Graça foi ontem agraciada por Graça. A pintora recebeu ontem das mãos de Graça Fonseca, ministra da Cultura, a Medalha de Mérito Cultural, no mesmo dia em que inaugurou a exposição “Metamorfoses da Humanidade” no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, a primeira grande mostra da artista no coração lisboeta da arte contemporânea. Um reconhecimento que, diz, só pode agradecer. “Para mim foi uma grande surpresa, que recebi com muita alegria. É sempre bom sermos reconhecidos e é muito bom que assim seja por pessoas que estão atentas à arte, como é o caso da ministra da Cultura”, reagiu a artista ao i.
O anúncio da distinção tinha sido comunicado pelo Ministério na quarta-feira. “O mérito do seu percurso na história da arte e da criação portuguesas ao longo de mais de 60 anos, constituindo-se exemplo referencial em Portugal e na história da arte contemporânea europeia, singulariza a escolha de agraciar Graça Morais com a Medalha de Mérito Cultural em nome do Governo Português”, justifica a nota emitida pela tutela.
É a segunda vez que a artista é agraciada com uma distinção. Em 1997, o então Presidente da República Jorge Sampaio concedeu-lhe o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
De Bragança a Lisboa Para a exposição que ontem abriu portas, Graça Morais levou 82 trabalhos, entre desenhos e pintura sobre o papel, onde reflete também sobre crise dos refugiados ou a condição das mulheres, entre outros flagelos da condição humana. Grande parte das obras tinha sido mostrado em 2018 no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança. Alguns trabalhos – pintadas ainda “em agosto ou setembro” do ano passado – são, contudo, inéditos, sendo aqui apresentados ao público pela primeira vez
Se para a carreira de Graça Morais – nascida em Vieiro, Trás-os-Montes, em 1948 – estas linhas não chegam, a história desta primeira incursão ao Chiado conta-se rápido. Depois da exposição inaugurada em Bragança, feita propositadamente para celebrar os dez anos da instituição que carrega o seu nome, a diretora do Museu do Chiado visitou o atelier da artista para trazer a mostra para Lisboa. Daqui , “Metamorfoses da Humanidade” seguirá para o Museu Soares dos Reis, no Porto, onde pode ser vista de 25 de julho a 29 de setembro.
E ter em Bragança o ponto de partida de um périplo pelo país é motivo de orgulho para a artista, que escreve assim um capítulo feliz nesta história chamado descentralização. “Gosto muito de mostrar o melhor que tenho pintado em Bragança, e para mim foi muito importante ter começado por lá. Sinto até que tenho a obrigação de o fazer, depois de ter sido feita aquela estrutura à qual colocaram o meu nome”, conta.
Graça Morais resume assim “Metamorfoses da Humanidade”: “Todas as pinturas são inspiradas no mundo real e são uma grande reflexão, uma visão – a minha visão – dramática sobre o ser humano”. Na nota divulgada pelo museu, a artista adensa que estas pinturas e desenhos constituem o seu “grito de alerta e revolta” perante um mundo que apreende “através dos jornais, das televisões e dos média”. Mas também das sensibilidades em que tropeça “no olhar das pessoas” com quem se cruza na vida de todos os dias, “ numa cumplicidade de olhares, cheios de dignidade, mas também de muito sofrimento”. “Metamorfoses da Humanidade” tem curadoria de Jorge da Costa e Emília Ferreira e pode ser vista no Museu do Chiado até dia 2 de junho.
A arte na montanha Para lá do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais (CACGM), em Bragança, que abriu portas num solar renascentista reabilitado por Souto de Moura em 2008, também no ano passado a artista levou outro projeto avante: Laboratório de Artes na Montanha – Graça Morais (LAM-GM), que, associado ao centro e outras entidades, pretende promover “novas oportunidades para atividades de ensino e investigação baseadas na prática das artes no contexto de montanha, assim como estimular novas centralidades de intervenção científica e cultural de relevância internacional”.