A ausência de iluminação no topo das antenas na Serra de Pias, em Valongo, poderá estar na origem da trágica morte dos quatro tripulantes do helicóptero do INEM, ao final da tarde deste sábado.
Estas são as primeiras impressões dos peritos que estiveram no local durante todo o dia de ontem, mas ainda não foram oficialmente reveladas as conclusões do relatório preliminar.
A parte cimeira da antena onde bateu o helicóptero do INEM, a mais alta do conjunto, foi recolhida pelas autoridades técnicas, estando retorcida, o que atesta a violência do embate.
Ao início da noite de ontem, todas as outras antenas no topo da Serra das Pias, em Valongo, estavam sem qualquer tipo de iluminação, conforme constatou a reportagem do i.
Teoria que é consistente com as conclusões preliminares dos investigadores, segundo as quais o embate num poste de telecomunicações terá originado a queda do helicóptero do INEM ao final da tarde deste sábado.
O comandante, piloto João Lima, o copiloto Luís Rosindo, o médico Luís Vega e a enfermeira Daniela Silva são as vítimas mortais. Daniela Silva era também voluntária nos Bombeiros de Baltar, em Paredes, concelho vizinho do de Valongo, onde ocorreu a tragédia.
As más condições climatéricas – nevoeiro, vento e chuva forte – terão contribuído para a queda do helicóptero, que regressava à Base de Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança, depois de ter transportado uma mulher ao Hospital de Santo António, no Porto.
Nas buscas estiveram os militares da Companhia 1.1 do Grupo Intervenção de Proteção e Socorro (GISP) da GNR, que depois de encontrado o helicóptero do INEM tentaram resgatar os corpos das quatro vítimas – as operações terminaram ontem à tarde.
Comunicações desencontradas No final da tarde de sábado, o helicóptero do INEM estava a regressar de uma situação de emergência quando desapareceu dos radares. Foi por volta das 18h30 que a aeronave contactou a Torre de Controlo do Porto para avisar que iria descolar para Macedo de Cavaleiros nos minutos seguintes. Por volta das 18h39, a torre voltou a contactar a nave para saber a que altitude é que esta se iria manter, ao qual, de acordo com a Lusa, afirmou que iria ficar a 1500 pés. Mas, pouco tempo depois, por volta das 18h55, dá-se a primeira perda de sinal.
Todos esperavam que o helicóptero chegasse ao seu destino por volta das 19h20. No entanto, como a última comunicação tinha sido feita há sensivelmente meia hora, foi tentado outro contacto – por volta das 19h. “De acordo com protocolo de atuação que determina que 30 minutos após o último contacto expectável se iniciem tentativas de contacto com a aeronave”, explicou a empresa de navegação aérea (NAV), em comunicado.
Sem resposta por parte do helicóptero, a NAV tentou contactar os Comandos Distritais de Operações e Socorro (CDOS) de Porto, Braga e Vila Real que não terão atendido a chamada e, por isso, quase uma hora depois da última comunicação com a aeronave, a NAV avisa a Força Aérea da situação – por volta das 19h40.
“Só após contactar o CDOS de Coimbra, que reencaminhou a chamada para o Porto, é que se conseguiu contactar o CDOS do Porto”, adiantou a NAV.
Fontes dos CDOS de Braga e Vila Real já negaram as declarações da NAV. À Lusa, Hermenegildo Abreu, comandante do CDOS de Braga, assegurou que “qualquer chamada” recebida “é atendida conforme a sequência de entrada”. E disse que é “muito estranho” que a NAV não tenha tido resposta, visto que “a sala de operadores tem sempre dois operadores em permanência, 24 sobre 24 horas”.
Também Marco Martins, presidente da Comissão Distrital do Porto da Proteção Civil, desmentiu as declarações da NAV sobre o CDOS do Porto: “A chamada chegou ao CDOS do Porto pelo Comando Nacional de Operações de Socorro (CNOS), às 20h15, tendo de imediato sido acionados os bombeiros de Valongo. O alerta chegou ao CNOS às 20h09, pelo departamento de monitorização de radares da Força Aérea. Quanto ao que diz a NAV, é estranho, até porque há uma linha direta da torre de controlo do Aeroporto do Porto para o CDOS do Porto e a mesma não foi acionada”, frisou.
As equipas de resgate só chegaram ao local já passava das 20h. Os destroços acabariam por ser encontrados na madrugada de ontem, confirmando-se que os quatro tripulantes já estavam sem vida.
Agora resta apurar responsabilidades. O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, determinou ontem à Autoridade Nacional de Proteção Civil a abertura de um inquérito técnico e urgente ao funcionamento dos mecanismos de reporte da ocorrência e de lançamento de alertas em relação ao acidente que envolveu este helicóptero do INEM e que vitimou quatro pessoas.
Já o secretário de Estado da Proteção Civil garantiu que a operação de socorro ao acidente com um helicóptero do INEM decorreu de acordo com “os normativos legais”.
Reações Ontem, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou as suas condolências às famílias das vítimas. O chefe de Estado disse ainda que este foi um “momento raro e triste”, pedindo que seja apurado “tudo o que se terá passado”.
Também o primeiro-ministro lamentou o sucedido. “Quero naturalmente apresentar às famílias e amigos as mais sentidas condolências e dirigir uma palavra de solidariedade para todos aqueles que trabalham no Instituto Nacional de Emergência Médica e que prestam um serviço inestimável aos portugueses”.
Marta Temido, ministra da Saúde, além de apresentar as suas condolências, enalteceu toda a “dedicação, empenho e coragem das equipas de emergência médica ao serviço do socorro em Portugal”.