Desde os tempos de Cavaco Silva como primeiro-ministro foi-se construindo a ideia que os titulares de cargos políticos eram mal remunerados. Esta ideia desenvolveu-se em concomitância com a glorificação do sector privado e empresarial sendo comum atribuir-se aos seus mais altos quadros um valor de excelência e brilhantismo proporcional à posição que ocupavam. Como se o tecido empresarial português fosse um território altamente qualificado, transparente e alheio a cunhas ou compadrios, assumiu-se que, de uma forma genérica, a progressão numa empresa era um processo feito exclusivamente de méritos e competências, sendo os seus dirigentes os melhores e mais qualificados dos seus trabalhadores.
Aos que se “desviavam” do seu percurso no sector privado assumindo lugares na governação do país devíamos estar agradecidos. Fá-lo-iam por altruísmo e filantropia. Como se o percurso de muitas das grandes empresas em Portugal não dependesse de ganhar vantagens junto da administração pública e a porta-giratória entre administradores e governantes não fosse central para a sua actividade.
E assim chegamos a Manuel Pinho ex-ministro da Economia do governo de José Sócrates. Alto quadro do BES, de competências e qualidades desconhecidas. Hoje desconfia-se que acumulou o salário de ministro com um salário milionário de empregado de Ricardo Salgado. Que, segundo o Expresso, “apoiou” o BES em 2,1 mil milhões. Que foi dar uns cursos sobre banalidades na Universidade de Columbia, a pedido e pago pela EDP. Pinho é um exemplo maior de despolitização (podia ser ministro do PS, PSD ou CDS) e do entendimento que a governação de um país se limita a gerir interesses. Pela pesporrência com que quis assumir o seu poder no espaço público ficou mais exposto ao ridículo do que outros, ainda que não seja o único nem o último exemplo.
Não se pretende com este raciocínio defender uma carreira exclusiva para cargos políticos, que comece nas jotas para chegar ao ministério. Também não se pretende defender a exclusão de trabalhadores do sector privado de funções governativas.
O que me parece fulcral é defender a política e decisores políticos que façam as suas escolhas a partir de princípios ideológicos, que também são morais e éticos, e não por proximidades corporativas ou de interesses.