A maior diferença da associação mutualista Montepio para com outras entidades de aforro são 620 mil associados. O número de pessoas envolvidas conjugada com os princípios do mutualismo transformam a sua realidade numa instituição de interesse público com um claríssimo efeito sistémico. Não será por acaso que, em abril de 2018, Mário Centeno declarou: “Se formos chamados a ajudar o Montepio temos de estar disponíveis”.
Actualmente o Montepio tem vindo a ser notícia pelos piores motivos numa escalada que, por mais assessorias de comunicação contratadas ou ameaças de processos em tribunal por delito de opinião ou de informação, não se conseguirá travar sem a remoção integral da estrutura de homens de provecta idade que põe e dispõe do Montepio. Tomás Correia não seria o problema que é hoje, se os Estatutos da associação mutualista não tivessem sido desenhados para que o poder fosse exercido de forma totalitária e os actos eleitorais impossíveis de fiscalizar. Tomás Correia não seria o problema que é hoje, se não tivesse ao seu lado pessoas como Vítor Melícias, vistos com bonomia pelas altas esferas do poder, ainda que praticantes de uma cultura institucional própria de outros tempos e não compaginável com as regras democráticas – só nas assembleias do Montepio vi um presidente de mesa, entre risos e larachas, contabilizar abstenções como votos favoráveis à administração.
Sendo que se começa a criar na opinião pública um discurso perigoso e injusto de culpabilização dos associados pela situação da mutualista, importa dar um sinal à sociedade de empenhamento na construção de uma solução para esta importante instituição portuguesa.
Na próxima quinta-feira, dia 28, decorrerá no auditório da Faculdade de Medicina Dentária a sua assembleia geral com dois temas decisivos em agenda. A aprovação das contas de 2018 e a eleição da comissão que procederá à alteração obrigatória dos Estatutos até setembro de 2019. Além da mais que óbvia e prudente necessidade de rejeitar as contas apresentadas, cheias de truques e inconsistências que mais não pretendem que co-responsabilizar os associados pelos desvarios da administração, os associados da mutualista terão a oportunidade de eleger uma Comissão de Revisão dos Estatutos que, de facto, possa garantir uma nova vida, democrática e transparente, à instituição mutualista.
Está claro para toda a gente que os actuais administradores são o principal problema da associação mutualista e que estarão a prazo na instituição. Se a sua permanência é a única forma de tentar negociar uma saída sem custos para os próprios também parece cada vez mais claro que já não entendem como seu problema a imagem da associação e as poupanças dos mutualistas. Quinta-feira teremos a hipótese de começar a redesenhar o futuro desta instituição elegendo outros associados para pensar os Estatutos da associação e que possam transmitir outra serenidade à sociedade em geral. Estou em crer que este futuro passará por encontrar quem se dedique a implementar uma estratégia de credibilidade e transparência para gerir a associação em articulação com o Estado, a partir de um programa de retirada de investimentos em sectores especulativos e de risco para recolocar a associação e o banco como actores centrais na alavancagem de investimentos seguros e de proximidade com os aforradores.