Depois da passagem da tempestade Leslie pelo território português, no último fim de semana, a chuva e o frio parecem ter vindo para ficar, oficializando a chegada do outono. O estado de tempo que se verifica, contudo, não foi provocado pela Leslie. “Não tem nada que ver. Por esta altura, a Leslie já está a fazer estragos em França. É o tempo normal para está época do ano, de transição”, esclarece o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que dá conta de previsões mais animadoras para o resto da semana.
A começar hoje: em todo o país, “será um dia com algumas abertas, sol e sem ocorrência de precipitação”, segundo o instituto. O IPMA estima mesmo que terça-feira seja o único dia, durante toda a semana, em que a chuva não se vai fazer sentir. Mas as boas notícias não ficam por aqui: hoje, a par do sol, está prevista uma “subida da temperatura máxima”.
No entanto, amanhã, a chuva estará de volta: à semelhança da frente que passou pelo país de norte para sul nesta segunda-feira, e que trouxe alguma precipitação, a passagem de uma nova frente vai resultar em chuva “ao final da manhã no Minho e Douro Litoral”, estendendo-se gradualmente às regiões do centro e depois do sul. Com a precipitação virá também o vento, “mais intenso no litoral e nas terras altas”, a par de uma nova descida das temperaturas.
Para quinta e sexta-feira estão previstos aguaceiros, sem variação significativa da temperatura. Quanto ao fim de semana, existe ainda probabilidade de ocorrência de alguma precipitação, “mas nada de muito gravoso”, assegura o IPMA. As temperaturas vão manter-se “entre os 20ºC e os 22ºC. As noites já estão mais frescas, mas os dias conservam as temperaturas amenas”, refere a entidade.
A polémica das sms No sábado – em alguns casos, já na manhã e na tarde de domingo – a Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) enviou aos cidadãos – não só residentes em Lisboa, como fora – uma mensagem escrita em nome da Proteção Civil, com conselhos relativos à passagem do furacão. “Face à passagem do furacão Leslie e recente avaliação do fenómeno atmosférico estão previstos vento e chuva fortes, afetando a cidade de Lisboa. É importante que se mantenha em casa após as 18h”, aconselhava a mensagem, que acrescentava que “os estabelecimentos na frente ribeirinha foram informados para encerrar atividades às 16h30, por questão de segurança. Solicitamos que garanta adequada fixação de estruturas, nomeadamente cadeiras, mesas e placards. Toda a zona ribeirinha requer cuidado especial, não devendo haver aí circulação nem permanência. Deve estar atento às informações da meteorologia, indicações da Proteção Civil, forças de segurança e às comunicações que as autoridades vão fazendo com atualização da situação. Para qualquer informação ou pedido de socorro devem contactar o número de emergência: 112. Esperamos contar com a sua melhor colaboração”.
Entretanto, a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) já veio garantir que abriu um processo de averiguações sobre o envio da SMS – incluindo, de que forma é que a EMEL acedeu aos contactos. Ao Observador, o responsável de comunicação da Proteção Civil, Jorge Dias, garantiu que “a autoridade da Proteção Civil não teve nada que ver com o envio da SMS da EMEL”. Até porque, segundo a mesma fonte, a EMEL só teve autorização para o envio de mensagens pela Proteção Civil “apenas para fins de incêndios rurais”.
De resto, à Lusa, a CNPD avançou que recebeu três queixas relativas ao episódio das mensagens, recusando comentar sem “estar na posse de toda a informação necessária para fazer uma avaliação sobre a legitimidade da atuação da empresa”.
Os estragos A tempestade Leslie provocou 28 feridos e 61 desalojados. Esteve na base de falhas de eletricidade que afetaram centenas de milhares de pessoas e motivou 2495 ocorrências – devidas principalmente a deslizamentos de terras e quedas de árvores, que obrigaram à intervenção no terreno de 8217 operacionais da Proteção Civil.
Entre os 61 desalojados, a maioria – 57 – pertence ao distrito de Coimbra, enquanto três são moradores do distrito de Viseu e um do de Leiria.
A lista dos distritos mais afetados é encimada por Coimbra, seguido de Leiria, Aveiro, Viseu, Lisboa e Porto. Soure decretou mesmo calamidade pública, devido ao facto de 90% das habitações do concelho terem ficado danificadas pela passagem da tempestade Leslie.