1. António Costa é um verdadeiro artista. Um exemplo perfeito de como a política politiqueira, na sua versão mais rasca e censurável, por vezes (vezes demais!) é pagante no nosso país. O primeiro-ministro imposto aos portugueses (não escolhido pelo povo, que o rejeitou) é a personificação dos vícios do sistema e do cinismo político em estado bruto. A semana que passou foi rica em costices – a arte de se contrariar, de dizer tudo e o seu contrário, mercantilizando convicções e servindo as suas conveniências; pensando, enfim, só em si e descurando os interesses de todos os portugueses.
2. Comecemos pela costice clássica de apelar à moralidade e seriedade dos outros, ao mesmo tempo que se revela uma ausência de princípios aterradora. Ora, o primeiro-ministro socialista criticou o PSD por revelar “esquizofrenia” política ao viabilizar o projecto do Bloco de Esquerda e do PCP que impõe o diálogo com os professores sobre a reposição do tempo de serviço integral dos professores. Tal foi dito pelo mesmo António Costa que, em 2015, prometia o fim do congelamento das carreiras da função pública para todos e a consideração do tempo integral de serviço para todos as carreiras da função pública, incluindo os professores. No fundo, António Costa assumiu a sua verdadeira natureza: a de um mentiroso compulsivo que mente tanto que já não consegue destrinçar o mundo real do mundo fantasioso, com tons cor de rosa socialista, que concebeu na sua cabeça.
3. Segunda costice: o PPD/PSD e o CDS/PP são partidos irresponsáveis, pois admitem votar diplomas com impacto orçamental juntamente com PCP e BE – ou seja, o centro-direita opta, circunstancialmente, pela formação de… uma maioria negativa. Segundo António Costa, tal é inadmissível e coloca em causa a governabilidade do sistema político. E esta, hein? Nós conhecemos muitíssimo bem o cinismo político chocante do primeiro-ministro que lava sempre a realidade mais cor de rosa: no entanto, esta supera todas as expectativas, mesmo da pessoa mais cauta do mundo! Ouvir António Costa a erguer-se contra as maiorias negativas é como ouvir um ladrão a perorar sobre os malefícios do crime e as vantagens da justiça criminal. Então não é António Costa o primeiro-ministro que usurpou (violando a dimensão não escrita da Constituição política portuguesa) o poder, impondo-se como líder do Governo contra a vontade do povo português (que o derrotou nas urnas)… através de uma coligação negativa contra Pedro Passos Coelho?
4. António Costa só é, efetivamente, hoje primeiro-ministro em virtude da traição que operou aos valores históricos do PS, unindo-se ao campo da esquerda radical, apenas pela sua premência de conquistar o poder! Desde novembro de 2015, nós, a maioria dos portugueses, tivemos de nos submeter a um Governo que mais não é do que uma coligação negativa anti-PSD. E atenção: afirmarmos que o executivo de António Costa não passa de um Governo apoiado por uma coligação negativa não se trata de uma mera qualificação teórica; pelo contrário, tem consequências práticas que se evidenciam quotidianamente. Em que medida? Fácil: o Governo de António Costa, justamente porque apoiado por uma coligação meramente negativa, em três anos, não realizou uma única reforma política, não adaptou o Estado às exigências do tempo contemporâneo, não preparou Portugal para resistir às ondas de choque (financeiras e não só) internacionais que se perspectivam, não lançou as bases do futuro, preferindo recuar o Estado português aos tempos da pré-troika. Os vícios do Estado português, que levaram ao pântano guterrista e que forçaram o nosso país a requerer intervenção financeira externa, estão aí todos de novo – a sobrevivência política de António Costa assim o impôs.
5. Pois bem, António Costa é mesmo o cúmulo da indecência política: é preciso uma falta de carácter plena para que um primeiro-ministro que só o é em resultado de uma coligação negativa plurianual que montou com a extrema-esquerda para derrubar o maior partido português, o PPD/PSD – ataque o partido que ganhou as eleições em 2015 por se entender, episodicamente, num caso muito específico, com os partidos da esquerda que o próprio António Costa levou para o arco de governação! É preciso muito topete – mas disso, António Costa já provou ter um superavit monumental…
6. Terceira costice: na segunda-feira da passada semana, mais uma tragédia ocorreu no Portugal geringonçado: desabou uma estrada em Borba, vitimando mais compatriotas, no que tem sido um conjunto de ocorrências mortais sucessivas absolutamente incompreensíveis que têm assolado o nosso país (apenas no período entre 2017 e 2018). Pois bem, como reagiu António Costa? Primeiro, silêncio, recusando-se explicitamente a prestar declarações aos jornalistas. Depois, foi a assistir ao jogo entre Portugal e a Polónia, preocupando-se mais com as tácticas do engenheiro Fernando Santos do que com os modelos (ou a falta deles) dos engenheiros da Câmara Municipal de Borba e a consequente tragédia que geraram. Ou seja: tragédia em Borba, António Costa vai à bola. Uma frieza total, quase uma insensibilidade humana que desafia a consciência ética de qualquer português. António Costa é incapaz de sentir compaixão – a sua preocupação é só uma: os votos. O poder.
7. Na verdade, o primeiro-ministro acabaria por reagir à tragédia de Borba quatro dias depois. Onde? Ora bem: aqui é que a falta de compaixão de António Costa pelo sofrimento alheio se revela, mais uma vez, eloquentemente. O primeiro-ministro pronunciou-se sobre a tragédia que matou portugueses…numa cerimónia de comemoração dos três anos da geringonça! Isto é, Costa reage à tragédia…numa festa do seu Governo! Fala de um facto que vitimou portugueses à liça de detalhe na narrativa mais relevante dos pseudo-êxitos do seu Governo – festejando (lá está!) a sua….coligação negativa, que agora tanto lhe faz espécie! Isto é de uma falta de humanidade que não pode deixar de nos chocar.
8. Esta conjugação entre burla política e sede absoluta de poder absoluto, por um lado, com uma falta de humanidade, empatia e compaixão na acção governativa, por outro lado – tem que levar os portugueses a ponderar seriamente se vale a pena pagar o preço da manutenção de um primeiro-ministro com evidentes problemas de carácter. É o seu futuro, o futuro dos seus filhos, o futuro dos seus netos que está em causa. Quereremos um primeiro-ministro com um défice estrutural insustentável de humanidade? Pois, claro que não…
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Escreve à terça-feira