António Vaz Carneiro é um dos subscritores do manifesto em defesa de cuidados de saúde de base científica que pede a revogação da regulamentação das terapias alternativas, equiparando-as a atividades como a astrologia. Em entrevista ao jornal i, o médico que dirige o Centro de Estudos de Medicina Baseada em Evidência da Faculdade de Medicina de Lisboa critica a postura do Estado sobre esta matéria. “É o drama da posição politicamente correta”, diz.
Das diferentes terapias, António Vaz Carneiro, que analisa revisões sistemáticas de estudos científicos, diz que apenas existem indícios de benefícios na acupuntura médica na gestão da dor, por exemplo na enxaqueca e dor pós-cirúrgica. E mesmos estes não estão devidamente estudados, considera. “Enquanto não estiver, haverá sempre dúvidas”.
Em relação à homeopatia, é taxativo: “é totalmente inaceitável. São copos de água a 50 euros. A maior parte das pessoas que vai às medicinas alternativas vai por sinais e sintomas benignos que passariam por si só.”
O médico defende que a venda de medicamentos homeopáticos nas farmácias lhes dá "uma credibilidade que não têm" e alerta para o perigo de a procura de terapias alternativas poder levar à toma de produtos que podem ser tóxicos ou atrasar o diagnóstico e tratamento de doenças.
Na entrevista, que pode ser lida na integra da edição de fim de semana do i, o médico alerta ainda para os suplementos multivitamínicos vendidos em espaços televisivos. “O que nos dizem a maior parte dos estudos sobre multivitamínicos é que, tudo o resto sendo igual, as pessoas que os tomam, sendo saudáveis, têm o aumento do risco de mortalidade. É uma evidência modesta mas relevante. Claramente as pessoas acima dos 65 anos que sejam saudáveis não devem fazê-lo”.
Na entrevista, o médico fala ainda dos mitos associados à alimentação, um dos temas do seu novo livro “Mitos e Crenças na Saúde.” Descreve também uma nova etapa na prática médica, em que cada vez mais dados vão poder ser usados para apoiar decisões, com o recurso a grandes bases de dados, programas estatísticos e algoritmos de inteligência artificial. No campo da investigação, Vaz Carneiro diz que a área onde deverá haver mais avanços nos próximos anos é a oncologia. “Vamos ter a cura do cancro nos próximos 10 a 20 anos”, afirma. Com milhares de ensaios clínicos a testar novas moléculas para o cancro, o médico defende que é preciso lançar o debate em Portugal sobre o que é que a sociedade está disposta a pagar daqui para a frente e com que meios.
O cenário é menos auspicioso no estudo das doenças degenerativas do sistema nervoso central, diz Vaz Carneiro, alertando para o desinvestimento da indústria farmacêutica.