Vitória no túmulo do Jamor


Dividido em dois, com o clube para um lado e a SAD para outro; vendo a equipa principal ser expulsa do seu estádio e obrigada a jogar por empréstimo longe do seu bairro; encontrando-se esta equipa situada num dos últimos lugares da tabela, a um escasso ponto da linha de água, o Belenenses, no jogo…


Dividido em dois, com o clube para um lado e a SAD para outro; vendo a equipa principal ser expulsa do seu estádio e obrigada a jogar por empréstimo longe do seu bairro; encontrando-se esta equipa situada num dos últimos lugares da tabela, a um escasso ponto da linha de água, o Belenenses, no jogo de sábado passado com o Benfica, dir-se-ia um cordeiro oferecido no relvado do Jamor ao seu adversário.

O ambiente que rodeava os jogadores de Belém era igualmente desolador: embora jogasse teoricamente “em casa”, a esmagadora maioria dos espetadores nas bancadas vestia de vermelho. Aliás, os jogos no Jamor são um verdadeiro tormento para a equipa azul. Se já no Estádio do Restelo as bancadas estavam amplamente vazias, o Estádio Nacional parece um túmulo: os jogadores estão habitualmente rodeados por um anfiteatro de pedra onde quase não se vê vivalma. E os resultados têm refletido esse drama: nesta época, a equipa do Belenenses ainda não tinha ganho ali qualquer jogo. 

Por tudo isto, a vitória do Belenenses por 2-0 foi recebida com enorme surpresa por toda gente: pelos comentadores, pelos amantes do futebol e até… pelos adeptos azuis (que já são poucos). E no fim era expectável que o treinador Silas, que começava a ter a cabeça a prémio, surgisse eufórico, cheio de si.

Assim, qual não é o meu espanto quando, na conferência de imprensa depois do jogo, vejo surgir Silas cabisbaixo e de rosto fechado. Como se tivesse perdido. E, mal começa a falar, diz que o Benfica desperdiçou inúmeras oportunidades de golo que lhe poderiam ter dado a vitória. E que, estando satisfeito por ter ganho, não gostou nada da forma como a equipa jogou. “Eu gosto muito de ganhar, mas não assim. Quando o nosso guarda-redes foi o melhor jogador em campo, isso diz tudo sobre as facilidades que demos ao adversário”, disse Silas.

Fiquei boquiaberto. O “David” Belenenses acabava de abater o “Golias” Benfica, somava três pontos, saía da zona de aflição no campeonato, o seu treinador ganhava algum tempo para respirar – e dizia-se insatisfeito?

Confesso que nunca tinha visto nenhuma reação igual ou parecida de um treinador de futebol depois de uma vitória importante. O que é normal é dizerem que mereceram vencer, que foram uns heróis, que os jogadores se superaram, etc. 

Silas, porém, recusou o politicamente correto. Não se rendeu ao habitual lugar-comum das intervenções dos treinadores depois dos desafios. E disse o que lhe ia na alma. Foi sério consigo próprio e com os telespetadores. Reconheceu que, a continuar assim, a conceder tantas facilidades aos adversários, a equipa terá muitos dissabores. Naquela noite, as coisas tinham corrido bem, mas fora um acaso.

Na hora da vitória, Silas criticou a equipa (e, implicitamente, o seu próprio trabalho). Devia haver mais treinadores com esta coragem. 


Vitória no túmulo do Jamor


Dividido em dois, com o clube para um lado e a SAD para outro; vendo a equipa principal ser expulsa do seu estádio e obrigada a jogar por empréstimo longe do seu bairro; encontrando-se esta equipa situada num dos últimos lugares da tabela, a um escasso ponto da linha de água, o Belenenses, no jogo…


Dividido em dois, com o clube para um lado e a SAD para outro; vendo a equipa principal ser expulsa do seu estádio e obrigada a jogar por empréstimo longe do seu bairro; encontrando-se esta equipa situada num dos últimos lugares da tabela, a um escasso ponto da linha de água, o Belenenses, no jogo de sábado passado com o Benfica, dir-se-ia um cordeiro oferecido no relvado do Jamor ao seu adversário.

O ambiente que rodeava os jogadores de Belém era igualmente desolador: embora jogasse teoricamente “em casa”, a esmagadora maioria dos espetadores nas bancadas vestia de vermelho. Aliás, os jogos no Jamor são um verdadeiro tormento para a equipa azul. Se já no Estádio do Restelo as bancadas estavam amplamente vazias, o Estádio Nacional parece um túmulo: os jogadores estão habitualmente rodeados por um anfiteatro de pedra onde quase não se vê vivalma. E os resultados têm refletido esse drama: nesta época, a equipa do Belenenses ainda não tinha ganho ali qualquer jogo. 

Por tudo isto, a vitória do Belenenses por 2-0 foi recebida com enorme surpresa por toda gente: pelos comentadores, pelos amantes do futebol e até… pelos adeptos azuis (que já são poucos). E no fim era expectável que o treinador Silas, que começava a ter a cabeça a prémio, surgisse eufórico, cheio de si.

Assim, qual não é o meu espanto quando, na conferência de imprensa depois do jogo, vejo surgir Silas cabisbaixo e de rosto fechado. Como se tivesse perdido. E, mal começa a falar, diz que o Benfica desperdiçou inúmeras oportunidades de golo que lhe poderiam ter dado a vitória. E que, estando satisfeito por ter ganho, não gostou nada da forma como a equipa jogou. “Eu gosto muito de ganhar, mas não assim. Quando o nosso guarda-redes foi o melhor jogador em campo, isso diz tudo sobre as facilidades que demos ao adversário”, disse Silas.

Fiquei boquiaberto. O “David” Belenenses acabava de abater o “Golias” Benfica, somava três pontos, saía da zona de aflição no campeonato, o seu treinador ganhava algum tempo para respirar – e dizia-se insatisfeito?

Confesso que nunca tinha visto nenhuma reação igual ou parecida de um treinador de futebol depois de uma vitória importante. O que é normal é dizerem que mereceram vencer, que foram uns heróis, que os jogadores se superaram, etc. 

Silas, porém, recusou o politicamente correto. Não se rendeu ao habitual lugar-comum das intervenções dos treinadores depois dos desafios. E disse o que lhe ia na alma. Foi sério consigo próprio e com os telespetadores. Reconheceu que, a continuar assim, a conceder tantas facilidades aos adversários, a equipa terá muitos dissabores. Naquela noite, as coisas tinham corrido bem, mas fora um acaso.

Na hora da vitória, Silas criticou a equipa (e, implicitamente, o seu próprio trabalho). Devia haver mais treinadores com esta coragem.