Passou um ano sobre a morte do jornalista e escritor Baptista-Bastos.
Fui daqueles que tiveram a sorte de o conhecer, embora não fosse seu amigo íntimo. Baptista-Bastos, o BB, era uma constante fonte de ensinamentos para todos os que abraçaram a sua profissão: o jornalismo.
Bastava lê-lo. Bastava ouvi-lo.
Numa época em que o jornalismo vive uma das suas maiores crises, vale a pena recordar alguns dos escritos que nos deixou.
No seu livro “Capitão de Médio Curso”, escrito em 1978 e que ele próprio definiu como “ensaio de autobiografia”, escreveu:
“O relato do que se passa no comportamento dos homens encontramo-lo todos os dias, em todos os jornais: na crónica do crime, nos telexes do estrangeiro, na política nacional, na reportagem desportiva, cada repórter, com a sua verdade e com o grande propósito de ser eficiente em a transmitir – em colocar um anónimo tijolo na casa que se vai erguendo. Mais do que uma instituição pública, o jornal é uma declaração de amor, um momento, e a sua arte reside justamente na virtude de chegar na hora, na criação do contraponto entre o que permanece e o que vai acontecendo.”
Que melhor forma de definir o produto desta profissão/arte?
Mais à frente, atira frontalmente:
“Sendo ato, sonho, declaração de amor, o jornal é também uma ciência – eis porque os tiranos temem o prestígio do jornal que vê claro e escreve vivo: a felicidade apoia-se na verdade, a ilusão assenta na mentira”.
Para repórter, encontrou esta definição simples e exata:
“Repórter é uma espécie de vou ali já venho, e, em vez de se perder em discursos, ele tem de invocar a evidência dos factos.”
O BB soube “escreviver” e também “vivelhecer”. E conseguiu manter sempre o seu nome asseado, até porque, como ele próprio afirmou, “nem todos os rostos são máscaras”.
A um dos seus livros, onde reúne algumas das suas reportagens e que é um verdadeiro manual de jornalismo, deu o título
“As Palavras dos Outros”.
Hoje, utilizei as palavras dele para fazer esta crónica, onde lhe agradeço as lições que recebi.
Jornalista