Tem a sensação de que cada vez que está com amigos as conversas são sempre sobre os problemas no trabalho? Fica com a ideia de que as queixas são muitas e transversais a todos os setores? O mais provável é que não seja apenas uma sensação. De acordo com um estudo europeu divulgado esta semana, os trabalhadores portugueses estão entre os que mais se sentem descontentes com o local de trabalho.
De acordo com a análise, realizada pela Staples, a esmagadora maioria (92%) dos portugueses que trabalham em escritórios experimentam fortes sentimentos de frustração. Para alterar esse cenário, 84% admitem mudar de emprego. Os números provam mesmo que um em cada dez pensa nesta solução constantemente.
Partindo deste ponto, os autores do estudo tentaram perceber o que fazem os portugueses de forma a mudar o sentimento de mal-estar interno e, em muitos casos, constante. A análise aponta algumas tendências: 22% começam a dar mais atenção aos anúncios de emprego; 15% tentam equilibrar-se através do apoio de amigos, a quem fazem queixas frequentes; outros 15% preferem focar-se em dinâmicas positivas e sonham, por exemplo, com uma escapadela até à praia. O que não falta é quem passe a consultar muito mais vezes a rede social LinkedIn: um em cinco acaba por escolher esta ferramenta para resolver a questão.
Redes sociais são opção para procura As redes sociais são cada vez mais uma solução para os trabalhadores que procuram uma vida melhor. De acordo com o estudo da empresa de recursos humanos Adecco, as redes sociais como o Facebook, o LinkedIn e o Twitter são os mecanismos mais usados para procurar um novo emprego.
Ainda que seja nos grupos de Facebook que mais se encontram anúncios com ofertas, a Adecco garante que é, de todas as opções, a menos fiável.
Para a empresa, há um ponto que todos os trabalhadores devem ter em conta quando procuram outras oportunidades profissionais através destas plataformas. “Seguir quem realmente interessa” é o que mais importa quando se escolhem as redes sociais para procurar uma janela antes de fechar a porta à atual entidade empregadora. Seguir empresas e responsáveis do setor onde o trabalhador deseja estar é a melhor forma de tornar a procura mais fácil e eficaz.
A mudança é a realidade A verdade é que, segundo o estudo da Staples, pode dizer-se que a mudança de empregos é frequente. “A expetativa de melhores condições no local de trabalho deixa a maioria dos trabalhadores de escritório a considerar uma mudança de emprego. No entanto, quando estes mudam de empregador, muitos apenas experimentam uma alteração de curto prazo”, refere a análise. “Esta pesquisa revelou um problema. Mostrou-nos que demasiados trabalhadores em Portugal estão frustrados. Encontram-se prisioneiros de locais de trabalho que não resultam para eles”, explicam os autores, sublinhando que “ter o local de trabalho certo pode ter um impacto inédito nos trabalhadores. O local de trabalho liga, inspira, renova e protege os trabalhadores. Porque quando o seu local de trabalho funciona, os trabalhadores sentem-se mais produtivos, realizados e felizes.”
O estudo destaca ainda que “a forma como as pessoas são geridas (por elogio e reconhecimento, em vez de atribuição de culpas), uma carga de trabalho razoável e trabalho flexível, se necessário, bem como um local de trabalho de boa qualidade, são fatores fundamentais para atingir satisfação no emprego”. E este ponto ganha especial importância tanto para empregadores como para os trabalhadores porque, além de ser necessário arranjar soluções de mudança, é preciso saber para onde se está a mudar, de forma a evitar arrependimentos ou situações de frustração semelhantes. Falamos de uma realidade mais comum do que se pensa: “Quando iniciam um novo emprego, um quarto (23%) ficam frustrados no seu novo local de trabalho logo nos primeiros seis meses.”
De acordo com Sir Cary Cooper, especialista em Psicologia Organizacional da Alliance Manchester Business School, “a maioria das pessoas passam mais horas no trabalho do que em casa, pelo que o local de trabalho é mesmo importante para a saúde, o bem-estar e o desempenho. Como conclui este relatório, 89% dos trabalhadores procuram a realização no trabalho, e o ambiente físico e psicológico são essenciais para atingir isso”.
A conclusão do estudo é forte e simples: “Os trabalhadores de escritório estão à beira da rutura.” “A situação é tão má que, de facto, são muitos os trabalhadores de escritório em Portugal que estão regularmente à beira de entregarem a carta de demissão no trabalho; em busca de um escape ou de um ambiente diferente.” No entanto, esta conclusão vem com outra igualmente importante: nem sempre “a galinha da vizinha é melhor do que a nossa”.