1. Vivemos numa época, num contexto e num modo em que as palavras são intolerantemente dominadas por uma esquerda que se arvorou em Santo Ofício dos bons costumes e das boas maneiras. Tudo pela esquerda radical, nada contra a esquerda radical: eis a divisa que tem dominado o discurso (e a ação?) político mediático nos tempos mais recentes. Para a vitória dos adeptos do social-fascismo muito tem contribuído a cooperação, mais ou menos discreta, do grande capital, do capitalismo desprovido de valores e convicções – o designado capitalismo selvagem (crony capitalism) é um aliado estrutural da esquerda fanática no desenho do que eles pretendem que seja o “governo global”, ou seja, uma superstrutura não eleita que põe e dispõe sobre todos os povos do mundo. Os Estados-nação – ou seja, os espaços onde cada um de nós desenvolve as suas dinâmicas de inserção social, as suas compreensões do mundo, cultiva os seus laços afetivos, recebe e desenvolve os costumes e tradições, forjando um sentimento de pertença e identidade – seriam, no plano da esquerda radical e do capitalismo selvagem, dissolvidos numa “comunidade global” regulada apenas pelo poder económico: os cidadãos virariam apenas contribuintes e consumidores.
2. E, em rigor, mais contribuintes do que consumidores – a riqueza ficaria concentrada na mesma elite mundial que comandaria os destinos da “governação global”, ao passo que os custos seriam disseminados por todos, ricos ou pobres… Isto é o que a esquerda pretende, não obstante as suas proclamações retóricas para português (no nosso caso) ver e ouvir: enquanto António Costa lhe fala sobre o Estado social e a sua preservação, os seus amigos socialistas vão tratando de conquistar lugares estratégicos em empresas multinacionais que, por sua vez, vão contribuir para projetos de comunicação social de esquerda e conferências várias elogiando a geringonça – ao mesmo tempo que vão gizando uma solução federalista (ou neofederalista, seja lá o que isso for…) para a Europa contra os “populismos”… A ladainha é sempre a mesma. E quem paga também é sempre o mesmo: o mexilhão… Compete, pois, a nós, ao povo português, insurgirmo- -nos contra a manipulação levada a cabo pelos interesses especiais alimentados pelo PS e pela extrema-esquerda – e, já agora, por quem quer que seja cúmplice, à direita, com tais interesses que tanto prejudicam o nosso povo…
3. Dito isto, só uma maior consciência popular, cidadã, poderá recuperar a democracia; temos vivido, nos últimos anos, numa oligarquia dos interesses especiais (nunca se esqueçam deste dado elementar, a chave para a compreensão das dinâmicas políticas atuais…). Sob a liderança de uma elite que se serviu do Estado e traiu o povo. Que nos traiu. Nós, o povo, somos o fundamento, a razão de ser do poder político – e o seu único verdadeiro titular. Somos nós, o povo, quem detém, única e verdadeiramente, o poder. Ora, se somos nós quem detém o poder, se nós somos maioritários, se somos nós quem manda – por que razão continuamos a ter medo de quem nos governa? Por que razão continuamos – mais de 40 anos após a queda da ditadura – a ter medo de nos manifestarmos abertamente, de protestar contra o impasse a que chegámos, de denunciar a falta de perspetivas de um futuro melhor aqui no nosso país?
4. Se somos nós quem manda, se somos nós quem decide o rumo do nosso país, por que razão ainda hesitamos em expressar tal descontentamento no espaço público? Se toda a gente em Portugal é democrata, se todos discorremos tanto (e tão bem) sobre a democracia e as suas virtudes, por que razão continuamos a ter medo de praticar tais virtudes democráticas, preferindo a subserviência conivente com os desmandos e desvarios do poder político? Não tenhamos dúvidas nem ilusões: a única força suficientemente relevante para mudar o statu quo, para quebrar o círculo vicioso em que se transformou a política portuguesa, somos nós – o povo português. O povo português é o único que será capaz de reclamar para si um sistema de saúde de qualidade. Que não se conformará com uma política educativa à medida dos lóbis, que aumentaram a sua influência neste Ministério da Educação da geringonça – antes exigirá uma educação de qualidade para si, para os seus filhos e netos.
5. Olhemos para a história política portuguesa: sempre que o povo participou, sempre que o povo não teve medo de ser parte ativa da democracia, Portugal avançou. Com erros? Claro, mas todas as criações humanas padecerão da natural falibilidade do ser humano. Porém, quando o povo saiu à rua, quando o povo se fez ouvir, quando o povo orgulhosamente participava na construção da democracia, os nossos políticos faziam melhor. Não por acaso, as grandes conquistas do regime democrático ocorreram no período correspondente a 1974 a 1995 – quando o povo se orgulhava, sem receios, de ser português e não renunciava ao seu papel de protagonista político cimeiro. Claro que a comunicação social nos dirá sempre que o povo se deve abster de manifestações políticas de contestação ao poder instituído. Percebe-se porquê: a maioria dos média pertence aos mesmos “interesses especiais” a quem interessa perpetuar a esquerda socialista-comunista-trotskostista no poder. Eles apenas cuidam dos seus interesses particulares; desprezam olimpicamente os interesses de cada português e do povo português em geral. Por isso é que estiveram com José Sócrates até ao último segundo. Por isso é que estarão com António Costa até ao último segundo.
6. Agora que entramos num novo ano, resta saber se você, cara leitora e caro leitor, aceitará ser escrava/o do sistema corrupto – ou quererá libertar-se, por um Estado melhor e uma sociedade sem medo. Porque o poder político é nosso, do povo português. Nos EUA, no Brasil, em Itália, na Áustria, na República Checa, foi possível o povo recuperar o poder. Agora é a vez do povo português! Não percamos esta oportunidade histórica, sob pena de o sistema ficar a rir-se de nós, do povo português!
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Escreve à terça-feira