Num só dia, duas histórias de encantar – e de inspirar – para pilotos femininas. Em França, a espanhola Ana Carrasco, de apenas 21 anos, tornou-se a primeira mulher a conquistar um título mundial de motociclismo de velocidade ao vencer o campeonato de Supersport 300, no circuito de Magny-Cours; nos Estados Unidos, a ainda mais jovem Hailie Deegan (17 anos) foi igualmente a primeira a vencer uma corrida da Nascar K&N Pro Series, no NAPA Auto Parts/Idaho 208, em Meridian.
Carrasco era já a primeira mulher de sempre a ganhar uma corrida num mundial de motociclismo: aconteceu no ano passado… no Algarve, na etapa de Portimão do campeonato que venceu este domingo. “Ser a primeira mulher da história a consegui-lo torna-o ainda mais especial”, dizia então. Agora, deu mais um passo rumo à eternidade.
Não precisou de mais do que um 13.º lugar na 11.ª e última etapa do campeonato para assegurar a vitória final, que dedicou ao compatriota Luis Salom, falecido a 3 de junho de 2016, com apenas 24 anos, durante uma corrida do Mundial de Moto2. “Estou supercontente, mas foi muito difícil chegar aqui. Quero agradecer o apoio a toda à equipa Kawasaki, que trabalhou muito, e também à minha família, que sempre me apoiou durante estes anos, e aos meus amigos”, referiu Carrasco, que desde sempre mostrou estar destinada a triunfar no desporto motorizado.
Mais precoce era difícil Em 2001, com somente quatro anos, fez a primeira corrida – provavelmente influenciada pelo pai, mecânico do multi-campeão espanhol (e mundial de 250cc) José David de Gea. Em 2009, tornou-se a primeira rapariga a vencer os campeonatos de Extremadura e Murcia 125, estreando-se em Moto3 em 2013. Também naquela competição faria história: foi a mais jovem mulher a conquistar pontos na terceira categoria do campeonato do mundo de motociclismo, pilotando uma KTM.
O sonho de chegar ao MotoGP acabou por ficar posto de parte por falta de apoio de patrocinadores e equipas, mas abriu-se então a janela do Supersport 300. Aí, em cima de uma Kawasaki Ninja 300, seria pioneira em tudo: volta rápida, pole-position, liderar um mundial, vencer uma etapa e agora ser campeã do mundo. “Ser mulher torna tudo mais difícil, porque tanto para as equipas como para os patrocinadores é complicado fazer crer que uma mulher pode ganhar. Custou-me muito conseguir ter acesso a equipamentos que me permitissem consegui-lo”, revelou.
Esta época, Ana Carrasco mudou de equipa – da ETG Racing para a DS Junior – e de mota, pilotando agora uma Kawasaki Ninja 400… mas apenas graças a dinheiro conseguido através de crowdfunding, depois de inesperados problemas orçamentais que se abateram sobre a equipa. A piloto murciana, contudo, nunca se deixou abater pelas dificuldades, superou todos os obstáculos e acabou mesmo por conquistar a prova. Vencer um Mundial de MotoGP já não estará nos seus horizontes, mas o contributo para o futuro está feito.
Filha de motociclista… A proeza conseguida por Hailie Deegan não teve a mesma magnitude, mas não deixa ainda assim de ser admirável. A adolescente, filha do consagrado Brian Deegan, profissional de motocrosse freestyle, corre desde os oito anos e já em 2013, aos 12 anos, havia entrado para a história das corridas Lucas Oil Off Road, sagrando-se a primeira rapariga a vencer a competição.
Agraciada com o troféu de Jovem Piloto da Nascar em 2017, Deegan tinha até agora conseguido já dois segundos lugares na Nascar K&N Pro Series, o último dos quais a semana passada. “Este é o melhor dia da minha vida. Não há nada melhor do que isto. As pessoas não entendem quantos dias, quantas horas investi para chegar aqui, o quanto trabalho para chegar a este momento”, atirou no final da corrida a jovem, que assumiu o comando na última volta, por troca com o companheiro de equipa Cole Rouse.
Com este triunfo, a piloto da Bill McAnally Racing assumiu a liderança da classificação de ‘rookie’ do ano.