Crónica dos dias do fim da festa


Três anos e meio depois de um processo de sucessivas reposições e conquistas alavancadas num ciclo de recuperação para o qual este governo nada havia feito, mas faça-se-lhe a justiça de também não o ter destruído, parece pela primeira vez que o governo terá tomado consciência pública da fungibilidade dos seus recursos


Ainda que empiricamente se possa sempre chegar a tal conclusão como uma evidência praticamente incontornável, o país, apesar de tudo sem qualquer relevante sobressalto, parece estar a acordar para a estafada realidade que Margaret Thatcher imortalizou na famosa frase “The problem with socialism is that you eventually run out of other people’s money”.

Ou seja, em tradução livre, o problema do socialismo é que um dia acaba o dinheiro dos outros.

Três anos e meio depois de um processo de sucessivas reposições e conquistas alavancadas num ciclo de recuperação para o qual este governo nada havia feito, mas faça-se-lhe a justiça de também não o ter destruído, parece pela primeira vez que o governo terá tomado consciência pública da fungibilidade dos seus recursos.
Numa fase em que à carestia do petróleo se alia ao confisco através do ISP e as taxas de juro ameaçam a sua subida com prometido afastamento progressivo das políticas Draghi, ao mesmo tempo que o crescimento da economia definha e se afasta da média europeia, a folga orçamental, mesmo perante a maior carga fiscal per capita de sempre, caminha para ser nenhuma.

É neste quadro que os sindicalistas pretendem ter, em cinco anos segundo dizem, a reposição das suas carreiras retributivas, congeladas na sequência dos exercícios orçamentais sucessivos que nos levaram inexorável e previsivelmente para mais uma bancarrota do Estado.

Se uma pessoa quiser alinhar a sua opinião pelo mesmo exacto diapasão do governo – numa das suas dúplices versões em que uma é aquela em que o PS o PCP e o BE são os responsáveis (até à publicação das estatísticas do EUROSTAT) pelo menor défice de sempre, o fim da austeridade e a reposição dos rendimentos, e mais umas quantas meias-verdades e três quartos de mentira que convêm a um governo de esquerda que apresenta resultados de austeridade neoliberal; e a outra é aquela em que, curiosamente, o PCP e o BE, que aprovam os respectivos Orçamentos do Estado, fingem indignar-se com a falta de dinheiro que os Orçamentos já não previam para satisfação, normalmente no universo único da função pública, das suas clientelas –, é evidente que os sindicatos não podem aceitar que assim seja, atentos os três anos e meio de que vimos.

Poder-se-á referir que idealmente, como é intuitivo, toda a gente estará de acordo que todos os ordenados devem subir, as horas de trabalho devem diminuir e as receitas do Estado devem ser infinitas, mas sem pesar nos impostos, e que a invocação da falta de dinheiro para pagar salários é um roubo aos trabalhadores, e mais alguns chavões quejandos. A verdade, porém, é que, como na vida das pessoas normais, no fim da festa, alguém tem de pagá-la. 

À beira das eleições, perante as previsões eleitorais a esta data e lendo os resultados das autárquicas, PCP e BE, sem terem mais legitimidade hoje do que ontem, estão a acordar do pesadelo e da mordaça que Costa lhes vendeu e Centeno lhes entregou com um laço, e vêm manifestando sintomas agudos de uma prolongada síndrome de abstinência despesista, demagógica e populista feita sem as constrições do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
E a ideia finalmente verbalizada de que não existe mais dinheiro para esta e outras festas agudizou-lhes, gravemente, esta sintomatologia.

Nomeadamente, perante esta realidade que António Costa admitiu no parlamento ao referir que não tem 600 milhões de euros para pagar aos professores, tornou visíveis imediatas e importantes mudanças na composição dos responsáveis pela governação e na coesão da geringonça.

Desde logo, o até agora responsável pela educação, Mário Nogueira, alarmado pelo rumo neoliberal e austeritário que o (seu) governo está condenado a seguir, decidiu abandonar as suas importantes funções de eminência parda dos destinos da educação e de ministro de facto dos assuntos dos professores e nenhum dos alunos para voltar a vestir, enferrujado, sem vontade e sem jeito, a sua antiga função de sindicalista.

A forma como o antes arrogante e prepotente sindicalista parece uma sombra de si mesmo quando explica que o (seu) governo está a agir de má fé e de forma irrazoável nas negociações, tudo sem recorrer à histórica adjectivação dos fascistas, antidemocratas e quejandos e prometendo acção contra a reacção, causa sensações estranhas e induzem aquela afeição envergonhada e penitente que se sente quando se vê a alma de um homem morrer.

Aproximam-se os dias do fim da festa e do défice zero! Para quem não percebeu, são estes os tais sintomas-tipo do fim de um certo socialismo quando se está à beira do fim do tal dinheiro!
 
Advogado na norma8advogados
pf@norma8.pt 
Escreve à quinta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990


Crónica dos dias do fim da festa


Três anos e meio depois de um processo de sucessivas reposições e conquistas alavancadas num ciclo de recuperação para o qual este governo nada havia feito, mas faça-se-lhe a justiça de também não o ter destruído, parece pela primeira vez que o governo terá tomado consciência pública da fungibilidade dos seus recursos


Ainda que empiricamente se possa sempre chegar a tal conclusão como uma evidência praticamente incontornável, o país, apesar de tudo sem qualquer relevante sobressalto, parece estar a acordar para a estafada realidade que Margaret Thatcher imortalizou na famosa frase “The problem with socialism is that you eventually run out of other people’s money”.

Ou seja, em tradução livre, o problema do socialismo é que um dia acaba o dinheiro dos outros.

Três anos e meio depois de um processo de sucessivas reposições e conquistas alavancadas num ciclo de recuperação para o qual este governo nada havia feito, mas faça-se-lhe a justiça de também não o ter destruído, parece pela primeira vez que o governo terá tomado consciência pública da fungibilidade dos seus recursos.
Numa fase em que à carestia do petróleo se alia ao confisco através do ISP e as taxas de juro ameaçam a sua subida com prometido afastamento progressivo das políticas Draghi, ao mesmo tempo que o crescimento da economia definha e se afasta da média europeia, a folga orçamental, mesmo perante a maior carga fiscal per capita de sempre, caminha para ser nenhuma.

É neste quadro que os sindicalistas pretendem ter, em cinco anos segundo dizem, a reposição das suas carreiras retributivas, congeladas na sequência dos exercícios orçamentais sucessivos que nos levaram inexorável e previsivelmente para mais uma bancarrota do Estado.

Se uma pessoa quiser alinhar a sua opinião pelo mesmo exacto diapasão do governo – numa das suas dúplices versões em que uma é aquela em que o PS o PCP e o BE são os responsáveis (até à publicação das estatísticas do EUROSTAT) pelo menor défice de sempre, o fim da austeridade e a reposição dos rendimentos, e mais umas quantas meias-verdades e três quartos de mentira que convêm a um governo de esquerda que apresenta resultados de austeridade neoliberal; e a outra é aquela em que, curiosamente, o PCP e o BE, que aprovam os respectivos Orçamentos do Estado, fingem indignar-se com a falta de dinheiro que os Orçamentos já não previam para satisfação, normalmente no universo único da função pública, das suas clientelas –, é evidente que os sindicatos não podem aceitar que assim seja, atentos os três anos e meio de que vimos.

Poder-se-á referir que idealmente, como é intuitivo, toda a gente estará de acordo que todos os ordenados devem subir, as horas de trabalho devem diminuir e as receitas do Estado devem ser infinitas, mas sem pesar nos impostos, e que a invocação da falta de dinheiro para pagar salários é um roubo aos trabalhadores, e mais alguns chavões quejandos. A verdade, porém, é que, como na vida das pessoas normais, no fim da festa, alguém tem de pagá-la. 

À beira das eleições, perante as previsões eleitorais a esta data e lendo os resultados das autárquicas, PCP e BE, sem terem mais legitimidade hoje do que ontem, estão a acordar do pesadelo e da mordaça que Costa lhes vendeu e Centeno lhes entregou com um laço, e vêm manifestando sintomas agudos de uma prolongada síndrome de abstinência despesista, demagógica e populista feita sem as constrições do Pacto de Estabilidade e Crescimento.
E a ideia finalmente verbalizada de que não existe mais dinheiro para esta e outras festas agudizou-lhes, gravemente, esta sintomatologia.

Nomeadamente, perante esta realidade que António Costa admitiu no parlamento ao referir que não tem 600 milhões de euros para pagar aos professores, tornou visíveis imediatas e importantes mudanças na composição dos responsáveis pela governação e na coesão da geringonça.

Desde logo, o até agora responsável pela educação, Mário Nogueira, alarmado pelo rumo neoliberal e austeritário que o (seu) governo está condenado a seguir, decidiu abandonar as suas importantes funções de eminência parda dos destinos da educação e de ministro de facto dos assuntos dos professores e nenhum dos alunos para voltar a vestir, enferrujado, sem vontade e sem jeito, a sua antiga função de sindicalista.

A forma como o antes arrogante e prepotente sindicalista parece uma sombra de si mesmo quando explica que o (seu) governo está a agir de má fé e de forma irrazoável nas negociações, tudo sem recorrer à histórica adjectivação dos fascistas, antidemocratas e quejandos e prometendo acção contra a reacção, causa sensações estranhas e induzem aquela afeição envergonhada e penitente que se sente quando se vê a alma de um homem morrer.

Aproximam-se os dias do fim da festa e do défice zero! Para quem não percebeu, são estes os tais sintomas-tipo do fim de um certo socialismo quando se está à beira do fim do tal dinheiro!
 
Advogado na norma8advogados
pf@norma8.pt 
Escreve à quinta-feira, sem adopção das regras do acordo ortográfico de 1990