Densidade populacional. O que leva as pessoas a abandonar certas zonas do país?

Densidade populacional. O que leva as pessoas a abandonar certas zonas do país?


O desenvolvimento do país empurrou as pessoas para fora de algumas zonas do país. Especialista diz que não podemos falar apenas em despovoamento no interior porque nas cidades isso também acontece.


O despovoamento em algumas zonas do país não é novidade e já há algum tempo que preocupa o governo – que no ano passado voltou a frisar que era necessário apostar numa nova política para garantir que nos próximos anos não existam ‘cidades-fantasma’ no país.

“O despovoamento não é uma questão recente”, começou por explicar ao i João Ferrão, geógrafo, acrescentando que, desde os anos 70 ou 80, que os “municípios estão a perder população”.

As causas são simples. Segundo o geógrafo, tudo começou com o desenvolvimento do país – que a partir dos anos 50 começou a crescer com várias transformações na indústria. Foi esta “modernização do país” que levou a que fossem criados mais empregos e os centros urbanos se tornassem mais atrativos para a população, adiantou o especialista. 

E uma coisa leva a outra, a busca por uma melhor qualidade de vida fez com que as pessoas se deslocassem para as zonas com mais oportunidades. As pessoas ou emigravam “para o estrangeiro ou para as cidades do país”, explicou.
Contudo, as causas não se ficam por aqui. “A racionalização dos serviços é outro problema”, disse ao i, explicando que isso é o motivo para que todas as unidades de serviços comecem a fechar no mesmo território, alimentando um “círculo vicioso”: os serviços fecham e as pessoas saiam e não há como reverter essa situação.

Mas, segundo a visão de João Ferrão nem tudo se encontra no mau caminho. As cidades não consideradas grandes centros urbanos – como Coimbra ou Viseu – “vão mantendo um comportamento positivo, com os politécnicos e universidades e com a oferta de emprego” que atraem pessoas. “Num contexto de um vasto território” estas ofertas “são âncoras” que vão segurando a população.

Despovoamento não é só no interior Quando se fala em despovoamento em Portugal a palavra interior surge de imediato na nossa mente. Mas o especialista explicou que não se pode dizer que o interior do país seja a zona mais afetada por este problema. “Nas últimas décadas o centro urbano do Porto e o centro urbano de Lisboa perderam mais população juntos do que todo o interior”, afirmou.

As razões para isso acontecer são várias. “A degradação dos imóveis”, começa por enumerar, o aparecimento de muito comércio, escritórios, hotéis e coisas ligadas ao turismo começam a “expulsar as populações para os subúrbios”.

“Isto levanta muitos problemas”, considerou, explicando que há muitas pessoas que apesar de morarem longe dos centros das cidades trabalham nesse centro, o que poderá afetar a qualidade de vida das mesmas. E dá o exemplo: Uma pessoa que passe cerca de duas a três horas por dia em transportes só no trajeto casa-trabalho e trabalho-casa vai perder maior parte do seu tempo dentro de um ou mais transportes. “Imagine quantos anos as pessoas perdem dentro dos transportes?” questionou. Este tempo ‘perdido’ vai ter implicâncias no “quotidiano e na qualidade de vida”, afirmou.
Já nas zonas mais rurais, voltou a frisar, os problemas estão relacionados com o “encerrar de equipamentos e serviços”.

O que pode ser feito Para João Ferrão há algumas coisas que podem ser feitas para contornar este problema. Para o interior do país o governo deve ponderar a racionalização dos serviços. “Não podemos destruir as condições mínimas das pessoas que lá vivem. Isso é matar a vida coletiva dessas áreas”, reiterou.

Já para as cidades, é preciso “combater o excessivo crescimento extensivo das cidades”. Ou seja, é preciso “criar condições para que o emprego não esteja só no centro da cidade”.

O especialista diz ainda que é necessário atrair pessoas, sobretudo jovens, tanto para os centros da cidade com para o interior do país.

De acordo com os dados do Pordata, em 2017, o Alentejo era a região do país com menor densidade populacional – em cada quilómetro quadrado existe uma media de 22,6 pessoas. Os números contrastam significativamente com a Área Metropolitana de Lisboa que tem 937,7 pessoas por cada quilómetro quadrado.

O ano passado, o governo decidiu tomar algumas medidas para combater este problema. O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, em julho de 2018 disse que havia necessidade de criar uma estratégia: “Temos mesmo de apostar numa política de imigração para garantir que não haverá territórios abandonados no país nos anos mais próximos”.

Para isso, o executivo criou o Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território – composto por 10 objetivos.
Um dos objetivos presentes no programa é a tração de “novos residentes” e a estão da “evolução demográfica”. O programa prevê ainda a abertura de concursos para dar apoio a empresas que que fiquem situadas em territórios com baixa densidade populacional.