“Exemplo ético”, “irmão por opção” e personalidade de “excelência” foram algumas das expressão que o antigo Presidente da República Ramalho Eanes usou para descrever o general Loureiro dos Santos, que faleceu este sábados aos 82 anos de idade, vítima de doença.
“Para mim, ele também é assim uma espécie de irmão por opção”, disse Eanes em declarações à agência Lusa e RTP em sua casa. E recordou “o seu propósito de excelência” e “exemplo ético” nos vários papéis que desempenhou ao longo da sua vida: “Aluno, professor, como militar, nas suas missões e nas funções que resolveu exercer”.
O general Loureiro dos Santos nasceu a 2 de setembro de 1936 em Vilela do Douro, no concelho de Sabrosa, em Vila Real, e formou-se na Academia Militar na arma de Artilharia, abraçando a vida militar. Foi ministro da Defesa Nacional entre 1978 e 1980 sob os governos de Carlos Mota Pinto e Maria de Lourdes Pintasilgo, ambos executivos de iniciativa presidencial de Ramalho Eanes. Pouco antes de assumir a pasta política, em 1977, Loureiro dos Santos foi vice-Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, Chefe do Estado-Maior do Exército e membro do Conselho da Revolução, órgão que veio a ser extinto na reforma constitucional de 1982. Combateu na Guerra Colonial, onde fez duas comissões – Angola, entre 1962 e 1965, e Cabo Verde, 1972-74. Ao regressar a Portugal, participou na Revolução ao assumir o cargo de secretário do Conselho da Revolução e foi um elemento ativo na preparação e execução do golpe de 25 de novembro de 1975, terminando com o Período Revolucionário em Curso (PREC).
Nas décadas que se seguiram manteve-se na vida militar e desempenhou cargos na alta hierarquia das forças armadas até se reformar em 1993. Deu aulas no ISCSP-IUL e no Instituto de Estudos Superiores Militares, além de ter publicado uma vasta obra sobre geopolítica e geoestratégica, contribuindo para a definição teórica da política externa portuguesa.
Contributos que levaram o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a destacar tanto o seu papel na “consolidação da democracia” como o ter sido “detentor de um pensamento inovador nos conceitos de estratégia e defesa nacional”. Loureiro dos Santos, continuou a Presidência, era “considerado um dos mais notáveis militares da sua geração e o mestre da moderna escola de estratégia em Portugal”. Também o primeiro-ministro, António Costa, sublinhou, em declarações aos jornalistas em Coimbra, a “marca indelével na construção e consolidação da nossa democracia”. “Deu grandes contributos para a definição da nossa política externa”, garantiu o primeiro-ministro.
O funeral do general Loureiro dos Santos será hoje, às 11 horas, no cemitério de Carnaxide. Ontem, o seu corpo esteve em câmara ardente na capela da Academia Militar, em Lisboa. O velório contou com a personalidades, entre as quais a de Eduardo Lourenço, filósofo, Jorge Lacão, vice-presidente do parlamento em representação de Ferro Rodrigues e de Mário Tomé, antigo deputado da UDP.