A ópera bufa de António Costa


Depois do caricato caso de Tancos, António Costa deitou fora alguns ministros que prepararam o Orçamento e substituiu-os por outros que não participaram na sua elaboração, ficando-se com a sensação de que podem ser só verbos-de-encher


1. Convenhamos que depois do desaparecimento, achamento e torrente de explicações esdrúxulas sobre Tancos e a subsequente e inevitável demissão de Azeredo Lopes, António Costa superou-se e brindou o país com a hilariante cena de ter posto uma série de ministros a discutir o Orçamento e a seguir despedi-los. Um verdadeiro artista!

Tudo foi pensado e feito no momento em que rigorosamente nenhum comentador, jornalista ou politólogo vaticinava a operação. Costa, um dos políticos mais imprevisíveis e conhecedor de todas as táticas e manhas, esteve à espreita, urdiu o plano e executou-o friamente. Notável!

A sede de ir para o governo é tal que, pelos vistos, os escolhidos vindos de novo para o executivo, sejam ministros ou secretários de Estado, aceitaram de imediato a inesperada prebenda, não se importando minimamente da figura que pode significar uma aceitação no quadro de uma remodelação em vésperas de uma discussão de Orçamento do qual pouco ou nada sabem. Mais parecem meros verbos-de-encher, embora tenha de se lhes dar o benefício da dúvida.

Salvo no caso da Defesa, pasta para a qual Cravinho-filho se diz ser escolha acertada, não havia necessidade e urgência aparente de remodelar, sendo particularmente penoso o despedimento de um ministro da Saúde que conseguiu manter a calma em todas as circunstâncias, apesar de ser vítima da austeridade encapotada de Centeno.

Mesmo admitindo que alguns governantes tivessem anteriormente manifestado vontade de sair, talvez não fosse pior Costa segurá-los, pedindo-lhes esse sacrifício. É claro que, por exemplo, no caso da Cultura, estava-se perante uma objetiva inexistência. Há, aliás, indicações de que a nova ministra exerceu todas as suas funções anteriores, no governo e na Câmara de Lisboa, com competência e rigor, o que permite vislumbrar melhorias nas áreas e empresas que tutela e que tão mal se encontram.

Uma das escolhas que não surpreende mas tem o seu quê de caricato é a de Siza Vieira. O novo titular da Economia e grande amigo de Costa é aquele ministro jovem e bem parecido que não sabia que não podia ser gerente de uma empresa (criada na véspera da posse) e governante ao mesmo tempo. Espera-se há meses que o Tribunal Constitucional explique se essa falha ética é ou não um impedimento definitivo à permanência no governo. Pelos vistos, António Costa confia que não há problema, o que indica que tem boas fontes no dito tribunal. Agora, a acumulação de ministro Adjunto com a Economia obrigou a uma manobra. Siza tem esse novo setor, mas não manda na energia, que é o mais importante. Atabalhoadamente, o Ministério do Ambiente foi acrescentado com a designação de Transição da Energia. É bonito! Mas a verdade é que Siza não pode mexer na energia por incompatibilidade de interesses profissionais passados. Em concreto, estão criadas as condições para que haja um ministro aparente e outro na sombra para tratar da energia.

Voltando a António Costa, há que lhe reconhecer méritos. Está novamente visto que nunca dá ponto sem nó. Ele lá sabe como quer pilotar o barco até às duas próximas eleições, que são o objetivo essencial. É nesse sentido que se deve entender o facto de ele não mudar o núcleo duro do governo. Costa é o número um, Centeno é a vedeta goleadora de serviço, Santos Silva e Vieira da Silva são os politicões de sempre que Sócrates promoveu e do qual ambos se afastaram logo que a criatura colapsou por motivos judiciais.

 

2. A propósito de Vieira da Silva e das suas habilidades habituais, há que ver mesmo se correspondem à verdade as informações dadas pelo PCP e o Bloco de Esquerda a respeito da eliminação do fator de sustentabilidade em certas pensões. Os dois partidos anunciaram uma coisa, mas a verdade é que não se viu ainda confirmação do governo. Ora, sabe-se que foi Vieira da Silva que inventou essa monstruosidade no tempo do seu compincha Sócrates. É um caso de ver para crer. O Bloco e a jovem vanguarda do PCP podem ser carne tenrinha para ele e para os seus burocratas da Segurança Social. Há que confirmar se, efetivamente, quem tem mais de 63 anos e mais de 40 de descontos deixa de ser penalizado com os 14% do fator de sustentabilidade a partir de janeiro ou se a coisa não é bem assim como algumas notícias referenciam. É que aparece uma segunda condição sub-reptícia: isso só se aplica a quem tivesse 40 anos de descontos aos 60 de idade. Ou seja, quase nada muda. Com papas e bolos, o Vieira da Silva engana os tolos dos outros partidos todos. Repugnante!

 

3. Maria Flor Pedroso é a nova diretora de informação da RTP. Jornalista da casa, é oriunda da área da rádio, mas tem experiência de televisão. Sobretudo é uma profissional com provas dadas de isenção, rigor e exigência, o que é uma raridade. Flor é a primeira mulher a assumir estas funções e não é por cotas, mas por mérito próprio. Perdem os ouvintes da Antena 1, ganham os telespetadores da RTP. Quanto a Paulo Dentinho, vai continuar na empresa, depois de nunca ter mostrado maturidade suficiente para ser diretor de informação, como demonstram as suas recentes opiniões nas redes sociais e uma completa ineficácia na cobertura do incêndio da serra de Sintra, ocorrido há dias.

 

Jornalista