Descongelamento. Professores desiludidos com sindicatos por causa das negociações

Descongelamento. Professores desiludidos com sindicatos por causa das negociações


Resultado da última reunião entre o governo e sindicatos desanimou e desiludiu os professores. O i falou com vários docentes para quem a reunião resultou “em nada”. Alguns relacionam a posição dos sindicatos com ligações a partidos políticos     


Desiludidos, desanimados e irritados. Ao fim de um mês de greve às avaliações, são estes os sentimentos de muitos professores depois de terem ouvido o resultado da reunião entre o governo e a plataforma de dez sindicatos – onde estão incluídos a FNE e a Fenprof – que assinalou o reatar das negociações sobre o descongelamento do tempo de serviço. 

Oito meses depois do início das negociações vão ser feitas novas contas por uma comissão técnica criada para apurar o custo da medida e as negociações vão ser interrompidas em agosto para serem retomadas novamente em setembro, com os novos números em cima da mesa. Os sindicatos dizem que houve uma mudança no tom do discurso do governo para considerar o tempo de serviço congelado e consideram ser uma vitória que as contas sejam refeitas.  Mas é uma solução que os professores consideram ser “nada” e dizem mesmo que as suas expectativas foram defraudadas. 

Estas são algumas das várias críticas que fluem no rescaldo da reunião tanto nas redes sociais, como nos blogues específicos da Educação e em alguns grupos do Facebook, por onde já se questiona se vão continuar a aderir aos protestos já agendados pela plataforma sindical para 17 de setembro e para a semana de 5 de outubro. 

As críticas Com um mês de greve os professores tinham a expectativa de que fosse apresentada uma proposta mais concreta, explicaram ao i vários docentes. “Foi para isto que fizemos greve?”, é a frase que mais se repete em vários grupos de professores.

Também a Paulo Guinote, professor e autor do blogue “O Meu Umbigo”, chegaram vários emails a tecerem críticas à posição dos sindicatos. “Os professores estão muito irritados com os sindicatos porque já andamos nisto há demasiado tempo para não nos deixarmos enganar com estas conversas”, frisa Guinote. 

O cenário traçado pelo professor é de “um desânimo muito grande”: “Sentimo-nos encurralados nesta situação pelo ministério e pelos sindicatos que reagiram demasiado tarde”. Considera mesmo que a reunião “não serviu para nada”. Por tudo isto,  Paulo Guinote duvida “que em setembro exista muita gente disponível seja para o que for”. 

O mesmo diz Arlindo Ferreira, diretor escolar e autor de um dos blogues de educação mais visitados de Portugal, o “DeArlindo”. Pelos vários emails que recebeu, Arlindo Ferreira apercebeu-se de que “muitos professores não ficaram contentes”: “Tinham as expectativas de que pudesse acontecer alguma coisa depois da greve, foi para isso que a fizeram”. Além disso, “as contas já estão feitas e já foram apresentadas várias vezes”, remata Arlindo Ferreira.   

O sentimento é partilhado, por exemplo, por Maurício Brito, professor de Educação Física do agrupamento de escolas de Ponte Lima, para quem o resultado da reunião provocou “uma desilusão muito grande”, que “aparenta ser mais uma coreografia do que uma negociação efetiva”. Maurício Brito avisa ainda que “os professores estão fartos desde há muitos anos do faz de conta”.  

O mesmo diz a professora de Português-Francês no Agrupamento de Escolas de Azeitão, Celeste Oliveira. “Não me sinto representada e só sou sindicalizada porque preciso de ter alguma retaguarda. Já me senti traída em várias ocasiões”, porque “as soluções acabam por nunca ser as melhores”.  

 Além disso, outros professores ouvidos pelo i, salientam que as soluções que resultaram da reunião vêm “adiar” a tomada de decisões do governo e dos sindicatos por jogadas políticas. 

“Há sindicatos com ligações a partidos que ou estão no governo ou estão a apoiar o governo e em vias de negociar o orçamento para o próximo ano. Há muitos interesses nos bastidores que se elevam e não há defesa da nossa classe”, lamenta Maurício Brito.

“Os sindicatos são sempre brandos e penso que há jogos políticos”, acrescenta Celeste Oliveira. 

O que dizem os sindicatos  Perante as críticas dos professores no rescaldo da reunião, o dirigente da Fenprof, Luís Lobo, disse ao i que os sindicatos “também não estão muito contentes”, estão apenas “razoavelmente contentes” face àquilo que era a situação anterior. Ou seja, com as negociações suspensas sendo que o único cenário em cima da mesa do governo seria considerar apenas dois anos, nove meses e 18 dias – 30% do total de tempo de serviço que os professores viram o seu tempo de serviço congelado (nove anos, quatro meses e dois dias).  

“A luta tem que se continuar a fazer” e estas negociações “não vão ser uma coisa rápida”, disse Luís Lobo, sublinhando que “a solução não é imediata” e que os professores vão ter de “ser insistentes ao longo dos próximos tempos para que o governo vá ao encontro das posições” que têm sido defendidas pela plataforma sindical. O dirigente da Fenprof garante ainda aos docentes que os sindicatos “não vão abdicar de nenhum dia dos nove anos, quatro meses e dois dias”. 

Já o secretário-geral da FNE, João Dias da Silva, reconhece que “alguns professores não estão contentes”: “Temos consciência que têm manifestado essas opiniões”. Mas o dirigente do sindicato não deixa de lembrar que “por causa de toda a luta que os professores fizeram o ministério saiu da posição que assumiu em junho”. Dias da Silva olha ainda para a criação da comissão técnica como uma oportunidade para se sentarem à mesa com o governo e apurarem as contas que agora considera estarem inflacionadas. 

De acordo com as contas apresentadas pelo governo diversas vezes, contabilizar todo o tempo de serviço congelado implicaria uma despesa de 600 milhões de euros. Os sindicatos têm falado em cerca de metade desse valor, entre os 250 milhões e os 300 milhões.