Muitas vezes, nesta coluna, gritei que menos Estado é (quase sempre) melhor Estado. Não mudo uma única vírgula a esse discurso, mas confesso que hoje é o dia em que todos deveríamos gritar bem alto por um maior e melhor Estado.
Parece uma incongruência? Então passo a explicar: eu não gosto de ter um Estado penalizador da iniciativa privada, castrador do rendimento das famílias e prossecutor do mérito individual. Por isso mesmo, acho que o Estado devia diminuir drasticamente os impostos e retirar-se lentamente da vida dos seus cidadãos. Era um favor que nos fazia a todos.
Por outro lado, já que vivemos num país em que todos os dias somos perseguidos por taxas e taxinhas, impostos e contribuiçõezinhas, acho que todos temos o direito de exigir um melhor serviço público naquilo que o Estado nos promete oferecer de borla, em troca dos nossos impostos.
A notícia sobre as crianças que recebem quimioterapia nos corredores dos hospitais é apenas a gota de água. Como é possível, em pleno séc. xxi, continuarmos a usufruir de um serviço público de saúde degradado e disfuncional?
Mas poderia ir mais longe: como é possível continuarmos a viver no país das férias judiciais, ao mesmo tempo que o atraso na justiça continua a prevalecer sobre o bom senso? Ou, se quisermos falar de outra área, como é possível que na educação continuemos a maltratar professores e a brincar com a sua vida aquando das novas colocações? Ou, ainda – talvez um dos casos mais graves –, como é possível termos um serviço de Finanças autoritário, persecutório e que trata os seus clientes (contribuintes) de forma absolutamente abjeta?
Esta não é uma questão de esquerda ou de direita. É uma questão de decência. Se querem ir-nos ao bolso e dizerem-nos que somos quase nórdicos, então exijo ser tratado como um verdadeiro escandinavo. Se me querem obrigar a pagar por aquilo que não recebo em troca, ao menos que finjam que me estão a dar em troca qualquer coisa pela qual devia orgulhar- -me do meu país.
Ser um liberal de direita em Portugal é quase um sinónimo de ser pessimista. Na verdade, não acho que alguma coisa vá mudar. Nem nas finanças, nem na saúde, nem na educação. Continuaremos a ter governos, seja qual for a cor, a governar ao som dos sindicatos, dos lóbis e dos interesses instalados. Enquanto isso, eu e você (contribuinte) continuaremos a ser os bobos da corte que tudo pagam sem nada pedir em troca. Um dia, se calhar, ainda pode ser que nos tornemos escandinavos.
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