Euro e Facebook: duas revoluções deste milénio


Não têm relação direta entre si, mas entraram no quotidiano, modificaram a economia, os hábitos e arrastaram mudanças a todos os níveis, como há uns anos o fizeram os telemóveis


1. Comemoramos, por esta altura, o aparecimento de duas realidades diferentes mas que modificaram radicalmente a sociedade mundial e a vida de cada um: a entrada em circulação do euro e o aparecimento do Facebook, respetivamente há 20 e há 15 anos.

O euro é um dos maiores êxitos da política comum europeia, apesar de alguns países a ele não terem aderido. A moeda europeia tornou-se a segunda referência mundial (depois do dólar americano) e fez mais pela solidez e coesão da união da comunidade do que milhares de tratados, de resoluções, de acordos políticos e por aí fora. Nos países que aderiram houve impactos negativos e positivos. Na Alemanha correu bem porque, na prática, tudo foi feito à sua medida e o euro valia um pouco menos do que o marco, o que fez descer preços. Em Portugal deu-se um efeito contrário, com um euro a valer, na prática, 200 escudos e uns pozinhos, o que inflacionou rapidamente os preços mais baixos. Mas o ganho com o euro foi enorme para a Alemanha, para Portugal, para toda a União Europeia (UE) e para a generalidade da economia mundial, reforçando o papel da Europa comunitária como uma referência incontornável à escala planetária.

Os efeitos práticos da moeda cimentaram ou, no mínimo, foram decisivos para evitar saídas e fatores de desagregação da UE, que teriam sido mais prováveis com moedas nacionais. Aliás, o exemplo do Brexit é significativo. Possivelmente, os resultados do referendo teriam sido diferentes se os britânicos tivessem aderido ao euro. Os países que não o fizeram por vontade própria são hoje poucos e no seu interior, de facto, circulam duas moedas. Já os Estados que querem aderir à moeda única são, na prática, todos os recém-chegados. Essa é a demonstração mais evidente da confiança no euro, apesar dos sacrifícios internos muitas vezes violentos que é preciso fazer para preparar os países para essa realidade.

O euro é um fator de progresso, de coesão e de sucesso de uma Europa que, apesar do Brexit, tem muito para dar e crescer enquanto entidade económica, política e fator essencial de uma paz duradoura no seu território como nunca se tinha visto. E é também uma alavanca de crescimento e bem-estar de uma enorme zona mundial onde se vive em democracia e liberdade, apesar das ameaças totalitárias, nacionalistas e extremistas passadas e atuais.

A moeda única é uma enorme benfeitoria para a Europa e o mundo. É um fator de coesão essencial, como o foi o dólar, sem o qual os Estados Unidos (que nos seus primórdios também não tinham uma moeda comum gerida por uma reserva federal) não seriam o que são hoje. Ao dólar ficou para sempre associado o nome de Alexander Hamilton, que o implantou e lhe deu credibilidade, criando instrumentos de equilíbrio interestados e internacionais que o validaram como moeda de referência mundial, até à chegada do euro, que com ele concorre.

2. Há 15 anos nasceu o Facebook. Não foi propriamente a primeira rede social, mas foi o Facebook que trouxe uma nova realidade, que transformou as sociedades mundialmente, mudando a comunicação a todos os níveis. Um terço da humanidade usa este instrumento e a sua influência é equivalente a essa proporção na comunicação interpessoal, na economia, na divulgação, na informação e, lamentavelmente, na contrainformação.

Seja como for, com os seus defeitos e virtudes, o Facebook foi uma revolução, um negócio gigantesco e um progresso, quando globalmente considerado.

Claro que serve também para enganar, mentir, manipular e ampliar os boatos a que hoje damos, na prática, a designação de fake news. Mas, no fundo, tudo isto não passa da amplificação do que sempre sucedeu. O Facebook e o Google somados tiveram, reconheça-se, um efeito devastador nos média, que ainda não conseguiram adaptar-se à nova realidade e ajustar os seus modelos de negócio, perdendo influência. Por outro lado, o Facebook, cuja utilização pelos mais jovens está a abrandar em favor do Instagram, criou uma cultura de informação individual que faz com que, tendencialmente, os seus utilizadores se limitem a informar-se sobre os seus interesses pessoais, perdendo a universalidade que os média clássicos permitiam. Tem, portanto, perigos e defeitos associados que não podem ser menosprezados no Facebook ou nas outras redes sociais.

O mundo é composto de mudança. Há 20 anos nasceu o euro. Há 15, o Facebook. Há 30 generalizaram-se os telemóveis. Hoje, os mais velhos já não se lembram de como conseguiam falar e marcar encontros uns com uns outros. E, no entanto, tudo acontecia também. Mas não era a mesma coisa. Em alguns aspetos, não era pior, porque o ritmo era outro, mais lento e mais sensato, o que hoje não sucede. Em termos globais, a chegada desses instrumentos e de muitos outros foram fatores positivos. Temos é que saber tirar proveito positivo de tudo isso, o que nem sempre é fácil.

 

Escreve à quarta-feira