O impacto dos microplásticos ultrapassa o ambiente e entra no nosso dia-a-dia através dos mais variados produtos. “O problema dos microplásticos é transversal à nossa vida”, disse Dália Jesus, umas das fundadoras da loja online Green Goji, em conversa com o i. “As pessoas devem fazer um consumo consciente, olhar para os rótulos e pensar não só na saúde, mas nas consequências para gerações futuras. As alternativas existem, é só fazermos um esforço para as encontrar”, aconselha.
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“A pele é o nosso maior órgão, devíamos ter cuidado”, disse. Uma ideia partilhada por Cristina Figueira, criadora da página de produtos naturais Mãe Gaia, ao afirmar que “ao contrário do nosso corpo, que absorve e digere, a nossa pele é exposta a elementos tóxicos com os produtos que usamos que vão diretamente para o sangue”, contendo corantes, conservantes e componentes tóxicos, como microplásticos, revela ao i.
A solução para este problema parece ser fácil:usar produtos naturais e biológicos, amigos do ambiente e da saúde. “Os produtos funcionam de forma igual, mas são feitos de forma diferente, menos prejudiciais para a saúde e para o meio ambiente”, disse Dália Jesus. No entanto, a responsável avisa que os clientes têm de ter cuidado porque nem todos os produtos identificados como naturais o são efetivamente: “Há um conjunto de normas que têm de ser cumpridas não só nos ingredientes como nas embalagens.” “Os consumidores devem procurar a certificação no rótulo para comprovar que são biológicos e não testados em animais, por exemplo”, explicou.
Os que o são “vão buscar produtos à natureza, 100% naturais ou de origem vegetal”, explica ao i Dulce Mourato, coautora dos livros “Sabão e Cosmética Natural” e “Cosmética e Saboaria Natural”, com Filipa Falcão. Para a autora, “não há desculpa” para as pessoas não optarem por este tipo de produtos, que já existem em “inúmeras lojas bio, muitos deles já produzidos em Portugal”, explica.
Para Dália, é também importante que as pessoas percebam que estes produtos têm o mesmo efeito dos convencionais ou até melhor, uma vez que são biológicos. O preço é a única coisa que acabam por ter em comum.
“Existem alternativas como a pasta de dentes branqueadora, que pode ser substituída por uma de carvão”, exemplifica, assim como as escovas de dentes de bambu (aconselhadas por dentistas) ou os fios dentários, em que a única coisa que se altera “é a embalagem onde se encontram”.
“No último ano, a redução do desperdício e do uso do plástico tem-se notado muito e acho que se começa a observar uma certa tendência”, confessa Dália. No entanto, diz que “o consumidor procura, mas ainda há muito trabalho a fazer”.
A sua loja surgiu como necessidade própria de encontrar produtos naturais, mas hoje, tanto via internet como em lojas físicas, “até mesmo supermercados”, já é possível encontrá-los.
Para quê comprar se pode fazer? “O estado de espírito com que fazemos a cosmética é um ato de amor para com a nossa pele”, disse Dulce, criadora da receita de bálsamo labial em stick.
Para que estes possam ser feitos em nossa casa é necessário que se “conheça bem os ingredientes e a ação que têm na nossa pele”, esclarece, e afirma que “é fácil fazer em casa”.
A regra parece ser simples: “saber o mínimo de regras de formulação”, os ingredientes que “temos em casa” e “poucos instrumentos que toda a gente tem e que são baratíssimos”, explica.
“Há elementos que fazem parte do nosso ambiente e que contêm qualidades que podem ser usadas em todo o nosso corpo”, diz Cristina Figueira. “O óleo natural pode ser usado na pele e contém vitaminas e nutrientes que são absorvidas pelo nosso corpo”, exemplifica.
Para quem quer experimentar fazer este tipo de produtos em casa, Dulce aconselha que o mais fácil passa por experimentar, procurar alguém que já o faça ou adquirir através de alguém que já produza antes de pôr a mão na massa, até porque, como garante, “não há ninguém que depois de experimentar não prefira estes produtos”.
Ainda assim, Dulce avisa que estes produtos não podem ser vistos como cura para qualquer problema, por não se tratar de medicamentos, mas deixa a certeza de que “melhoram”. E diz mais: a mudança deverá passar pela pele, mas também pela alimentação e por outros fatores externos.
Além disso, os produtos artesanais ajudam na carteira, uma vez que os gastos com os ingredientes necessários são mais reduzidos em comparação com a compra de produtos em loja.
Em casa, para lá da cosmética Para além do que aplicamos na nossa pele, Cristina Figueira acredita também ser essencial pensar nos produtos que usamos diariamente para limpar a casa.
“É preciso que não deixemos que os produtos deixem a nossa casa mais poluída que o exterior”, avisa, e explica que os produtos que se usam habitualmente podem ser tóxicos para a saúde e podem estar na origem de alguns problemas graves de saúde.
São inúmeras as receitas que existem para produtos domésticos artesanais e Cristina deixa um exemplo: “Uma garrafa de vinagre de cidra, por exemplo, faz mil e uma coisas em casa”, como limpar os vidros, retirar nódoas ou limpar o chão.
Além disso, limão, alfazema, alecrim, laranja, sal e açúcar, entre muitos outros ingredientes, podem ajudar a limpar a casa de uma forma mais natural.
Para as três especialistas em produtos naturais há uma regra que deveria ser sempre respeitada: a nossa pele só deve estar em contacto com ingredientes que possamos ingerir.