A ideia de que não existe racismo em Portugal é um dos maiores mitos que persiste no nosso imaginário democrático. Aliás, o facto de não existirem forças políticas (relevantes) que sejam assumidamente xenófobas em nada evidencia que não exista um preconceito latente nas atitudes de muitos dos nossos cidadãos. Não é preciso um (ou uma) Le Pen em Portugal para que tenhamos uma população tão ou mais preconceituosa do que os eleitores da Frente Nacional francesa.
O caso da rapariga colombiana brutalmente agredida nas festas populares do Porto é apenas mais um sinal de que ainda existe um longo caminho a percorrer. A este episódio podemos somar muitos outros relatos como, por exemplo, as abordagens que os seguranças noturnos têm nas portas das discotecas em Lisboa e também um pouco por todo o país, mas também muitas outras atitudes que todos já testemunhámos no nosso dia- -a-dia.
Parece uma ideia feita, mas o caminho só se pode fazer pela educação. Não basta explicar nas escolas que a cor da pele nada diz sobre as pessoas – é preciso ir bem mais longe, é preciso construir uma verdadeira política de integração e de fomento da diversidade na sociedade portuguesa.
Por falarmos em política, olhando para a nossa Assembleia da República: quantos não caucasianos temos sentados nas nossas bancadas parlamentares? A mudança não deveria começar por aqui? O que é que os partidos, à esquerda e à direita, estão a fazer para mudar este cenário? Nada, ou pelo menos muito pouco.
Em suma, é preciso punir quem prevarica, é preciso educar de forma mais consistente, mas acima de tudo é preciso que os partidos políticos tenham a coragem e a coerência de darem o sinal de que a sociedade pode mudar e ser mais inclusiva. Não basta legislar, é preciso agir. Haverá coragem política para isto?
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