O bispo auxiliar de Braga, D. Nuno Almeida, insurgiu-se ontem contra aquilo que considerou ser o “lixo da corrupção” e apontou os “12 vícios da má política”, recuperando um texto do cardeal vietnamita Van Thuan que transforma as Bem-Aventuranças num código de conduta para os políticos. Na homilia da missa de Ano Novo na Sé Catedral de Braga – que celebrava também o Dia Mundial da Paz – o bispo lembrou que 2019 será marcado por vários atos eleitorais, afirmando tratar-se de uma oportunidade para exercer uma “cidadania atenta, ativa e criativa”, não poupando críticas à “propaganda política profissionalmente orientada”.
“No ano que findou, saímos do lixo financeiro, mas tomámos consciência de que continuámos a ‘atolar-nos’ no lixo da corrupção. Também está nas nossas mãos e nas nossas decisões, uma mudança séria e a sério”, disse D. Nuno Almeida.
“Que ninguém nos roube a nossa liberdade de escolha”, sublinhou.
Recordando os apelos do Papa Francisco em favor da “Boa Política”, o tópico da homilia no início de um ano que terá Europeias e Legislativas, D. Nuno Almeida pediu o empenho de todos os católicos. “Porque muitos cristãos têm medo de sujar as mãos, corremos o risco de deixar a política em algumas mãos muito sujas”, disse mesmo, deixando recados para o tempo eleitoral. “Não nos deixemos seduzir com a propaganda política profissionalmente orientada, mas balofa e a fingir; não permitamos que alguns euros a mais na reforma ou no salário comprem as nossas convicções profundas”, salientou D. Nuno Almeida, na Sé Catedral.
O bispo agradeceu depois à “maioria” dos políticos, que servem com sentido de missão, preconizando que a Igreja e a sociedade “se construam, à imagem do Presépio, como casa para todos”. Segundo o prelado, “a política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum”.
O bispo enumerou por fim “os 12 vícios da má política”, que “minam a democracia e colocam em perigo a paz social”. A saber: a corrupção na apropriação indevida dos bens públicos; a corrupção na instrumentalização das pessoas; a negação do direito; a falta de respeito pelas regras comunitárias; o enriquecimento ilegal; a justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da “razão de Estado”, a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia o racismo; a recusa a cuidar da Terra; a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato e o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio. “A boa política está, portanto, ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras”, concluiu o bispo auxiliar de Braga.