Seca. “Será necessário chover até ao final de abril” para reverter situação

Seca. “Será necessário chover até ao final de abril” para reverter situação


Com a chegada do fim de semana, chegou também a chuva. No entanto, especialista diz ao i que estes dois dias a chover pouco ajudarão para combater a seca.


É preciso chover durante as próximas semanas para que a situação de seca que o país atravessa se reverta. Quem o defende é Nuno Sequeira da Quercus. 

“Vimos de um período de seca já com alguma gravidade”, começa por explicar o responsável ao i, acrescentando que no mês passado já “mais de um terço do território nacional estava em situação de seca severa – sobretudo o Sul do país – e quase metade em seca moderada”. O panorama é grave, defendeu.

Questionado se a chuva que se fez sentir durante o fim de semana poderá de alguma maneira mudar esse cenário, Nuno Sequeira foi claro: “O que esta chuva pode estar a fazer é começar a amenizar a situação”. No entanto, deixou o alerta de que se as condições meteorológicas dos últimos dois dias não se prolongarem “por mais algumas semanas” dificilmente a situação de seca será revertida.

O especialista revelou ainda que a chuva que caiu este fim de semana ajudou a melhorar a camada superficial do solo, o que permitirá dar “alguma frescura ao solo para suportar plantas com raízes mais superficiais”. Mas voltou a frisar que esta chuva ainda “é algo muito incipiente”.

 Algumas estimativas “dão conta de que seria necessário chover no mês de abril o dobro da média habitual para que o país” mudasse esta situação de seca, sublinhou. Feitas as contas, para reverter o panorama atual “será necessário chover até ao final deste mês”, ou seja “mais três semanas de chuva”.

No entanto, mesmo que a chuva continue, Nuno Sequeira não está muito otimista de que isso venha a resolver todos os problemas. Segundo o especialista a chuva não cai de forma homogénea em todo o país e, por isso, vão sempre existir algumas zonas do território – como o Alentejo e Trás-os-Montes – em que mesmo que chova o dobro do normal, os impactos da seca não serão “completamente mitigados”. 

Problemas A falta de água tem repercussões em várias áreas do país. Não são só os solos que são afetados por este problema. Ao i, Nuno Sequeira diz que a seca tem impactos na quantidade de água que é armazenada nas barragens – que depois é utilizada para vários fins, entre eles o abastecimento humano, produção de energia hidroelétrica e a rega de culturas de regadio.

“Os reflexos são vários, temos problemas grandes a nível de atividades económicas” que dependem da água, como é o caso da agricultura. 

E os efeitos já se estão a fazer sentir. Segundo Nuno Sequeira, as produções agrícolas já estão a ser muito afetadas e o pasto dos animais também já está a deixar de ser suficiente para os alimentar. “Há duas semanas tivemos em Mértola e a situação já estava a ser dramática porque a erva estava a despontar, mas estava muito fraca e os animais estavam a ter alguma escassez de comida”, contou. 

Contudo, o problema da seca já não é novo: desde 2017 que o país se tem debatido com estes problemas. “Os níveis de água estão muito baixos ainda” e a esperança para que tudo melhore é de que a chuva continue a cair, admitiu Nuno Sequeira.

“O ano passado assistimos também a vários problemas”, disse, acrescentando que um deles foi o facto de muitas plantas jovens não terem nascido devido à falta de chuva. “Este ano também há esse risco”, afirmou.

O responsável disse ainda que muitas das plantações feitas entre outubro do ano passado e março deste ano “ficaram condenadas ao insucesso”, porque há cerca de duas semanas se viveu períodos muito secos, “já com temperaturas, em alguns locais, perto dos 30 graus”. Além disso, as sementes plantadas também não tiveram água suficiente para germinar. E apesar de a chuva que chegou no primeiro fim de semana de abril ajudar a minorar os estragos estes continuam a ser muitos.

Recomendações As previsões são de que os períodos de instabilidade aconteçam com mais frequência. “Vamos ter cada vez mais períodos mais quentes e menos chuvosos”, admitiu. Por esse motivo, além de se poupar água, Nuno Sequeira diz que é necessário que a população se consciencialize perante o problema das alterações climáticas.

“É preciso continuarmos a desenvolver esforços no sentido de fazermos menos emissões de gases com efeito de estufa” – que acabam por fazer aumentar as temperaturas, provocar fenómenos extremos e diminuir os níveis de precipitação. 

Devemos ainda adotar comportamentos mais sustentáveis. Segundo o responsável, todos devem adotar “medidas de poupança energética e de redução do consumo”. Temos de ter “consciência de que vamos ser mais afetados pelas alterações climáticas”. O ambientalista conclui dizendo que é preciso fazer um esforço para combater esse problema. “Este esforço é muito importante”.