplo, à sexta-feira dava-me o relatório completo do jogador que eu ia apanhar pela frente nesse fim de semana. Adorei trabalhar com eles”.
Famalicão mais segundo Mas não são só os pacenses a ver a festa bem próxima: nesta jornada, também o Famalicão ficou com as portas do regresso à i Liga (onde não está desde 93/94) abertas de par em par. Numa verdadeira final antecipada, o conjunto minhoto bateu a Académica (2-0) e viu ainda o Estoril cair no S. Luís, em Faro (perdeu 3-1 com o Farense): são agora oito os pontos que separam famalicenses e estudantes, com os canários a nove. E é ali, em Vila Nova, que parece morar um novo aspirante a rei das subidas – ou, vá lá, a príncipe, que ainda é preciso muito para chegar aos calcanhares de Vítor Oliveira.
Carlos Pinto, refira-se, não foi o timoneiro inicial desta nau famalicense. Aliás, chegou apenas há três jornadas, substituindo um Sérgio Vieira que esteve durante praticamente toda a prova em segundo, só atrás do Paços, mas que deu a ideia de estar a soçobrar na fase decisiva – entre as jornadas 24 e 26 somou um empate e duas derrotas, estas consecutivas e diante de adversários do fundo da tabela (Braga B e Covilhã), e viu a Académica ficar a apenas dois pontos.
A direção sentiu a subida a fugir e decidiu fazer uma alteração no comando técnico, entregando-o ao homem que havia iniciado a época de forma periclitante… na Académica. Aliás, não deixam de ser curiosas as palavras de Carlos Pinto após o triunfo sobre os estudantes: “A Académica está hoje muito mais forte com João Alves do que estava com Carlos Pinto. O João fez um trabalho fantástico” – quando o agora técnico do Famalicão saiu de Coimbra, a Académica tinha apenas uma vitória em cinco jogos e estava muito perto da zona da descida. Em Vila Nova de Famalicão, todavia, Carlos Pinto é por agora sinónimo de triunfos: são três, noutros tantos jogos, e o aumento da distância para Briosa e Estoril.
Mas dizíamos que o técnico de 46 anos, antigo médio ofensivo (chegou a jogar na i Liga por Salgueiros e Paços de Ferreira), começa já a rondar o epíteto de príncipe das subidas. E explicamos porquê: é que esta, a consumar-se, será já a terceira da sua carreira – segunda consecutiva. A primeira (2013/14, no Freamunde) foi do Campeonato Nacional de Seniores para a ii Liga; a segunda aconteceu na época passada, quando devolveu o Santa Clara ao escalão principal após uma ausência de 16 anos. Em 2014/15 iniciou a temporada no Tondela, que viria a sagrar-se campeão da ii Liga, mas foi substituído após 16 jogos por Quim Machado; acabaria por assumir o comando do Chaves e falhar a subida por um golo para o União da Madeira… de Vítor Oliveira.