O reconhecimento dos Montes Golã como parte integral de Israel pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abriu novas e mais profundas brechas entre Washington e os seus aliados árabes na região. A uma só voz, a Liga Árabe, reunida para a sua 30.ª cimeira em Tunis, na Tunísia, condenou a decisão norte-americana. “Reiteramos a nossa rejeição categórica das medidas que minem a soberania síria sobre os Golã”, disse o rei saudita, Mohammad Bin Salman, no encontro dos chefes de Estado e de governo.
Além disso, os líderes árabes garantiram que a estabilidade no Médio Oriente depende da criação de um Estado palestiniano, solução há muito defendida. Todavia, a declaração final foi difícil de alcançar, visto os Estados árabes terem inúmeras diferenças entre si e estarem em barricadas diferentes em vários conflitos que assolam a região – acusações mútuas de patrocínio de terrorismo, disputa de influência no Golfo Pérsico e protestos populares. Houve quem não pudesse estar presente precisamente por causa de protestos: a Argélia e Sudão.
Com tantas divisões entre si, o facto de terem concordado em condenar a decisão de Washington relativamente aos Golã mostra como o tema é de extrema preocupação e consensual entre os Estados árabes. E não estão sozinhos no assunto.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, defendeu que qualquer resolução sobre o conflito sírio deve garantir a integridade soberana da Síria, “incluindo os Monte Golã ocupados”. Não é o único europeu a defendê-lo, com a responsável pela política externa da União Europeia, Federica Mogherini, a ter a mesma posição: ignorar as resoluções do Conselho de Segurança sobre os Monte Golã “não é solução”, disse aos líderes árabes na cimeira.
Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel conseguiu derrotar a coligação do Egito, Jordânia, Iraque e Síria, conquistando os Montes Golã. Em 1981, Israel anexou formalmente o território, com o Conselho de Segurança a nunca o ter reconhecido formalmente – o órgão máximo da ONU considera os Monte Golã território “ocupado ilegalmente”.
Desde essa altura que a situação estava congelada, mas tudo mudou com o reconhecimento de Trump de que pertence a Israel, enraivecendo os Estados árabes. Foi o primeiro a fazê-lo e a decisão segue-se à de transferir a sua embaixada de Telavive para Jerusalém, também o primeiro a fazê-lo – o Brasil de Jair Bolsonaro pondera fazer o mesmo.
“Após 52 anos, chegou a altura de os Estados Unidos reconhecerem totalmente a soberania israelita sobre os Montes Golã, que são de importância crítica para o Estado de Israel e para a estabilidade regional”, afirmou Trump no Twitter há uma semana atrás. O presidente disse-o e poucos dias depois fê-lo.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reagiu dizendo que a decisão é “histórica”. “Israel conquistou os Montes Golã numa guerra justa de autodefesa e as raízes do povo judeu nos Monte Golã remontam a milhares de anos”, disse Netanyahu. O líder do executivo israelita enfrenta eleições legislativas a pouco mais de uma semana e a decisão de Trump, que apanhou tudo e todos de surpresa, deu-lhe mais uma vitória para apresentar na política interna. Tudo indica que o líder israelita sairá mais uma vez vitorioso das eleições.
Por sua vez, a Síria acusou Washington de atacar a sua soberania, garantindo recuperar o território “por todos os meios disponíveis”.