A Florida registou há poucos dias mais um massacre num liceu em que as vítimas foram chacinadas indiscriminadamente! Sem critério (se é que pode haver um), o atirador, fortemente armado, irrompeu pelo liceu de Marjory Stoneman Douglas e ceifou 17 vidas.
A SIC fez uma peça jornalística primorosa, alternando as declarações de Trump com as de Obama quando este último se dirigia ao país após o massacre no colégio da cidade de Newtown, no estado do Connecticut (há seis anos atrás), em que morreram 20 crianças e seis adultos.
Trump: nem uma palavra sobre a política de acesso a armas. Obama declara guerra à falta de regulação e controlo nesta área.
Para lá do conteúdo, a diferença entre a insensibilidade e a humanidade das intervenções é chocante, e as ações de Trump pós-declarações são deprimentes.
Depois do massacre de Newtown, Obama tentou fazer passar no Congresso diversa legislação que permitisse controlar o acesso a armas de fogo nos EUA, enfrentando o mais poderoso lóbi norte-americano. Trump: nem uma palavra contra os que lhe financiaram, em grande parte, a campanha. Veio depois atirar as culpas ao FBI, por não ter investigado alegadas denúncias sobre o autor do massacre. E há apenas dois dias veio informar que serão tomadas medidas restritivas da compra de acessórios que permitam transformar armas “normais” em armas de disparo contínuo.
É um autêntico circo!
Erradicar o acesso a armas de fogo nos EUA é, no mínimo, utópico, nunca vai acontecer! É impossível eliminar séculos de tradição que estão fortemente enraizados na sociedade americana. Assim como é difícil contornar um dos maiores lóbis. Os EUA nascem com os pilgrims de arma em punho desbravando o Oeste selvagem. O americano nasce com uma arma na mão, sente-se protegido com ela e faz parte da sua cultura.
O problema não está no acesso às armas, independentemente de se ser a favor ou não da existência das mesmas. O problema está no livre e desregulado acesso às mesmas.
Não é aceitável que se possa comprar livremente e sem qualquer controlo o número de armas que se quiser – é o que acontece em alguns Estados.
Numa das diversas homenagens que se seguiram ao massacre da Flórida, Emma Gonzalez (ironicamente uma cidadã de origem latina) finalista do liceu de Stoneman Douglas, faz um discurso digno de registo. Afiado e dirigido, não apenas ao Presidente Trump, mas a todos aqueles que se opõem ao controlo de acesso a armamento nos EUA. Naturalmente as críticas mais ferozes foram para Trump, acusando-o de passividade e amarrado ao apoio de 11.4 milhões de dólares que recebeu da National Rifle Association.
O assunto volta a reacender-se, mas não acredito que se encontrem soluções a curto prazo. Obama bem tentou, mas o establishment é inamovível, pelo menos para já. Infelizmente terão que voltar a acontecer mais massacres e tragédias para que, um dia, quem sabe, haver mudanças.
Por cá é bom que se tenha atenção a este tema que, para já, ainda não é um tema e as escaramuças que vamos tendo ainda são só com armas brancas. Mas já anda demasiada gente armada com armas de fogo por aí e se as autoridades não estiverem atentas temo que, a curto prazo, tenhamos um episódio semelhante.
Escreve à quinta-feira