Costa ou Rio? Agora escolha


Entrámos na fase decisiva em que cada eleitor vai ter de pensar em escolher quem quer para primeiro-ministro


1. Resolvida que está a situação interna do PSD, os portugueses têm agora de pensar bem na pessoa mais indicada para chefiar o governo, tendo como alternativa única a António Costa um reforçado líder social-democrata, Rui Rio. Até lá haverá eleições europeias, mas os seus resultados apenas serão um indicador e não propriamente uma avaliação, até porque a abstenção pode atingir números tão elevados que não é possível fazer transposições políticas. O que conta realmente são as legislativas de outubro, que é já amanhã. Será a partir dos respetivos resultados que terão de se estudar as eventuais soluções de compromisso de um lado ou de outro, mas o chefe de governo será Costa ou Rio.

Tanto ou mais do que diferenças ideológicas de partido (há limitações incontornáveis que resultam da União Europeia), importa olhar para os traços de personalidade de cada um dos líderes. Costa é habilidoso, enigmático e frio, enquanto Rio é frontal, pouco dado a rodeios e determinado. São duas maneiras distintas de estar no mundo e de enfrentar os problemas. Costa rodeou- -se da geringonça e andou a negociar tudo a toda a hora, aplicando uma austeridade tão pesada como disfarçada. Rio, no Porto, governou mais isolado, mas deixou uma cidade preparada para o crescimento que veio a ter. Além disso, tem por hábito dizer claramente o que pretende e como vai proceder.

A esta distância e apesar das sondagens, é verdadeiramente impossível fazer prognósticos, pelo que a única coisa que se pode constatar é que, nesta altura, o PSD tem objetivas condições de crescer, enquanto o PS entrou numa fase complexa, não por questões intestinas, mas por causa da degradação do contexto económico, social (greves como nunca se viu) e político, interno e externo. Face a esta conjuntura negativa, Costa empurra os problemas com a barriga, entrando numa campanha eleitoral despudorada, envolvendo todos os meios.

Um desses meios é ocupação pelo PS do aparelho de Estado, em empresas públicas e institutos, afastando todos os dias pessoas de competência comprovada. É uma estratégia de ganhar posições para manter o controlo por muito tempo. Até mesmo os bloquistas e os supostos independentes de esquerda se começam a queixar de não terem o seu quinhão garantido. Na área da gestão da saúde, a situação é particularmente gritante e grave, bastando para tal citar o paradigmático caso da substituição de Carlos Martins da liderança da rede ligada ao Hospital de Santa Maria. A única razão que existe para este saneamento “gonçalvista” é a circunstância de o gestor não ser socialista e ser social-democrata. Ora isto acontece precisamente no momento em que entrou uma nova ministra da Saúde que pouco mais tem a apresentar do que uma carreira político-partidária. A destemida Temido demonstra diariamente uma incompetência inaudita que levou em pouco tempo à demissão da administração do Hospital São João, no Porto, o que irá certamente atrasar ainda mais a resolução das vergonhosas condições em que ali são tratadas as crianças doentes oncológicas. Na segunda-feira sabia-se, entretanto, que a mortalidade infantil subiu 26% em 2018, o que é extremamente grave. Portugal fazia da descida da mortalidade infantil a coroa de glória do seu Serviço Nacional de Saúde. Se é certo que o tema é grave demais para ser objeto de politização, não o é menos que devem ser clarificadas as causas deste agravamento, como já solicitou o Presidente da República.

 

2. Meteu dó a cara de Jerónimo de Sousa quando há dias foi confrontado pela TVI com o facto de o seu genro beneficiar de um chorudo contrato com a Câmara de Loures, em troca de não fazer praticamente nada. Com um raro sentido de oportunidade, alguém inventou logo uma hilariante palavra nova para dar ao caso: “Genrónimo”. Pouco dado ao humor, o PCP reagiu à pedrada falando em fascismo e extrema-direita, em vez de esclarecer ou admitir a incómoda situação. Uma coisa é certa: alguma explicação substancial tem de ser dada se o PCP e Jerónimo de Sousa não quiserem que se diga deles que são iguais a outros. Há dias, alguém sugeriu que aquela situação pode estar relacionada com uma forma indireta de financiar o partido. Não haveria, portanto, favorecimento pessoal. Pode ser pior a emenda que o soneto, mas está bem visto. “Se non è vero, è ben trovato.”

 

3. Nos primeiros 15 anos deste século, as gestões da Caixa Geral de Depósitos perderam mais de mil milhões por causa de empréstimos. Estes dados são revelados num relatório preliminar de uma auditoria e não comportam os prejuízos de 2016, que foram gravíssimos. Os números são agora públicos e falta saber em concreto o nome de cada um dos responsáveis (salvaguardando também quem não tem culpa) para que a justiça atue. A CGD está agora em fase de recuperação graças à gestão de Paulo Macedo (embora com o fecho excessivo de agências) e ao financiamento dos contribuintes. Por falar em banca, há que realçar que no Montepio, tanto na caixa económica como na associação mutualista, a situação permanece confusa e grave, sem que ninguém intervenha. É que o inenarrável Vieira da Silva sacudiu a tutela do seu ministério para um supervisor dos seguros que também está a fazer de morto. Veremos se esta não é mais uma história que acaba mal para os portugueses, os associados e os depositantes, e magnificamente bem para quem geriu as instituições.

 

Jornalista