1. Tal como o algodão, os números não enganam. Apesar do crescimento e do desenvolvimento da nossa economia, muito devido às exportações, entre elas o turismo (que muitos insistem em destruir de várias maneiras), a verdade é que, comparativamente, somos dos países da União Europeia que menos têm progredido dentro da comunidade mais rica do mundo. Ou seja, somos os pobres dos ricos.
Contra nós funcionam circunstâncias objetivas como a de sermos um país periférico e distante dos grandes centros de consumo e de trocas comerciais da Europa comunitária.
Mas, mais ainda do que isso, há o facto de não sabermos desenvolver uma estratégia que seja efetivamente atrativa para os investidores, cansados da falta de infraestruturas adequadas, da burocracia e da constante modificação das condições legais, nomeadamente as fiscais. O nosso último grande sucesso na captação de investimento externo continua a ser a Autoeuropa, o que diz tudo.
Se não fossem os problemas citados, a posição geográfica seria superável, visto que o país é aprazível, o ambiente social é de tranquilidade e politicamente há uma estabilidade que não é suscetível de ser alterada de um dia para o outro.
São condições raras nos dias de hoje, na Europa, e que os nossos governos não têm sabido explorar, como está patente. Citem-se dois casos: o entupimento do aeroporto da Portela, que impede a vinda de cerca de um milhão de passageiros/ano, muitos dos quais seriam turistas – os quais é falso que se concentrem apenas em Lisboa e Porto, conforme pode constatar qualquer pessoa que se desloque pelo país. O outro tem a ver com o Algarve. Como se justifica que a TAP, uma companhia cuja maioria do capital é do Estado, não voe para Faro a partir de certos pontos essenciais da Europa? Situações como esta prejudicam a nossa economia por incúria governativa.
Noutro campo pode-se citar Sines, um porto fantástico pensado antes do 25 de Abril de forma visionária. Mas não temos a partir de lá uma linha de comboio rápida para exportar as mercadorias.
Um país sem estratégia permanente de competitividade perde-se num mundo em que os outros desenvolvem sistematicamente planos agressivos, começando na formação e preparação da população, passando pela implantação de uma fiscalidade estável e culminando numa justiça rápida, eficiente e muito menos processual do que a nossa.
Tudo isto sem falar, por exemplo, de países que dispõem de uma banca nacional sólida que ajuda a economia por via do financiamento de empresas, ao contrário do que sucede cá, onde praticamente o que a nossa banca apoia é a compra de habitação, com os riscos que tal comporta, como já vimos em várias crises. Isto para já não falar da circunstância de a maioria dos bancos serem estrangeiros, com exceção dos que estão aflitos (como o Montepio) ou da Caixa Geral de Depósitos que, entretanto, vai deixando de ter cobertura nacional, dando assim espaço a outros de fora.
Outra matéria preocupante tem a ver com a demografia. Somos cada vez menos. Precisamos de ter mais gente vinda de fora (mas para trabalhar) e de mais nascimentos. É verdade. Mas pensar nisso como solução para a segurança social é demagogia. Numa coisa, a esquerda tem razão: o financiamento desse setor só pode ser feito através de um acréscimo da contribuição dos negócios de grande rentabilidade e pouca mão-de-obra.
No nosso tecido social mantêm-se, entretanto, enormes clivagens nos grandes centros urbanos (onde há pobreza escondida) e entre uma população urbana e a de um interior cada vez mais abandonado, fragilizado e esquecido, salvo pela Autoridade Tributária. E não vale a pena virem com dados estatísticos sobre o consumo para negar esta evidência, porque todas as tabelas estão desvirtuadas pelos gastos de turistas, que impulsionam praticamente todos os setores.
Equacionar questões globais é essencial para que Portugal possa projetar um futuro em que consiga progredir mais rapidamente e sem arrastar uma dívida pública e privada gigantesca. Se não dermos a volta à situação, corremos o risco de deixarmos de ser aceites na união, voltando os tempos em que a nossa saída do euro e da própria UE chegou a ser defendida, depois da desgraça nacional que foi o consulado de Sócrates e do seu surrealista ministro Teixeira dos Santos.
2. Sem surpresa, Trump anunciou que tenciona recandidatar-se a um segundo mandato. O que é absolutamente prodigioso é que a criatura tem forte possibilidade de ganhar. Difícil mesmo foi a sua primeira e inesperada eleição, independentemente de ter tido ou não o apoio de Putin através de manobras manipuladoras. Hoje, Trump está instalado, só arranja problemas ao mundo, mas há uma fatia larga dos americanos mais básicos que estão contentes com o que acham ser um renascimento dos EUA por via de uma política desafiadora e confrontativa. Trump pode ser um bronco, mas não é estúpido. Faz subir as tensões a um ponto de pré-rutura para depois pacificar a situação, armando-se em construtor de diálogo quando, na realidade, inventa problemas. Foi isso que fez com a Coreia do Norte do seu amigo doido. É também o que faz com Putin e com Erdogan. Mas com a Europa é diferente. Aí, Trump quer mesmo uma guerra comercial a sério. E mal vai se a União Europeia não perceber isso e não reagir em unidade, com ou sem os ingleses envolvidos, apesar do Brexit.
Jornalista