Candeia que vai à frente alumia duas vezes


Mais do que candeia, Trump é um farol que guia, anima e deslumbra a extrema-direita


O provérbio que dá título a esta crónica pode ser entendido como loa à vantagem de quem vai na dianteira, plausível, e de quem lhe segue os passos, desimpedida. Assim será, para o bem e para o mal. E o que agora vem à baila é mesmo para o mal: os avanços da extrema-direita no mundo ocidental. Na Europa, a extrema-direita já por aí rabeava, mas sem causar grande mossa. Porém, após a eleição de Trump, em Novembro de 2016 – qual farol, mais do que candeia, a encandear a turbamulta ultradireitista, deslumbrada – ela ganhou ânimo. A partir de então, para citar alguns, Viktor Orban viu-se reforçado na Hungria e bem acompanhado na governança (governo ou parlamento), da Bulgária, da Holanda, da Áustria, da Alemanha, até à girândola final com a eleição do novo governo italiano. Como se não bastasse, o “trumpismo” – desengane-se quem pensar que o destrambelhado presidente americano, ou os falcões que o suportam, não segue uma agenda bem delineada – tende a alastrar pelo continente americano. Explicação possível para o que está a acontecer no já tão desafortunado Brasil que vai a eleição presidencial em Outubro próximo: Jair Bolsonaro, criatura execrável e candidato ao cargo, vai de vento em popa, e admite-se mesmo a sua vitória no cenário de inelegibilidade de Lula – a sentença do Tribunal Superior Eleitoral é passível de recurso, mas… Para rematar, em Novembro há eleições intercalares nos Estados Unidos e, não vá o diabo tecê-las, Trump já largou ameaças: se os Republicanos perderem será o caos. E como começam a dar à estampa rumores dum presumível “impeachment”, ele não está com meias tintas e avisa que isso traria ao povo americano uma desgraça ainda maior. Dito com a maior lata!

Para aliviar o sufoco causado pela reflexão aqui manifestada, nada como dar uma volta por praias minhotas. Ir até ao Cabedelo, em frente a Viana do Castelo, revelou-se uma agradável surpresa. Além do areal principal, ainda extenso, há outra praia mais pequena mesmo na foz do rio Lima. Contudo, a descoberta mais interessante foi caminhar ao longo dos passadiços de madeira que, além de atravessarem o cordão dunar, levando à praia, se enfiam no vasto pinhal que antecede o areal, e é um deleite! Pelo caminho, dá-se de caras com um complexo turístico todo emadeirado, com uma série de bangalós plantados entre os pinheiros do espaço exterior. Daí, depois de atravessar a Ponte Eiffel, a ponte rodoferroviária de Viana, enviesada nas pontas – na altura a cidade estava ainda na ressaca da Romaria d’Agonia, a rainha das romarias minhotas – e fazer uns quantos quilómetros, arriba-se à praia do Carreço, na freguesia (rural) do mesmo nome. Por sobre as dunas corre o passadiço de madeira, com bancos para descanso de quem se perde em contemplação. E não é para menos: de um lado, campos de milho espigado a ondular à brisa, ao fundo, recortando o horizonte, a serrania enfileirada; do outro lado, o mar, imensamente azul para se destacar do céu, também azul. Um mar a fazer-se de rio, de pele esticada, serena, apenas uns bicos de espuma branca a roçar a areia, mas a dar-se ao respeito, rumorejando. E uma fiada de rochas, negras, a resguardar o areal, e o mar a escorrer por entre elas, todo piscinal. Lindo!

 

Gestora

Escreve quinzenalmente