Macron quer que o governo receba os representantes dos coletes amarelos

Macron quer que o governo receba os representantes dos coletes amarelos


O presidente francês, regressado da cimeira do G20, foi ver os estragos de Paris e convocou o gabinete de crise


Emmanuel Macron foi vaiado no domingo, quando saiu à rua para se encontrar com agentes da polícia e bombeiros e visitou o Arco do Triunfo, danificado no sábado pelos manifestantes dos coletes amarelos, que incendiaram automóveis e edifícios e entraram em confrontos com as forças antimotim.

Regressado da cimeira do G20, que se realizou em Buenos Aires, o presidente francês quis observar in loco os danos de um dia e uma noite de protestos, reunindo-se também com alguns dos proprietários de restaurantes atingidos no meio dos protestos.

Macron convocou para ontem uma reunião do gabinete de crise e pediu ao primeiro-ministro, Édouard Philippe, que se encontre com responsáveis dos partidos políticos e com representantes dos manifestantes, conhecidos por coletes amarelos, por envergarem o colete refletor, obrigatório em todas as viaturas automóveis.

Os primeiros a ser recebidos esta segunda são o presidente dos Republicanos, Laurent Wauquiez , o presidente dos Patriotas, Florian Philippot, bem como a presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo. Representantes de um coletivo de coletes amarelos que já mostraram vontade de iniciar um diálogo com o executivo também deverão ir esta segunda a Matignon, sede do governo.

Um outro movimento de coletes amarelos, reunidos à volta de Eric Drouet e Priscilla Ludosky (recebidos no dia 27 pelo ministro da Transição Ecológica, François de Rugy), também quer ser recebido pelo primeiro-ministro. Ontem, num comunicado divulgado pelo Facebook onde condenam a violência de sábado, mostraram-se “prontos para se reunir” com Édouard Philippe. Condenando, também, aqueles “se empenham em apropriar-se” do protesto e de lhe “perverter a imagem, de lhe perverter a mensagem com o único propósito de defender os seus interesses pessoais”, numa crítica a Benjamin Cauchy, acusado por alguns no movimento de protesto de estar muito próximo da extrema-direita.

Homenagem

No domingo, acompanhado pelo ministro do Interior, Christophe Castaner, e do secretário de Estado Laurent Nunez, o chefe de Estado prestou homenagem aos agentes da polícia e aos bombeiros que estiveram envolvidos nos acontecimentos de sábado e que recorreram a gás lacrimogéneo, canhões de água e granadas atordoantes para contrariar a ação dos manifestantes.

De acordo com a polícia, pelo menos 378 pessoas (entre elas 33 menores) foram detidas e 263 ficaram feridas, 23 das quais são elementos das forças de segurança. Ao todo, foram 55 os veículos incendiados e numerosas montras partidas.

Macron quer, segundo o “Le Monde”, que Castaner “faça uma reflexão sobre a necessidade de uma eventual adaptação do dispositivo de manutenção da ordem nos próximos dias” e sublinhou a “importância do acompanhamento judiciário para que nenhum ato fique sem punição”.

A ministra da Justiça, Nicole Belloubet, fazendo eco do que o presidente Macron afirmara ainda em Buenos Aires, no sábado, disse ontem que espera uma resposta “extremamente firme” da justiça em relação aos detidos por causa da violência. Uma equipa de 15 juízes foi mobilizada para instruir os processos das centenas de detidos.

A possibilidade de declaração do estado de emergência estava a ser equacionada, embora a ministra da Justiça descarte para já essa hipótese: “Não tenho a certeza de que chegamos a esse ponto e penso que há outras soluções que não a declaração do estado de emergência”, disse Nicole Belloubet aos jornalistas. Mas Castaner não deixou a hipótese de lado, garantindo que não tinha qualquer “tabu” em relação ao assunto.

A comissão de leis do Senado francês já fez saber que espera “as explicações” de Christophe Castaner e de Laurent Nunez na terça-feira. No entanto, o presidente do órgão adiantou que “o governo não terá direito a ter um terceiro sábado negro”, numa altura em que já circulam nas redes sociais convocatórias para nova manifestação no próximo sábado em Paris.

De acordo com os dados do Ministério do Interior, 136 mil pessoas manifestaram-se no sábado em toda a França, um número que representa uma diminuição em relação às 166 mil de 24 de novembro e às 282 mil mobilizadas no primeiro grande protesto.

Marine Le Pen e Jean-Luc Mélenchon, numa confluência de vontades dos dois espetros políticos franceses, reclamaram ontem a demissão do governo. O líder de A França Insubmissa afirmou que “há só uma maneira de decidir, é o voto, portanto, apelamos à dissolução”. “Não vejo, no nível em que estamos de gravidade desta crise política, como sair bem daqui, a não ser com o regresso às urnas”, afirmou, por seu lado, a presidente da Reunião Nacional.