O Ministério Público é um gangue de malfeitores?


A detenção de Bruno de Carvalho foi o acontecimento que mereceu mais destaque, de longe, esta semana nas televisões. Nunca se tinha visto tantos advogados e outros especialistas em assuntos judiciais a falar


Ninguém no seu estado normal acredita que as televisões fazem diretos, durante horas, do mesmo assunto se não existir uma razão forte para isso: as audiências. Logo, só os fazem porque há quem os queira ver. Se há exageros dos jornalistas destacados, é normal que sim. Quando não há muita coisa para se noticiar e é preciso encher horas de emissão, porque os telespetadores assim o exigem, os repórteres no local “agarram-se” a tudo o que mexa e possa preencher o tempo de antena. Nada que não se faça noutros países.

Quem vê televisão não tem nenhuma arma apontada à cabeça para assistir ao que não quer. Se não gosta, pode sempre mudar de canal. Eu, por exemplo, já não consigo ver nenhum programa desportivo onde os comentadores de cada clube os defendem até à exaustão e a bacoquice enche o ecrã, já que não há nada de racional no que ali se discute.

A detenção de Bruno de Carvalho foi o acontecimento que mereceu mais destaque, de longe, esta semana nas televisões. Nunca se tinha visto tantos advogados e outros especialistas em assuntos judiciais a falar. Ouvindo o que diziam fiquei, por vezes, com a sensação de que o Ministério Público é composto por um gangue de malfeitores que acordou um dia com a intenção de fazer a vida negra ao antigo presidente do Sporting. O que, como sabemos, não faz qualquer sentido.

A justiça tem de ter liberdade para fazer o seu trabalho – embora seja óbvio que houve coisas que não correram bem, nomeadamente a detenção de Bruno de Carvalho numa cela de uma esquadra que não tem condições para receber reclusos durante 24 horas – e os arguidos precisam de se defender com os trunfos de que dispõem. Ninguém pode ser condenado antes de o julgamento transitar em julgado, mas também ninguém fica inocente dos crimes de que é indiciado só porque houve muito ou pouco alarido na comunicação social. Querer transferir o ódio de tudo o que de mau se passa para os média não me parece um bom caminho. Ah! E a história das notícias falsas ainda vai dar muito que falar. Os defensores da censura já estão de garras afiadas…