Emily e Julie, as primeiras escolhas
Em 1964, Julie Andrews tornava-se a ama mais adorada do planeta. Mais de meio século depois, é a vez de Emily Blunt segurar no mágico guarda-chuva e, dizem os críticos, de uma forma muito capaz. Além de serem ambas britânicas, as duas atrizes foram a primeira escolha para interpretar o papel nas duas produções. No clássico de 1964 – que marcou também a estreia de Julie Andrews no cinema -, tanto o próprio Walt Disney como o realizador Robert Stevenson e a autora do livro em que se baseou o filme, P. L. Travers, adiaram as filmagens do filme para poderem contar com Andrews, que estava grávida. Em 2018, Rob Marshall, que tinha trabalhado com Blunt em “Caminhos da Floresta” (2015), não considerou mais ninguém para o papel.
Uma sequela meio século mais tarde
Numa altura em que Hollywood está pelos cabelos com uma inundação de remakes, sejam eles “A Star is Born”, “Tomb Raider” e “Os Caça--Fantasmas”, são os próprios atores de “O Regresso de Mary Poppins” que insistem que este é um filme de natureza muito diferente, pois trata-se não de um remake, mas de uma sequela. Com a estreia a acontecer 54 anos depois da do seu predecessor, a ação deste filme tem lugar na Londres dos anos 1930, durante a Grande Depressão, ou seja, duas décadas após o original, com a famosa ama a regressar para dar uso aos dotes supercalifragilisticoespialidosos para cuidar de uma nova geração dos Banks.
O braço-de-ferro das animações
P. L. Travers, a criadora da personagem Mary Poppins, demorou mais de 20 anos a permitir que Walt Disney adaptasse a história ao cinema e não gostou de alguns ajustes feitos à sua obra – e as animações estavam no topo da sua lista de ódios. Na cerimónia de estreia do filme e entrega dos Óscares, a assertiva escritora não escondeu o desagrado e chegou a dizer que o filme ficaria muito melhor sem a introdução de desenhos animados. Walt Disney nunca cedeu e a verdade é que esta se tornou uma das marcas da longa-metragem. Em “O Regresso de Mary Poppins” continuaremos a ver alguns animais em animação, tudo para resgatar o clima iniciado pelo clássico.
Para londres, com amor
Há várias curiosidades em torno dos sets onde a sequela foi filmada. Por exemplo, a nova casa da família Banks foge do protótipo de mansão para se aproximar do grande público. E várias partes de Londres foram recriadas em tamanho real – segundo John Myhre, diretor de arte da longa-metragem, a ideia é que a produção seja também uma carta de amor para Londres. E houve outros cenários que, em vez de serem manipulados no computador, foram construídos de raiz, como a casa de Topsy (Meryl Streep). Também há uma história por detrás do edifício do banco que quer tirar a casa à família Banks: para que fosse rapidamente identificado como “o covil do vilão”, a inspiração veio do Royal Exchange, o banco britânico.
Van Dyke é a cereja no topo de um elenco de luxo
Emily Blunt lidera o elenco desta sequela, sucedendo a Julie Andrews ao encarnar a mais popular ama de todos os tempos, e a sua lado estão Ben Whishaw e Emily Mortimer, que interpretam as crianças do original (Michael e Jane Banks). Ao elenco de luxo juntam-se ainda Colin Firth e um toque de requinte que empresta a mais lendária das grandes atrizes de Hollywood, Meryl Streep. E o próprio Dick Van Dyke regressa, criando um elo tocante com o filme original num cameo nesta sequela, em que dança sobre uma mesa aos 93 anos e assim puxa as lágrimas aos olhos de quem cresceu revendo este filme todos os anos, pela altura do Natal.
A música no coração da história
À música, o protagonismo num musical. A dupla Marc Shaiman e Scott Wittman (“Hairspray”, “Chicago”) trabalhou a banda sonora como uma peça da história e não como canções isoladas ou excertos. “O que resulta num musical é integrar [a música] na história. Diria que é orelhuda e inteligente. E bela. Por isso, quanto mais as pessoas ouvirem as canções, mais farão parte das suas vidas”, defendeu Shaiman, que acredita na longevidade das canções agora como em 1964. A linguagem evita a computorização da pop atual. E quase toda a banda sonora evoca momentos do “Mary Poppins” original.