CTT, um cabo das Tormentas


O código pin do cartão de cidadão não chega e a encomenda que os correios brasileiros enviaram em 12 dias esteve em Lisboa um mês, perdida, e acabou devolvida, apesar das várias reclamações em tempo útil. Talvez por isto tudo os CTT tenham sido uma marca campeã no que toca às reclamações no Portal da…


Só há duas hipóteses para o que está a acontecer com os CTT: ou eu tenho muito azar, ou os correios deixaram de funcionar em Portugal. As cartas não chegam, as estações não comunicam com a linha telefónica e, quando se tenta falar com um operador, a resposta que se recebe raramente é correta.

Se não fosse a conversa que tive esta semana com um funcionário da Loja do Cidadão das Laranjeiras, assumiria que o problema era meu, mas foi–me dito que não: “Estamos habituados, os correios deixaram de funcionar. Desde a privatização que muitas pessoas não recebem o pin do cartão de cidadão e, assim, não o podem levantar. Se voltar a não receber vamos ter de ver aqui se há forma de contornar a situação, porque os correios não estão mesmo a funcionar corretamente.”

Eu não sei se é da privatização, mas fiquei ali com a sensação de que o meu caso não era único. Talvez por isso os alarmes tivessem soado na minha cabeça e tivesse decidido ir até ao balcão dos CTT daquela Loja do Cidadão pedir informações sobre uma encomenda que vinha do Brasil e que nunca mais chegava a minha casa.

Naquela manhã, através da linha CTT, já me tinham dito para não me preocupar, que iria receber tudo e que, apesar da demora, não estava em risco qualquer devolução ao Brasil. Ainda assim, estava ali ao lado e não custava pedir mais explicações a um funcionário de um balcão.

A encomenda em causa tinha sido enviada de São Paulo, Brasil, a 29 de novembro e chegado a Lisboa a 11 de dezembro. Ou seja, os Correios brasileiros demoraram 12 dias a enviar.

Mas foi já depois de passar o oceano que o objeto teve de atravessar um verdadeiro cabo das Tormentas. A 17 de dezembro foi tentada uma entrega, mas o carteiro não encontrou a minha morada – que, por acaso, fica no centro de Lisboa – e fez a seguinte anotação: “Localidade inacessível.”

Estupefacto com o que ia vendo no site dos correios, entrei em contacto com a linha CTT e apresentei uma reclamação nos primeiros dias de janeiro, dando todos os detalhes da morada, para o caso de ter existido algum erro no envio inicial, tendo–me sido reafirmado que a encomenda não seria devolvida porque iria ser tentada uma segunda entrega.

Vários operadores disseram o mesmo, em chamadas que ficaram guardadas “para efeitos de qualidade”.

Quando cheguei ao balcão dos CTT da Loja do Cidadão, esta terça-feira, para perguntar novamente as razões do atraso, fiquei a perceber que há uma descoordenação total – lembro que poucos minutos antes, em nova chamada telefónica, a colaboradora Kely Leão me tinha dito que ia receber em breve a minha encomenda. Ali, no balcão, a versão era outra: “Olhe, aqui no sistema aparece que a sua encomenda já está a ser devolvida ao Brasil. É melhor ir rápido a Cabo Ruivo, à secção internacional, para tentar travar a expedição internacional.”

Assim fiz e, quando lá cheguei, soube que a encomenda, afinal, já tinha sido devolvida ao Brasil no dia 8 de janeiro. Duas mentiras já começavam a ser demais e fiz nova queixa, desta vez no livro de reclamações.

Pior do que não terem servido de nada as reclamações que fui fazendo na linha telefónica desde o fim do ano passado foi perceber que os operadores que falaram ao telefone nunca disseram a verdade, pedindo-me que não me preocupasse porque iria receber em casa o objeto que, afinal, já estava a caminho do Brasil.

Esta história tem, para já, uma conclusão: os Correios brasileiros enviaram de São Paulo para Lisboa uma encomenda em 12 dias e os CTT demoraram um mês a localizar uma morada no centro de Lisboa e, mesmo assim, não conseguiram.

É certo que raramente uso os Correios mas, agora que precisei, foi esta a experiência. Percebi enfim o porquê de em dezembro ter sido noticiado que os CTT tinham sido uma das marcas campeãs no que toca a reclamações no Portal da Queixa.

Agora é esperar para ver se, não funcionando as entregas, ao menos as respostas às queixas funcionam, se há responsabilização de quem errou e, com isso, causou tantos transtornos.

 

Jornalista