Turismo. Depois de números recorde, setor começa a dar sinais de abrandamento

Turismo. Depois de números recorde, setor começa a dar sinais de abrandamento


No Dia Mundial do Turismo, o i quis saber o estado do setor e, apesar de continuarmos a ser “campeões” na captação de turistas, os números já começaram a abrandar em julho. Mas o mercado continua otimista e a falar nos “melhores anos de sempre”


Depois de meses e meses de crescimento, o setor do turismo parece dar algum sinal de alívio. O número de turistas tem vindo a abrandar e essa tendência já é visível nos últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Portugal recebeu 2,2 milhões de hóspedes e registou 6,7 milhões de dormidas em julho, o que representa uma queda de 2,1% e 2,8%, respetivamente, face a igual período do ano passado. Nos primeiros sete meses do ano, os hóspedes tinham aumentado 1,6%, enquanto as dormidas recuaram 0,3%. Mas nem assim o mercado parece esmorecer e continua a falar nos “melhores anos de sempre”

Só as regiões Norte e Alentejo escaparam a esta quebra. No Norte assistiu-se a um acréscimo de 2% nas dormidas, tanto de residentes como de não residentes, para um total de 795 mil em julho. Já no Alentejo, houve uma estabilização (0,1%) em torno das quase 227 mil dormidas; no entanto, a captação de mais estrangeiros compensou o recuo nos portugueses.

Esta redução no setor ficou a dever-se ao recuo de 1,6% dos turistas estrangeiros, para 4,7 milhões. O Algarve e a Madeira, onde os efeitos da retoma da atividade turística na Turquia, Egito e Tunísia são mais visíveis, foram as regiões mais afetadas (-6,5%).

O Reino Unido, principal mercado emissor de turistas para o país, voltou a diminuir pelo sétimo mês consecutivo, desta vez 11,7%. Desde o início do ano, a proporção de turistas ingleses já caiu 8,8%. Também o número de franceses (- 5,9%), alemães (-1,6%) e espanhóis (-1,3%) é cada vez menor. A preocupação com os números de julho só não é maior porque houve, por exemplo, mais canadianos (+48,5), norte-americanos (+33,6%) e brasileiros (+11,6%) a procurar a hotelaria nacional. Em contrapartida, os residentes contribuíram com dois milhões de dormidas, uma subida de 1,6%.

Mas nem tudo são más notícias: apesar de termos recebido menos turistas, as receitas das unidades hoteleiras subiram. O rendimento médio por quarto disponível (RevPAR) aumentou 5,6%, para os 77,6 euros. O RevPAR foi mais elevado no Algarve (103,2 euros). Os hotéis de cinco estrelas e as pousadas foram os mais lucrativos (103,6 euros e 79,8 euros, respetivamente).

Ainda assim, são valores inferiores quando comparados com os avançados pela AHP, que aponta para um aumento do preço médio por quarto ocupado (ARR) nos 11%, para 117 euros, enquanto no Algarve os valores chegaram a atingir os 162 euros.

Oferta alternativa Mas não é só da oferta hoteleira que vive este setor. O alojamento local continua a dar um “empurrão” ao crescimento desta atividade. Por exemplo, o Airbnb registou quase 1,4 milhões de hospedes em Portugal este verão. Este número representa um aumento de 18% nas chegadas de visitantes ao nosso país. De acordo com a plataforma, Portugal continua a ser um dos destinos mais populares da Europa entre os viajantes de todo o mundo, que gastaram no mercado nacional uma média de 82 euros por noite.

Lisboa, Porto e Lagos permanecem no topo dos destinos mais visitados através do Airbnb, seguidos de Albufeira, Portimão, Faro, Ponta Delgada, Quarteira, Vila Nova de Gaia e Tavira. Relativamente a destinos-tendência, Moura (Beja), Vendas Novas (Évora), Paços de Ferreira, Leça do Balio e Canelas (Porto) foram as localidades com maior crescimento entre os viajantes que escolheram o nosso país este verão.

Também para os nacionais, Portugal continua a ser o destino preferido, seguido de Espanha, Itália, França, Croácia, Reino Unido, Estados Unidos, Grécia, Alemanha e Holanda. “De facto, o número de portugueses que ficaram em alojamentos anunciados na Airbnb este verão aumentou 32%, prova de que mais e mais pessoas no país querem descobrir um destino como se fossem um habitante local”, diz Arnaldo Muñoz, Country Manager para Portugal da Airbnb Marketing Services. No total, cerca de 230 mil hóspedes portugueses fizeram check-in em alojamento anunciados através da plataforma neste verão, incluindo 66 mil famílias.

Peso na economia Apesar dos prós e dos contras em torno do crescimento do setor, há um facto que não deixa espaço para dúvidas: o turismo é cada vez mais um fator chave quando se fala na economia em Portugal. E o nosso país é um dos que mais depende do setor, que contribui para cerca de 9% do produto interno bruto (PIB). Só Espanha se mantém acima de Portugal, a liderar a tabela, onde o turismo vale diretamente 11% do PIB – ultrapassamos assim, França, Itália, Áustria, Hungria e Grécia.

Os dados são de um estudo que se foca nas tendências do turismo na União Europeia na última década e até 2016. De acordo com a Organização Mundial do Turismo, os dois países ibéricos lideram o crescimento do setor na Europa, com Portugal a ter a segunda maior percentagem não apenas da Europa, mas também dos países desenvolvidos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

O turismo português vale ainda 20% das exportações do país e 58% das exportações na área dos serviços. Por outro lado, apenas cerca de 40% dos portugueses fazem férias no estrangeiro, o que contribui para um saldo positivo na balança da economia. Entre as receitas dos turistas que chegam a Portugal e dos portugueses que saem, o país é um dos que mais fica a ganhar.