Tenho estima por Jorge Jesus, mas isso não me diminui o espírito crítico. Quem escreve tem de ter uma relação séria com os leitores, e isso implica dizer o que pensa. E o que penso é que o Sporting devia estar a jogar muito mais do que joga.
Uma equipa que tem Rui Patrício, Mathieu, Coates, Coentrão, William Carvalho, Bruno Fernandes, Gelson Martins, Bas Dost, Acuña devia fazer melhores exibições e conseguir melhores resultados. Jesus alega falta de tempo para treinar, pelo facto de a equipa estar envolvida no campeonato e na Liga Europa, jogando de três em três dias. Mas recordo que há dois anos o Benfica também esteve envolvido em todas as competições até muito tarde e foi campeão. Com a agravante de a competição internacional ser a Champions, que é mais exigente do que a Liga Europa, só sendo eliminado pelo Bayern de Munique (em jogos equilibrados). E lembro-me que Rui Vitória fazia alinhar sempre os mesmos jogadores e não houve queixas de cansaço.
Além disso, o Sporting, que já foi a equipa que praticou melhor futebol, hoje está muito longe de o ser. Quer o Porto quer o Benfica jogam melhor do que o Sporting, criam mais oportunidades, marcam mais golos. Jesus defende-se dizendo que tem de jogar “à italiana” por causa do tal excesso de jogos. Mas as equipas de outros países que estão nas provas europeias não mudam o seu padrão de jogo…
Quando Jorge Jesus chegou ao Benfica, há nove anos, disse que ia pôr os jogadores “a jogar o dobro” – e cumpriu. A equipa não parecia a mesma que fora treinada na época anterior por Quique Flores. Foi logo campeã nesse ano, jogava um futebol eletrizante, intenso, espetacular, dava goleadas atrás de goleadas.
E quando chegou ao Sporting, Jesus esteve quase a fazer o mesmo: só por uma unha negra não foi campeão. O Benfica foi muito feliz na forma como ganhou alguns jogos e o Sporting foi muito infeliz no modo como perdeu alguns pontos.
Mas hoje tudo mudou. O Sporting, com melhores jogadores do que nessa altura, pratica um futebol previsível, sem chama, sem intensidade, criando poucas oportunidades. Mesmo contra os pequenos, tem muita dificuldade em ganhar. Perdeu cinco pontos contra o Setúbal e o Estoril, dois dos últimos classificados, e só não perdeu mais dois em Tondela porque o árbitro não quis. Seriam sete pontos perdidos em três jogos fora, consecutivos! Assim nenhuma equipa pode ser campeã.
Caso inverso é o de Sérgio Conceição. O FC Porto está a jogar o dobro do que jogava há um ano. Por isso, Conceição é, de certa forma, “o novo Jorge Jesus”. Enquanto este parece ter-se cansado de jogar bem e ganhar, Sérgio Conceição veio substituí-lo na garra que transmite à equipa e a leva a superar-se. O Porto não tem muito melhores jogadores do que o Sporting – mas joga muito melhor. A sua dinâmica coletiva é muitíssimo superior. E isso deve-se ao trabalho do treinador.