1. Antes do mais, é importante esclarecer que o signatário apoia e integra a lista C que concorre ao conselho geral de uma enorme e essencial entidade económica e social com quase 180 anos de existência, chamada Associação Mutualista Montepio. E importa também referir que, apesar dessa circunstância, o que a seguir se diz não tem a ver com propaganda eleitoral. Trata-se apenas de dirigir uma palavra aos muitos milhares de membros da mutualista Montepio, a qual há uns largos meses tem sido objeto de notícia por motivos negativos, afetando o seu prestígio e imagem, o que pode contaminar o banco (Caixa Económica Montepio Geral) que integra o grupo e que, na prática, depende da associação mutualista.
Face a tudo o que se sabe hoje e perante a ausência de uma informação cabal sobre a situação por parte da tutela de Vieira da Silva, enquanto ministro da Segurança Social, só os associados do Montepio podem decidir sobre o assunto, uma vez que nem o Ministério Público se dignou prestar contas do que anda a investigar (tão lesto em coisas que metam políticos e futebol e tão discretos quando se trata de banca, dinheiro ou crimes de alta violência).
A associação conta com mais de 600 mil membros e a eleição para os órgãos sociais, com o método arcaico de envelopes e correios, está a decorrer, sabendo-se que se trata de um processo que tem suscitado muitas dúvidas quanto à transparência. E, a esse propósito, Vieira da Silva voltou a falhar quando, no fim de semana, fez saber que não tenciona desenvolver mecanismos de controlo da votação e escrutínio.
Até por isso, é essencial que, desta feita, cada um dos mutualistas participe e exerça o seu direito de voto, verifique se os procedimentos corretos são exercidos e, sobretudo, pense em consciência qual das três listas lhe merece mais confiança, mais respeito e lhe dá mais garantias de transparência. Cada um deve fazer esse juízo, depois de uma reflexão que obviamente se impõe sempre que um cidadão é chamado a votar em algo que envolva um coletivo. Em casos como este, a decisão e o que ela implica para o futuro estão, objetivamente, no voto de cada associado. E quem não exercer esse direito demite-se de decidir e torna-se solidário com quem ganhar e, depois, dirigir a instituição. Acresce que, nos últimos meses e dias, circulou informação e contrainformação em catadupa, o que significa que quem estiver interessado tem muitas fontes noticiosas onde recolher matéria para se esclarecer, apesar das já referidas falhas de entidades oficiais. Escusado será dizer que convém não dar o mesmo crédito a todas as fontes, procurando as mais rigorosas, que são claramente as que provêm dos órgãos de informação nacionais de referência, entre imprensa e audiovisuais.
O Montepio é uma das mais importantes e emblemáticas instituições nacionais. Prestou um serviço inestimável a milhares de portugueses, antecedendo mesmo a segurança social. A muitos assegurou uma vida digna ou um complemento de rendimento. Com um perfil conservador, conseguiu durante anos cumprir esse desígnio. É preciso que assim continue e isso está nos votos dos membros da associação, que não devem alhear-se do momento atual, até porque houve casos recentes noutras entidades em que a distração de acionistas e depositantes teve consequências graves que todos os portugueses têm estado a pagar, com pesados encargos e juros.
Há, portanto, uma responsabilidade pessoal e intransmissível dos membros da associação, a quem é conferido o direito de escolher quem entendam ser mais capaz para dirigir a instituição e influenciar todo o seu vasto universo.
Até dia 7 de dezembro está em curso a votação e cada um tem a palavra através do voto, seja em quem for.
2. O governo cumpriu três anos. Muitos balanços se fizeram, mas aquele que verdadeiramente importa é o que vier ao fim de quatro anos através das urnas, nas eleições legislativas. Há que reconhecer que houve crescimento, que não chegou o diabo e que as coisas não pioraram até agora. Mas só até agora porque, entretanto, entrámos numa fase mais complexa em que a economia real (a das empresas) dá sinais de derrapagem, acumulando-se as dificuldades de pagamento a fornecedores e trabalhadores, agudizando-se as tensões sociais e verificando-se novamente a criação de bolsas de exclusão social, por muito que o PCP e o Bloco digam o contrário. Logo eles, que não conseguiram sequer acabar com o escândalo de cortes vitalícios nas pensões que fazia parte do acordo da geringonça. No contexto internacional há uma degradação, mas não estamos de rastos. Devíamos, porém, estar mais fortes, até para se cumprirem as promessas feitas em vez de dar bolota de boca (conversa fiada) ao povo.
3. Na caderneta dos ministros de Costa, os três cromos principais passaram pela cultura e comunicação social. João Soares, o “esbofeteador”, nem aqueceu o lugar por ameaçar dar umas lambadas a uns críticos dele. Castro Mendes foi um equívoco permanente. Deixou instalar-
-se a bandalheira em todos os setores que tutelava. Agora, Graça Fonseca arranjou o sarilho de pôr Costa a dizer que odeia as touradas, que há uns anos ele achava uma arte superior. A ministra, que considera taxar as corridas de touros com um IVA máximo uma obrigação civilizacional e que tutela a comunicação social, conseguiu ainda outra pérola. Disse, no México, que “uma coisa ótima de estar em Guadalajara há quatro dias [era] não ver jornais portugueses”. Olé! É o novo politicamente correto, que corresponde ao antigo politicamente incorreto. A inversão das opções é hoje uma moda na política. Depois admiram-se com o aparecimento de movimentos radicais.
Jornalista