Madagáscar. À sombra dos embondeiros floresceram nomes sem fim

Madagáscar. À sombra dos embondeiros floresceram nomes sem fim


Nicolas Dupuis saiu das profundezas das divisões inferiores do futebol francês para conduzir a equipa malgaxe à primeira grande fase final da sua história, a da Taça da África deste ano, no Egito. Mas não será fácil de recordar jogadores como Arohasina Andrianarimanana, Zotsara Randriambololona ou Njiva Rakotoharimalala


Os africanos não conseguiram manter a sua teimosia perante o poder universal dos clubes da Europa. Por isso, a Taça de África deste ano já não será em janeiro ou fevereiro, como sempre foi, mas sim entre junho e julho, agendada para o Egito.

Com o alargamento de 16 para 24 finalistas, seria inevitável que as oportunidades surgissem. E assim, saída de uma espécie daquelas caixinhas de brinquedos a que os ingleses chamavam “Jack–in-the-box”, saltou para a ribalta uma seleção cuja história na competição esteve, até agora, mergulhada numa série frustrante de não participações, desistências e até exclusões burocráticas. Madagáscar pode ser, hoje em dia, uma ilha mais famosa por via dos filmes de animação com zebras e hipopótamos e o diabo a quatro do que pelas suas praias idílicas ou pelas enormes extensões de embondeiros onde o navegador Diogo Dias desembarcou em 1500, tornando- -se o primeiro europeu a fazê-lo. E nomes como Marco Ilaimaharitra, Arohasina Andrianarimanana, Zotsara Randriambololona ou Njiva Rakotoharimalala, além de provocarem cãibras na língua, não entrarão certamente no dicionário daqueles que olham para o futebol mais lúdica do que profissionalmente.

Nicolas Dupuis, de 51 anos, saltou também ele das profundezas das divisões inferiores de França para o cargo de selecionador de Madagáscar, mas cometeu a proeza de, ao fim de cinco das seis jornadas do grupo A de qualificação, somar dez pontos, o que lhe garantiu, ainda com uma viagem ao Senegal para fazer, a qualificação à custa da Guiné Equatorial e do Sudão.

Rir-se-ão alguns de tal proeza. Sobretudo os que não perdem muito tempo a espreitar o fascinante futebol africano. Mas desde que, em 1947, a seleção malgaxe começou a disputar jogos amigáveis contra os vizinhos marítimos da Reunião ou da Maurícia, nunca esta nova realidade tinha sido equacionada. Estamos a falar do 121.o classificado do ranking da FIFA e que também tem um currículo muito pouco apresentável em qualificações para fases finais de campeonatos do Mundo. Apenas na Taça COSAFA, na qual participam os países da zona sul africana, e nos Jogos das Ilhas do Oceano Índico obteve alguns momentos de felicidade, lá na intimidade da sua zona de conforto. Chegou a hora de se fazer observar pelos olhos do mundo. Sem carregar nos ombros o mínimo de responsabilidades.