Uma das maiores dificuldades da prática profissional de arquitetura é conseguir explicar a necessidade da sua universalização de uma forma tangível. Se é certo que estrutura/construção ou função/programa/legislação poderão ser matérias mais ou menos objetivas, elas não chegam para que se possa declarar a existência de arquitetura. Entenda-se, desde já, que isto não quer dizer que alinhe pelas explicações que a identificam com uma arte maior sujeita ao livre-arbítrio de um demiurgo autor ou as que se encerram num discurso hermético, reservando para as elites a sua prática e entendimento.
A arquitetura é aquilo que faz com que vivamos bem ou mal num espaço, independentemente da qualidade da sua construção ou do cumprimento das regras legisladas. É a disciplina que nos permite estabelecer um sistema de relações entre todos os elementos construídos e o seu contexto, melhorando-os e racionalizando-os, e uma ferramenta de análise da realidade e da sua transformação. São-lhe alheios processos de construção que não acrescentam qualidade ao território, que não tomam como centro o interesse público ou comum e preconceitos que lhe imputam sobrecustos.
Se nem todos os projetos de arquitetura realizados por arquitetos conseguem produzir arquitetura, a probabilidade de isso acontecer com projetos de arquitetura produzidos por não arquitetos é ínfima. Admito que a produção de arquitetura possa ser realizada por autodidatas ou curiosos, mas somente na fase de construção de um espaço próprio – pela experimentação física, e não pela via da projetação. Ainda assim, entendo que a autoconstrução deve ser sempre acompanhada por técnicos que colocarão o seu conhecimento ao dispor dos autoconstrutores, de modo a ultrapassar diversos obstáculos que outros já ultrapassaram.
A arquitetura é uma disciplina que nos permite interpretar e transformar o mundo, pelo que o direito à arquitetura deve fazer parte de qualquer projeto político progressista e emancipador.
Escreve à segunda-feira