As medidas de coação de Bruno de Carvalho, ex-presidente do Sporting, e do líder da Juve Leo, Nuno Mendes, mais conhecido por Mustafá, serão conhecidas hoje. Assim sendo, os arguidos passaram a quarta noite na cela.
Ao que tudo indica, os dois suspeitos ficarão em prisão preventiva, a medida mais gravosa, à semelhança dos restantes arguidos. Recorde-se que o Ministério Público (MP) pediu prisão preventiva para os dois suspeitos, à semelhança do que fez para os restantes 38 arguidos, que já se encontram em prisão preventiva.
Bruno de Carvalho e Mustafá chegaram ao Tribunal do Barreiro por volta das 9h30 de ontem para recomeçar o interrogatório – que foi interrompido na terça-feira devido à greve dos funcionários judiciais, motivo pelo qual os dois arguidos foram apenas identificados nesse dia.
Mustafá e o antigo presidente dos leões só começaram, contudo, a ser ouvidos ontem depois de almoço. Da parte da manhã, as diligências atrasaram-se depois de Bruno de Carvalho ter exigido que o despacho da acusação fosse lido. Segundo um comunicado divulgado pelo Juízo de Instrução Criminal do Barreiro, a leitura prolongou-se até às 12h40 de ontem e, por isso, os trabalhos foram suspensos até às 14h, altura em que foram retomados “para que os arguidos [pudessem] tomar posição quanto a prestarem ou não declarações”, lê-se no comunicado.
Mustafá foi o primeiro a prestar declarações perante o juiz de instrução, Carlos Delca. O seu testemunho durou cerca de uma hora, entre as 15h e as 16h. Seguiu-se o ex-presidente dos leões, que esteve a ser interrogado durante cerca de duas horas, entre as 16h e as 18h – hora a que terminaram os interrogatórios.
Acusação concluída Segundo o “Correio da Manhã”, a acusação do MP contra os 40 suspeitos da invasão à academia de Alcochete, em maio, foi dada como concluída. Cada arguido foi indiciado por 57 crimes, à exceção de Bruno de Carvalho, Mustafá e Bruno Jacinto – funcionário da academia que servia de ponte entre os adeptos e as claques –, que não estavam na academia quando ocorreu a invasão e, por isso, não vão responder pelo crime de incêndio.
Segundo o mesmo jornal, todos os suspeitos estão indiciados por um crime de terrorismo, 12 de ofensas à integridade física agravadas, 20 de ameaças, 20 de sequestro, dois de dano agravado e um de posse de arma proibida.
Desse modo, a acusação está concluída dentro dos prazos legais. De acordo com o “Expresso”, um lapso do juiz de instrução obrigou o MP a apressar a acusação.
O MP requereu no início de novembro a especial complexidade na investigação, com o objetivo de alargar o prazo de inquérito por mais seis meses, período durante o qual os suspeitos continuariam detidos. O juiz teria mandado avançar com a especial complexidade mas, à luz da lei, os advogados têm pelo menos dez dias para responderem após serem notificados. Deste modo, caso os arguidos não fossem notificados, a especial complexidade do processo ficava sem efeito e os primeiros arguidos detidos no caso seriam obrigatoriamente libertados por excesso de prisão. Contudo, isso não acontecerá porque, segundo o “CM”, os arguidos começaram a ser notificados ontem do despacho.
Detenção Bruno de Carvalho e Mustafá foram detidos no domingo, no âmbito da investigação às agressões de Alcochete, que ocorreram em maio deste ano.
Durante a tarde de domingo foram ainda realizadas buscas à casa do antigo presidente dos leões, no Lumiar – onde foi apreendido o computador da filha de Bruno de Carvalho. A sede do Sporting também foi alvo de buscas nesse dia.
O ex-presidente foi detido por suspeitas de que terá participado, ainda que de forma indireta, na invasão à academia.
Os investigadores acreditam que nas vésperas do ataque à academia, Mustafá terá dito a Bruno Jacinto que ia haver um ataque, passando a ideia de que havia luz verde para isso acontecer. Outro fator que também levantou suspeitas, de acordo com o “CM”, foi a alteração da hora do treino da equipa das 10h para as 17h – hora a que os suspeitos entraram na academia de Alcochete.
Na altura, o semanário “Sol” deu conta de que Bruno de Carvalho teria dado carta-branca à Juve Leo para fazer “o que entendesse”. As indicações terão sido dadas um mês antes do ataque à academia, depois de o Sporting ter perdido com o Atlético de Madrid.
Tudo terá acontecido numa reunião com a claque para falar sobre os resultados negativos da equipa. O ex-presidente ter–se-á lamentado que fazia tudo pelo clube, mas que este não correspondia.
Um dos presentes na reunião – onde estariam também Mustafá e Fernando Mendes –, segundo o mesmo semanário, terá perguntado ao antigo presidente: “Queres que a gente dê um ‘aperto’ aos jogadores?” De acordo com testemunhas ouvidas pelo “Sol”, a resposta de Bruno de Carvalho foi clara: “Dou-lhes carta-branca para fazerem o que entenderem.”
Ida ao DCIAP O antigo presidente leonino, por ter tido conhecimento de que haveria um mandado para a sua detenção, quis apresentar-se no MP de forma voluntária. “Fui ao DCIAP e chegámos à conclusão de que o processo estaria aqui, no DIAP de Lisboa, mas afinal está com o juiz de instrução”, disse, justificando o porquê de não poder ter sido ouvido.
Por essa altura já lhe tinha sido recusado o estatuto de assistente. Tal como o i noticiou, a recusa já fazia prever que sobre si recaiam suspeitas, ainda que Bruno de Carvalho sempre o tivesse negado.
“Só fomos notificados hoje do indeferimento. As razões não são as que foram apontadas pela comunicação social… Como o processo não está aqui, não pudemos ser ouvidos”, afirmou, explicando a sua atitude de se apresentar voluntariamente: “O que quis fazer, na senda de supostamente ser culpado pelo que aconteceu em Alcochete e naquele festival idiótico de tochas – continuo a não perceber porque se fala num ataque ao Rui Patrício, com outro guarda-redes qualquer seria exatamente o mesmo –, foi dizer que cá estou, como sempre estive, para dar as informações de que precisarem, não são precisos mandados nem absolutamente nada.”
Contudo, as autoridades entenderam que era necessário o mandado. Com estas duas recentes detenções, o caso soma agora um total de 40 arguidos
No domingo passado, o advogado Jaime Preto não escondeu a revolta da defesa de Bruno de Carvalho: “A lei permite, portanto, estes abusos extraordinários de pretensas diligências que são, objetivamente, atuações infamantes, aviltantes e vexatórias”, disse, frisando a deslocação do antigo dirigente do Sporting ao Ministério Público para dizer “aqui estou eu, se precisarem de mim estou à disposição”. *Com Carlos Diogo Santos