Em ano de eleições seria de esperar, por parte dos principais intervenientes da política em Portugal, alguma reflexão séria sobre o país, o modelo de governação, o modelo de desenvolvimento social e económico e, por fim, não menos relevante, o papel de Portugal na Europa e no mundo.
Ao invés, somos diariamente submetidos a um conjunto de atentados e insultos ao cuidado e respeito que a causa pública merece, e a que em tese obrigaria. São os mesmos, sem obra feita e em constante reciclagem, faz muitos anos a governarem de governo em governo (e alguns desses governos são efetivamente de má memória) sem que sejam chamados à responsabilidade pelo dano causado à sustentabilidade económica do país. Como se a presença regular nos governos não bastasse, naturalmente, para premiar a respetiva competência na gestão da qualidade da intervenção do Estado no país, foi necessário reforçar o incentivo à boa gestão, nomeando alguns familiares próximos. Não temos hoje dúvidas de que, para o atual PS, o apelido e o talento para governar têm um elevado índice de correlação. Quero crer que algumas das matérias que o 25 de Abril de 1974 quis terminar diziam respeito a práticas idênticas que o então regime, na altura com mais de 40 anos, levava a cabo. Infelizmente, a História repete-se 44 anos depois. A falta de escrutínio do atual sistema é um atentado ao bom nome da democracia. Essa ausência de escrutínio é extensível a grande parte dos cargos eleitos, com particular relevância dos deputados da Assembleia da República e do Parlamento Europeu, que ninguém sabe quem são nem tão- -pouco e muito menos o que fazem.
Enquanto isso, o país endivida-se a uma intensidade preocupante, garantindo às gerações mais jovens um fardo complicado de resolver. Na verdade, não há em Portugal nenhum político com responsabilidades ao nível dos partidos com assento parlamentar que nos apresente uma visão estratégica para o crescimento económico do país. Não há quem pense essa questão central à qualidade de vida dos portugueses e que passa pelo desenvolvimento e implementação de uma estratégia de fomento empresarial que obrigatoriamente deve ser pensada a alto nível para que envolva sistema de ensino, fontes de financiamento, vontade política e enquadramento internacional. Enquanto isso, e quando assistimos aos debates entre os líderes políticos, verificamos um nível muito básico, quase infantil, no modo como os temas centrais e sérios são relegados para plano inexistente e se debatem matérias altamente corriqueiras como se fossem essas as temáticas centrais. O problema é que em geral, e fruto de um sistema político antiquado e pouco democrático, os nossos líderes políticos não cresceram além da fase boys and girls.
E há solução económica para Portugal? Evidentemente que há! Contudo, esse caminho não poderá nunca ser traçado por quem não tem suficiente arcaboiço de formação, experiência profissional e distância ao sistema instituído. Vivemos um problema crónico na generalizada impreparação que os governantes têm demonstrado ao longo das últimas décadas. A História também aqui teimosamente se repete…
A nossa zona económica exclusiva marítima está na base da nossa grandiosidade territorial, que nos leva a sermos cerca de 6 vezes maiores que a Alemanha. Não há aqui suficientes desígnios e matérias para inovar e explorar, assegurando uma sustentabilidade económica de longo prazo e uma influência política e militar no Atlântico Norte? A mim parece-me que há!
O país necessita de um sistema político e modelo de governação distinto, permitindo que personalidades não profissionais da política, com capacidade de representarem a social-democracia meritocrática, possam aceder ao poder e à governação. Enquanto os políticos profissionais imperarem e porque eles pensam demasiadamente em si, vai ser difícil pensar o país. A alteração do sistema eleitoral é elemento imprescindível a esta evolução.
Meritocrata social-democrata
Gestor, professor de Gestão do ISCTE
Subscritor do “Manifesto: Por Uma Democracia de Qualidade” por uma democracia de qualidade