Numa semana em que o FC Porto baqueou estrondosamente perante o Liverpool e o Sporting fez a sua obrigação no Cazaquistão – embora as “obrigações” no futebol nem sempre se cumpram –, estranhar-se-á que fale do Benfica e de Rui Vitória.
Mas é exatamente por isso: do Porto e do Sporting tem-se falado muito, do Benfica não se tem falado quase nada. Mas merece. É certo que fez uma campanha europeia miserável e nas provas internas também não foi brilhante. Mas a partir do momento em que ficou com o campeonato como único objetivo, o Benfica agarrou-se a ele e não mais o largou. Esteve várias vezes à beira do precipício – uma derrota nalguns jogos tê-lo-ia afastado irremediavelmente do título –, mas conseguiu sempre salvar-se.
É necessário dizer que, desde a entrada de Rui Vitória no Benfica, há duas épocas e meia, a equipa tem sido dada várias vezes como “morta”, mas nunca desistiu e acabou por ressuscitar. Perseguida pelo infortúnio de lesões graves de jogadores “insubstituíveis”, teve artes de ultrapassar os problemas e inventar soluções que funcionaram. E isso deve-se certamente à célebre “estrutura” do Benfica, muito competente e muito profissional. Mas deve- -se sobretudo a Rui Vitória.
Geralmente tido como um treinador competente mas pouco criativo, Vitória inventou Zivkovic como substituto de Krovinovic, surpreendendo tudo e todos. E tirou da cartola Rúben Dias, quando Luisão se lesionou e parecia não haver mais centrais, pois Jardel também estava impedido. E, em épocas anteriores, lançou um Renato Sanches que ninguém conhecia, fazendo dele o motor que conduziu o Benfica para um título. E chegou a ter os três avançados lesionados (Jonas, Mitroglou e Jiménez), não deixando por isso de marcar golos e ganhar jogos.
Fala-se muito em Sérgio Conceição, fala-se muito em Jorge Jesus, mas fala-se muito pouco em Rui Vitória. E não é justo. Ao longo dos últimos dois anos e meio, Vitória tem sido um referencial de estabilidade, de serenidade, mas também de capacidade para encontrar soluções e superar obstáculos. Sem um queixume, sem lamentações, com um invejável fair play.
E esta “resistência” de Rui Vitória, que nos momentos decisivos do campeonato tem vindo ao de cima, é talvez o fator mais determinante para o Benfica ser hoje considerado como um sério candidato ao título. Todos já sabem que, por muitos problemas que a equipa tenha, não desiste da luta, resiste à adversidade – e isso acaba por atemorizar os rivais.
Rivais que estão hoje fragilizados por razões diferentes: o Porto, pela tremenda derrota perante o Liverpool; o Sporting, pela perda sucessiva de cinco pontos perante dois dos últimos classificados: Estoril e Setúbal.