A polémica que gerou a ida de Pedro Passos Coelho para docente do ISCSP, na condição de Professor Catedrático Convidado, é bem demonstrativa da saloiice que impera na sociedade portuguesa. Por outras palavras, só uma pessoa destituída do mais elementar bom-senso, ou movida da mais execrável má-fé, é que pode ser contra que uma universidade pública contrate para os seus quadros um ex-primeiro-ministro para lecionar em cursos de administração pública.
O argumento de que Passos Coelho é apenas licenciado não só é parolo, como é revelador do estado empoeirado, bafiento e de irrelevância social que abunda na esmagadora maioria das instituições de ensino superior portuguesas. Ou seja, por outras palavras, achar que alguém deve ser professor por ter um Doutoramento e não pelo seu percurso e conquistas profissionais, apenas contribui para termos universidades cada vez mais desatualizadas, teóricas, desligadas do mercado trabalho e que só existem para alimentar uma clientela de professores de carreira.
Obviamente, não quero com isto dizer que não devam existir docentes de carreira. Claro que devem existir, mas, ao contrário do que acontece, essa deveria ser a exceção e não a regra. Portugal precisa de estudantes do ensino superior melhor preparados na sua área de estudo e, principalmente, melhor preparados para enfrentarem o mercado de trabalho.
Para que isso seja possível, só há uma solução: as faculdades têm que colocar a dar aulas não os académicos mais encartados, mas antes os profissionais melhor sucedidos nas áreas que vão lecionar.
Achar que Passos Coelho não pode ser professor é exatamente o mesmo que achar que Steve Jobs, se fosse vivo, também não poderia dar aulas, porque pese embora tenha reinventado o mundo da informática, da distribuição de música e das telecomunicações, nunca acabou a sua licenciatura. Isto faz sentido na cabeça de alguém? Será que Bill Gates, Michael Dell e Mark Zuckerberg também não dariam excelentes professores, só porque nunca tiraram uma licenciatura?
Esta polémica em torno do ex-primeiro-ministro é obviamente ridícula e claramente orquestrada por uma certa esquerda clientelista do Estado e que sobrevive graças ao dinheiro dos nossos impostos, que deveria ser dado às faculdades para formar jovens profissionais de excelência, mas que em vez disso é usado para sustentar egos e carreiras académicas. No entanto, esta polémica deveria servir, no mínimo, para abrir o debate na sociedade portuguesa sobre se queremos continuar a ter universidades fechadas à sociedade, desatualizadas e absolutamente desapegadas da vida profissional.
Eu claramente não quero.
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