Foi o tema do dia em Itália e depressa se alastrou para o resto do mundo – como seria expectável: Cristiano Ronaldo não faz parte dos três finalistas à Bola de Ouro, prémio atribuído desde 1956 pela prestigiada revista “France Football” ao melhor futebolista de cada ano. De acordo com os italianos “Corriere dello Sport” e “Tuttosport”, o prémio será entregue a um de dois franceses (Varane e Mbappé) ou ao croata Modric, que em outubro passado foi galardoado já com o prémio The Best – tem o mesmo fim da Bola de Ouro mas é entregue pela FIFA -, numa decisão que gerou desde logo enorme controvérsia.
Este trio de finalistas, refira-se, ainda não foi confirmado oficialmente. A votação, levada a cabo por 193 jornalistas de todo o mundo, foi encerrada no passado dia 9 e os finalistas, bem como o vencedor, só serão conhecidos na gala que terá lugar em Paris no próximo dia 3 de dezembro. Em outubro, no momento em que era consagrado “The Best”, Modric liderava também a corrida à Bola de Ouro nas principais casas de apostas. Nas últimas semanas, porém, o lóbi francês começou a crescer, tendo em conta a vitória gaulesa no Mundial da Rússia, e mais se adensou quando, há poucos dias, Xavier Barret, jornalista da “France Football”, revelava, após ter consultado metade dos votos efetuados até então, que Modric era o mais votado, seguido de Varane e com Mbappé a fechar o pódio.
Nas últimas semanas, de facto, o lóbi para ver o troféu entregue a um francês tem crescido a olhos vistos, e dentro desse fator, Varane está a ser o mais “exaltado”, numa corrida extensiva também a Mbappé e Griezmann. Além do Mundial, o central de 25 anos venceu também a Liga dos Campeões, o Mundial de Clubes e as Supertaças espanhola e europeia pelo Real Madrid – o melhor ano de sempre para um futebolista gaulês – e muitas foram as vozes de antigos e atuais jogadores de topo do futebol mundial a salientar o seu nome: o próprio Cristiano Ronaldo votou em Varane como primeira escolha na eleição para o The Best, na sua qualidade de capitão da seleção portuguesa.
Uma eventual vitória de Varane seria vista, em França, como a personificação perfeita do que foi a equipa gaulesa no Mundial: o espírito de equipa à frente das individualidades.
Florentino por trás de tudo?
É precisamente pelo nome de Varane, todavia, que se adensaram nos últimos dias os rumores e até acusações de que estes prémios serão “controlados” por… Florentino Pérez. Ivan Zazzaroni, diretor do “Corriere dello Sport”, escrevia ontem que o presidente do Real Madrid, valendo-se do peso que o clube merengue tem no futebol mundial, terá movido influências para manipular de alguma forma a eleição, de modo a enaltecer os jogadores do Real e, ao mesmo tempo, tirar protagonismo a Ronaldo, após a mudança deste para a Juventus no último verão.
“A Bola de Ouro deveria ser de Griezmann, um fenómeno na Rússia e na liga espanhola. O seu único defeito é jogar na equipa de Madrid que o Florentino detesta”, disparou o jornalista italiano, num editorial com o título “O fator Florentino”. No mesmo texto, Zazzaroni acusa ainda os organizadores do troféu de “ignorar o futebol e os seus campeões” ao deixar de fora desta lista final não só Griezmann mas também o CR7, autor de 54 golos em 55 jogos na época passada, onde conquistou exatamente os mesmos troféus que Varane pelo Real Madrid – a grande diferença esteve na prestação no Mundial, com Portugal a ficar-se pelos oitavos-de-final.
Durante o dia de ontem, porém, surgiram rumores que podem ditar um desfecho distinto… mas favorável a Griezmann – Ronaldo deverá mesmo ficar de fora das contas finais. De acordo com o jornalista italiano Tancredi Palmieri, conhecido por revelar frequentemente em primeira mão informações de grande monta no mundo do futebol, Griezmann (que além do Mundial venceu também a Liga Europa pelo Atlético de Madrid) até poderá mesmo vencer a Bola de Ouro, com Modric a terminar no segundo posto. Uma revelação feita, de acordo com Palmieri, após falar com uma fonte da organização do prémio.
Também durante o dia de ontem, a imprensa francesa dizia que enviados da “France Football” irão aterrar na próxima semana em Madrid para felicitar o vencedor e começar a preparar a gala, o que restringe a corrida a Modric, Varane… ou Griezmann. Se todos estes rumores são (ou virão a provar-se ser) realidade, isso só saberemos mesmo a 3 de dezembro.
Igual só há 12 anos
Uma coisa é certa: caso a ausência de Cristiano Ronaldo do pódio da Bola de Ouro se venha realmente a verificar, o mundo futebolístico assistirá a um cenário que já não conhecia desde… 2006: nem Ronaldo, nem Messi nos três primeiros. É verdade: já lá vão 12 anos desde a última vez em que nenhum dos dois astros marcou presença nesta corrida. Nesse ano, Fabio Cannavaro (curiosamente à altura jogador… do Real Madrid) foi o vencedor do galardão, muito devido ao facto de ser o capitão da seleção italiana que venceu o Mundial. Em segundo, de resto, ficou o também italiano Buffon, com Thierry Henry a fechar o pódio.
Daí para cá, a predominância de Messi e Ronaldo foi implacável – só mesmo em 2010 um deles (no caso o CR7) ficou de fora dos três primeiros, com Messi a vencer e os campeões mundiais Iniesta e Xavi a surgir atrás de si. O ano de 2007, de resto, foi o último em que o vencedor do galardão foi outro que não o argentino ou o português – nesse ano, a honra coube ao brasileiro Kaká, após vencer a Liga dos Campeões pelo AC Milan.
Depois disso, dez anos e cinco vitórias para cada. Ronaldo abriu as hostilidades em 2008, com Messi a ganhar estonteantes quatro edições consecutivas. Nova intromissão portuguesa, e em dose dupla, em 2013 e 2014, antes do argentino vencer a quinta em 2015, no que parecia aí um objetivo inalcançável para qualquer outro futebolista. Mas não para Ronaldo, que se encheu de brio e, alicerçado nas conquistas europeias do Real Madrid e até da seleção portuguesa em 2016, venceu mais dois troféus e igualou La Pulga.
Agora, pela primeira vez em 11 anos, tanto um como o outro terão de apreciar de fora a vitória de outro colega de profissão. Já aconteceu no The Best, com Messi a ficar fora do pódio e Ronaldo a não comparecer na gala onde Modric foi consagrado como o vencedor – o egípcio Salah, do Liverpool, terminou em terceiro nessa votação. Tendo em conta a idade de ambos (Messi tem 31, Ronaldo já faz 34 em fevereiro) e o cenário que ameaça tornar-se real a 3 de dezembro, não será descabido afirmar que os amantes do futebol terão mesmo de começar a acostumar-se com a ausência dos dois astros nos momentos das decisões – pelo menos naquelas que não dependem deles…