16 de novembro  de 1932. O homem do nome errado que quis ficar do lado certo da História

16 de novembro de 1932. O homem do nome errado que quis ficar do lado certo da História


Aos 86 anos, Pedro Pezarat Correia (que não é Pezarat mas Pezerat) contou a história da sua vida. A tropa está-lhe no sangue. Desde o avô materno, francês e maçom, ao avô paterno, republicano, deportado para Angola, para o Luso, onde o neto cumpria serviço militar no dia 25 de abril de 1974


Nasceu no Porto, no dia 16 de novembro de 1932. Pedro Pezarat Correia, oficial reformado desde 1986, fez seis comissões durante a Guerra Colonial, na Índia, em Moçambique, em Angola e na Guiné-Bissau. E quis ficar Do Lado Certo da História. Motivo para que um livro com esse nome, editado pela Âncora, o faça viajar no tempo em redor da vida como ela foi. Para ele, claro! Ele que se assume como o Revolucionário Desconhecido. E conta um episódio, caricato e invulgar: “A minha mãe é oriunda de uma família ligada à aristocracia francesa de onde vem o nome Pezerat. Não Pezarat. Acontece que sou o quarto de cinco filhos e o homem do registo civil já tinha registado – à mão – os meus irmãos como Pezerat. O meu não se percebia: se Pezerat se Pezarat.” Os documentos oficiais pregaram-lhe a partida, mesmo que, de vez em quando, ainda tentasse corrigi-los.

Só há uma família Pezerat em Portugal, iniciada por um francês do séc. xix, Pierre Joseph de Pezerat – mas o Pezerat mais famoso é Pezarat e ponto final –, francês esse que foi arquiteto no Brasil, o favorito de Pedro i, imperador do Grito do Ipiranga. E foi, tal e qual como o bisneto do nome trocado viria a ser, um militar, com posto de major, participando em várias campanhas de consolidação independentista. Questão de genes?

Com D. Pedro, veio então Pezerat para Portugal, à conta das lutas liberais. Maçom, ainda passou por Argel, às ordens do governo francês. Mas Lisboa atraiu-o como um canto de sereia. Seria engenheiro de truz, colaborando fortemente nas obras de abastecimento de água à cidade e auxiliando na recuperação de edifícios históricos, como a Faculdade de Ciências e a Assembleia da República, e na expansão das Avenidas Novas.

Do lado paterno, o lado dos Correias, mais tropa. O avô, Alberto Joaquim Correia, combateu na Flandres; o pai, tenente António Joaquim, republicano até ao tutano, participou no golpe de 7 de Fevereiro, no Porto, o primeiro contra a ditadura de 28 de Maio. Gente inquieta. Foi deportado para Angola, para o Luso, que agora se chama Luena. Foi precisamente no Luso que Pedro Pezarat Correia se encontrava em serviço militar no dia 25 de abril de 1974. Mas, antes disso, esteve na Índia: “Começámos a ser bombardeados com uma propaganda política que até fazia aparecer pelos de São Francisco Xavier no meio dos missais.” E decidiu: “Eh pá. Estamos aqui a ouvir isto. Vamos para lá ver como é!” E foram.