Santo António. O novo perfume das festas populares nasce em Marvila

Santo António. O novo perfume das festas populares nasce em Marvila


Os grupos que desfilam na Avenida da Liberdade preparam-se com vários meses de antecedência para a grande noite de Santo António. O i acompanhou um dos ensaios da marcha de Marvila, o bairro onde fica a redação Conheça a letra da música que vai acompanhar a marcha


Maria Santos tem 54 anos e nasceu em Marvila. Por lá permanece até hoje e tem muito orgulho no seu bairro. Em 1980 entrou na marcha e desde então nunca mais a largou, também pelo espírito bairrista. “Há muitas pessoas novas que entraram por causa do namorado ou de um amigo”, mas “acabam por se afeiçoar e ficam”, confessa.

Para a marchante mais antiga do grupo, explicar a importância de todo este espetáculo é fácil: orgulho e vaidade é o que sente ao descer a Avenida da Liberdade. Ainda assim, Maria preferia como as coisas eram antigamente. “Primeiro íamos à avenida e depois ao pavilhão.” Aliás, brinca, “costumava dizer que a avenida era a nossa cédula pessoal, onde tínhamos só o nome e o nascimento. Depois, no pavilhão, apresentávamos tudo aquilo que tínhamos e era o nosso B.I”. Hoje, as marchas desfilam primeiro no Altice Arena e só depois são postas à prova no coração da cidade.

Telmo Cardoso é o concorrente mais novo. Tem 13 anos e participa na marcha Marvila Kids desde que se lembra. Começou como mascote e passou para marchante logo depois. É filho do coordenador e o resto da família também está presente na marcha. Este é o primeiro ano que Telmo vai desfilar na Avenida da Liberdade e assegura conhecer a importância de marchar em frente às centenas de espetadores.

O tema da marcha é sempre o mais importante. Só quando está decidido é que se pode começar a trabalhar na coreografia, nos adereços, nas roupas e na letra da música. Os marvilenses garantem que as propostas passam sempre pela presidência da coletividade, mas qualquer pessoa pode apresentar um tema. Este ano, a escolha foi o perfume de Santo António, que não tem segredo para quem é um habitué das festas. A letra diz tudo: manjerico, hortelã e sardinhas são alguns dos aromas incontornáveis da rainha das festas de Lisboa.

Este ano, Marvila contou com mulheres de sobra para duas edições. Mas os homens também comparecem à chamada e alguns também ficaram de fora. Marco Cardoso, coordenador da marcha, explica que as inscrições arrancam no início do ano. Qualquer pessoa pode participar, mas existem requisitos: é necessário carisma popular e gostar dos arraiais de Santo António. Quando há muitas inscrições, os ensaiadores têm de fazer um casting para escolher quem tem mais jeito para a dança.

Mariana Luís e Pedro Borralho, ambos bailarinos, são os ensaiadores deste ano. No total são feitos seis ensaios para a Avenida da Liberdade. Assim têm tempo de fazer uma mudança das coreografias do pavilhão, que recebeu as marchas no início do mês.

A única queixa dos profissionais da dança é a falta de rigor. Reconhecem, no entanto, que não podem exigir demasiado de pessoas amadoras e, neste caso específico, a paixão acaba por ajudar a superar todos os problemas. Pedro Borralho chega mesmo a dizer que muitas vezes aprendem muito com todos eles.

O bairro está na moda, mas não têm conseguido descolar na tabela dos resultados, o que não deixa ninguém contente no coletivo de Marvila. Em 2017 ficaram em 15.o lugar, em 2016 em 9.o e em 2015 também ocupou a 9.a posição. “Por vezes gostava que o júri me explicasse a mim qual é o conceito que eles têm para votarem numa marcha que tem de tudo menos popular”, contesta Maria Santos, lamentando que nos últimos anos se aposte mais em espetáculo e não em manter as tradições bairristas.

O conceito perde-se, completa o coordenador da marcha. “Podemos ter o melhor trabalho do mundo, mas se o júri não quiser…”

O desfile das marchas populares acontece esta terça-feira, 12 de junho, às 21h, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, e prolonga-se até à meia-noite.

*Editado por Marta F. Reis