Uma estiva na democracia


Nunca questionei, nem nunca me verão questionar, o direito à greve. No entanto, nunca me irão ler a defender greves que põem em causa, muito para lá do que seria razoável, o funcionamento da economia nacional e o bem-estar dos nossos cidadãos


No Norte, ou pelo menos na zona onde nasci, era normal dizermos que sempre que alguém levava porrada de alguém, o fulano ou fulana tinha “levado uma grande estiva”. Em Lisboa, tanto quanto me apercebi nos últimos anos, não é muito normal utilizar-se esta expressão. Talvez por isso seja importante começar por explicar o título desta crónica.

Enquanto escrevo esta crónica, jornais e televisões cobrem a greve dos estivadores. Como em quase todos os protestos onde há estivadores envolvidos, há igualmente violência, atropelos à lei e também à democracia. Mas há também a extrema-esquerda comunista e bloquista, que no parlamento vota a favor do Orçamento do Estado e na rua finge lutar contra as políticas do governo que segura no parlamento.

Nunca questionei, nem nunca me verão questionar, o direito à greve. No entanto, nunca me irão ler a defender greves que põem em causa, muito para lá do que seria razoável, o funcionamento da economia nacional e o bem-estar dos nossos cidadãos. Muito menos irão ver-me ceder à chantagem de profissões que usam da importância vital que têm na sociedade e na economia para usarem o direito à greve e para se comportarem de forma desonesta e infantil.

Nenhum controlador aéreo tem o direito de separar uma família no Natal por causa de direitos laborais, da mesma forma que nenhum professor devia ter o direito de prejudicar os exames nacionais dos estudantes, ou um estivador de atrasar uma economia que necessita desesperadamente de fazer crescer as suas exportações. Os nossos direitos terminam quando começam os direitos dos outros, principalmente daqueles que, legitimamente, não têm nada a ver com as lutas laborais dos outros.

 

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