William Nordhaus, economista e professor na Universidade de Yale, é (juntamente com Paul Romer) um dos laureados de 2018 com o Prémio Nobel da Economia, por “integrar as alterações climáticas na análise macro-económica de longo prazo.”
Para perceber o contributo de Nordhaus para a Economia do Clima, podemos seguir de perto o texto oficial que fundamenta a atribuição conjunta do Prémio Nobel a Nordhaus e Romer.
Apropriadamente, este texto começa por rever o modelo neoclássico de crescimento económico, o modelo de Solow (orientador do doutoramento de Nordhaus), com inovação (isto é, crescimento da produtividade total de factores) exógena e taxa de poupança endogeneizada através da optimização intertemporal da utilidade.
Romer estendeu o modelo de Solow para melhor considerar a externalidade positiva associada à criação de conhecimento; Nordhaus estendeu o modelo de Solow para considerar a externalidade negativa associada à emissão de dióxido de carbono.
De forma simples, o contributo de Nordhaus traduziu-se na integração no modelo de Solow de quatro mecanismos fundamentais:
(1) o efeito da actividade económica no uso de energia;
(2) o efeito do uso de energia na concentração de dióxido de carbono na atmosfera;
(3) o efeito da concentração de dióxido de carbono na atmosfera na temperatura global;
(4) o efeito da temperatura global na actividade económica e no bem estar humano.
Este esforço traduziu-se no famoso modelo DICE – Dynamic Integrated Climate Economy, cuja primeira versão foi publicada em 1994.
Este trabalho de Nordhaus é justamente considerado, nomeadamente pela Academia, como um precursor dos actuais integrated assessment models, que integram questões económicas e ambientais para analisar trajectórias futuras do clima e da economia (daí a menção “integrated”).
Impõe-se, no entanto, uma nota de cautela sobre estes modelos: sofrem do que já foi designado como “compression of uncertainty” (tal como formulada por Arnulf Grubler ou por Mike Hulme, fundador e primeiro director do famoso Tyndall Centre for Climate Change Research, na University of East Anglia). Para que os economistas consigam fazer estes modelos, e nomeadamente considerando a sua componente de optimização, precisam de receber dos cientistas naturais uma versão muito simplificada do comportamento do sistema natural, em que a incerteza foi artificialmente reduzida, de forma a tornar o problema tratável do ponto de vista da economia.
Assim, quer as versões mais simplificadas de Nordhaus, quer as versões mais detalhadas subsequentes, devem ser acima de tudo tratadas como toy models (no sentido em que esta expressão é usada em Física), que nos permitem obter insights sobre o problema, e não modelos que nos dêem valores numéricos suficientemente rigorosos para tomar decisões com base neles (embora naturalmente esses valores numéricos sejam extremamente apelativos em termos de comunicação social…).
No entanto, as incertezas nestes modelos não são, de todo, só do âmbito da ciência climática. Os cenários de emissões usados pelo IPCC para estimar as possíveis trajectórias compatíveis com, por exemplo, um aquecimento de 1,5°C, estão criticamente dependentes de estimativas da evolução do PIB de cada país no próximo século (e da evolução das intensidades energética e carbónica do PIB). Estas estimativas estão por sua vez criticamente dependentes de estimativas para a evolução da produtividade total de factores, ponto onde reencontramos o trabalho de Romer e que aponta para a premente necessidade de considerar a relação entre energia e produtividade total de factores.
Professor de Ambiente e Energia no Instituto Superior Técnico