O ocaso de Mourinho?


JOSÉ MOURINHO NÃO DEVERIA ter ido para o Manchester United, o clube onde brilhara Alex Ferguson durante 27 anos. E não digo isto agora – penso-o desde a altura em que a sua ida para Manchester foi anunciada. Depois dos grandes sucessos no Porto, Chelsea e Inter, que o levaram aos píncaros do futebol mundial,…


JOSÉ MOURINHO NÃO DEVERIA ter ido para o Manchester United, o clube onde brilhara Alex Ferguson durante 27 anos. E não digo isto agora – penso-o desde a altura em que a sua ida para Manchester foi anunciada.

Depois dos grandes sucessos no Porto, Chelsea e Inter, que o levaram aos píncaros do futebol mundial, Mourinho começou a somar desaires.

Foi despedido do Chelsea (onde voltou e se calhar não deveria ter voltado), depois de ter saído de Madrid pela porta dos fundos. Nesta altura, Mourinho devia ter pensado muito bem na sua vida e na forma de dar a volta à carreira.

É CERTO QUE O CONVITE do Manchester era muito aliciante. Apesar dos desaires recentes de Mourinho, um dos maiores clubes do mundo acreditava nele e contratava-o com um ordenado principesco.

Mas José Mourinho não precisava de dinheiro. Só uma das indemnizações que recebera dava-lhe para viver como um nababo até ao fim da vida. A questão que se colocava não era financeira mas desportiva – e aí esse convite encerrava um elevadíssimo risco. Pode mesmo dizer-se que era uma ratoeira.

Se Mourinho tivesse sucesso, todos diriam que não fazia mais do que a sua obrigação. Com as estrelas que tinha e mais aquelas que iria buscar, o treinador estava obrigado a ter bons resultados. Mas se falhasse, confirmaria os insucessos dos últimos anos e entraria em declínio.

Dito de outro modo, Mourinho tinha muito a perder no Manchester United e pouco a ganhar. Se ganhasse, era o clube que ganhava; se perdesse, era ele que perdia. Até porque o fabuloso ordenado que auferia obrigava-o às vitórias.

MAS NÃO ERA SÓ ISTO. É que o tipo de futebol de Mourinho não se adaptava ao Manchester United. Os red devils habituaram-se durante décadas a praticar um futebol aberto, de ataque, espetacular. Ora o futebol de Mourinho era tudo menos isso: era um futebol cínico, à italiana, assente numa grande eficácia defensiva. Mourinho não se importa de marcar só um golo se não sofrer nenhum. 

Portanto, por todas as razões, o Manchester não era o clube indicado para José Mourinho relançar a carreira e regressar aos êxitos. Mourinho devia ter voltado ao princípio. Devia ter pegado numa equipa de segundo plano – como era o Chelsea quando ele chegou a Inglaterra -, uma equipa com história mas sem ganhar nada há muito tempo, e pô-la de novo no top.

MOURINHO DEVIA TER recomeçado do zero, mostrando que mantinha todas as suas capacidades intactas. Numa equipa sem o hábito de vencer, tudo o que conseguisse era mérito seu.

Mas foi meter-se no Manchester, onde tudo se passa ao contrário. Exigem-lhe o céu. Cada derrota transforma-se num drama. A culpa é dele: se tivesse sido mais humilde, aceitando treinar um clube mais modesto, talvez estivesse hoje outra vez a caminho de ser de novo o special one. Assim, com oito pontos perdidos logo no início do campeonato, está a confirmar o ocaso.
 


O ocaso de Mourinho?


JOSÉ MOURINHO NÃO DEVERIA ter ido para o Manchester United, o clube onde brilhara Alex Ferguson durante 27 anos. E não digo isto agora – penso-o desde a altura em que a sua ida para Manchester foi anunciada. Depois dos grandes sucessos no Porto, Chelsea e Inter, que o levaram aos píncaros do futebol mundial,…


JOSÉ MOURINHO NÃO DEVERIA ter ido para o Manchester United, o clube onde brilhara Alex Ferguson durante 27 anos. E não digo isto agora – penso-o desde a altura em que a sua ida para Manchester foi anunciada.

Depois dos grandes sucessos no Porto, Chelsea e Inter, que o levaram aos píncaros do futebol mundial, Mourinho começou a somar desaires.

Foi despedido do Chelsea (onde voltou e se calhar não deveria ter voltado), depois de ter saído de Madrid pela porta dos fundos. Nesta altura, Mourinho devia ter pensado muito bem na sua vida e na forma de dar a volta à carreira.

É CERTO QUE O CONVITE do Manchester era muito aliciante. Apesar dos desaires recentes de Mourinho, um dos maiores clubes do mundo acreditava nele e contratava-o com um ordenado principesco.

Mas José Mourinho não precisava de dinheiro. Só uma das indemnizações que recebera dava-lhe para viver como um nababo até ao fim da vida. A questão que se colocava não era financeira mas desportiva – e aí esse convite encerrava um elevadíssimo risco. Pode mesmo dizer-se que era uma ratoeira.

Se Mourinho tivesse sucesso, todos diriam que não fazia mais do que a sua obrigação. Com as estrelas que tinha e mais aquelas que iria buscar, o treinador estava obrigado a ter bons resultados. Mas se falhasse, confirmaria os insucessos dos últimos anos e entraria em declínio.

Dito de outro modo, Mourinho tinha muito a perder no Manchester United e pouco a ganhar. Se ganhasse, era o clube que ganhava; se perdesse, era ele que perdia. Até porque o fabuloso ordenado que auferia obrigava-o às vitórias.

MAS NÃO ERA SÓ ISTO. É que o tipo de futebol de Mourinho não se adaptava ao Manchester United. Os red devils habituaram-se durante décadas a praticar um futebol aberto, de ataque, espetacular. Ora o futebol de Mourinho era tudo menos isso: era um futebol cínico, à italiana, assente numa grande eficácia defensiva. Mourinho não se importa de marcar só um golo se não sofrer nenhum. 

Portanto, por todas as razões, o Manchester não era o clube indicado para José Mourinho relançar a carreira e regressar aos êxitos. Mourinho devia ter voltado ao princípio. Devia ter pegado numa equipa de segundo plano – como era o Chelsea quando ele chegou a Inglaterra -, uma equipa com história mas sem ganhar nada há muito tempo, e pô-la de novo no top.

MOURINHO DEVIA TER recomeçado do zero, mostrando que mantinha todas as suas capacidades intactas. Numa equipa sem o hábito de vencer, tudo o que conseguisse era mérito seu.

Mas foi meter-se no Manchester, onde tudo se passa ao contrário. Exigem-lhe o céu. Cada derrota transforma-se num drama. A culpa é dele: se tivesse sido mais humilde, aceitando treinar um clube mais modesto, talvez estivesse hoje outra vez a caminho de ser de novo o special one. Assim, com oito pontos perdidos logo no início do campeonato, está a confirmar o ocaso.