“O assassino foi identificado: um staphylococcus aureus.” Trata-se do “assassino” de Caravaggio, nas palavras da equipa de investigadores do Hospital Universitário Mediterrâneo de Marselha, em França, que 400 anos após da morte do pintor italiano, chegou à conclusão de que a causa da sua morte não foi, como se acreditou durante anos, a sífilis, mas uma infeção bacteriana que terá decorrido de um ferimento que sofreu num duelo travado semanas antes da sua morte.
O grupo de cientistas chegou à causa da morte do pintor italiano através da análise de uma recolha de polpa dentária extraída das suas ossadas. “Graças à cooperação com antropólogos italianos e com a microbiologista Giuseppe Cornaglia, as equipas do Hospital Universitário Mediterrâneo de Marselha conseguiram extrair dentes do esqueleto de Caravaggio. Os investigadores extraíram a polpa dentária, rica em vasos sanguíneos”, informou o instituto num comunicado ontem citado pela “Associated Press”. “Combinando três métodos de deteção do ADN, ‘o assassino foi identificado: um staphylococcus aureus’”, explicaram no texto.
As ossadas que se acredita corresponderem aos restos mortais do pintor foram encontradas em 2010 num antigo cemitério em Porto Ercole, na Toscana. Local onde morreu, a 18 de julho de 1610, aos 38 anos, Michelangelo Merisi da Caravaggio, depois de, entre duas semanas a um mês após de ter ficado ferido num duelo, ter começado a apresentar sintomas de febre.
Depois de realizados testes de ADN e de carbono-14 às ossadas, concluiu-se, com uma taxa de 85% de fiabilidade, que se tratavam dos restos mortais de Caravaggio. Os resultados das análises às ossadas revelaram ainda uma alta concentração de chumbo, que “provinha provavelmente das suas tintas – era conhecido por ser extremamente desorganizado com elas”, informou na época Silvano Vinceti, que liderou a investigação e que já na altura acrescentava: “O envenenamento por chumbo não mata por si só – acreditamos que ele tinha feridas infetadas e sofria de uma insolação – mas foi uma das causas.”
Nascido em Milão a 28 de setembro de 1571, Caravaggio passou os seus últimos quatro anos de vida entre Nápoles, Malta e a Sicília, fugido de Roma depois de sido acusado do homicídio do procurador Ranuccio Tomassoni num duelo. Um dos muitos, aliás, que terá travado.
Mais de 400 anos após a sua morte, a descoberta desfaz vários dos mitos criados em torno de um dos nomes maiores da pintura italiana. Acreditava-se, por exemplo, que poderia ter morrido de sífilis. Autor de obras como a “Flagelação de Cristo” (1607) ou “Decapitação de São João Batista” (1608), Caravaggio deu início a uma revolução na pintura do século XVII com o uso de fortes contrastes entre luz e sombra.